A fúria do <I>Estadão</I> contra Chávez
- Opinión
Conhecido por suas posições conservadoras explícitas, sem papas na língua ou falsos ecletismos, o jornal O Estado de S.Paulo revelou na semana passada o que está por traz das recentes intrigas contra o governo de Hugo Chávez. Num editorial raivoso, o jornalão da famiglia Mesquita defendeu enfaticamente que o Senado brasileiro rejeite o ingresso da Venezuela no Mercosul. O motivo não seria o “exagero retórico” do líder bolivariano contra os “papagaios do imperialismo” incrustados nesta casa legislativa e nem o seu “ultimato” para aprovação da entrada do país vizinho no bloco regional. A razão é eminentemente política e estratégica – o que só os ingênuos e os mal-intencionados insistem em não enxergar.
Para o jornalão, o episódio serve de lição para o presidente Lula, que estaria agindo com complacência diante dos países rebeldes da região – leia-se Venezuela e Bolívia. “Houve época em que o coronel [a famiglia Mesquita, a exemplo da mídia golpista venezuelana, não trata Hugo Chávez como presidente democraticamente eleito] respeitava o Brasil e os seus governantes. Era visível, por exemplo, o respeito reverencial que tinha pelo presidente Fernand Henrique, que mais de uma vez teve de colocar Chávez na linha. Mas com o presidente Lula o relacionamento mudou. Julgando que tinha encontrado um aliado, com identidade de propósitos e idéias, Lula cedeu a praticamente todas as exigências de Chávez”.
A exemplo da colunista Miriam Leitão, da TV Globo, que pregou o rompimento de relações diplomáticas com a Bolívia e o envio de tropas para a fronteira com este país quando da desapropriação das refinarias da Petrobras, o Estadão exige agora o endurecimento do governo Lula diante do “caudilho Chávez” . Ele seria a personificação do “eixo do mal” de Bush e um estorvo às relações mercantis do Mercosul, já que insiste em “fazer o seu monótono comício contra Washington, a União Européia e o capitalismo”, tem “a atenção cativa da Bolívia, da Nicarágua e de Cuba, na Alba”, compra armas de Moscou e “articula com Mahmud Ahmadinejad [Irã] acordos de cooperação e planos de resistência contra o demônio ianque”.
O editorial do Estadão, por sua franqueza e dureza, é revelador do pensamento da burguesia neoliberal na recente crise fabricada na relação Venezuela-Brasil. O que no início parecia apenas uma refrega retórica, envolvendo alguns senadores da direita e o presidente Chávez, vai adquirindo assim a sua verdadeira e gravíssima dimensão, colocando em risco o inédito esforço da integração regional. Tudo começou com a ingerência indevida do Senado, a partir de um requerimento de Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB e fundador do “valerioduto”, contra a decisão soberana do governo vizinho de não renovar a concessão da RCTV. Na seqüência, o líder bolivariano acusou os senadores de “papagaios do império”. O desabafo foi o sinal para a direita brasileira e sua mídia venal questionarem o ingresso da Venezuela no Mercosul.
A direita brasileira, servil aliada dos EUA, nunca criticou a censura imposta pelo presidente George Bush à imprensa daquele país, através da Patriot Act, ou os campos de tortura de Guantanamo e de Abu Ghraib, ou o fim de dezenas de concessões públicas de televisões nos EUA e na Europa – mas resolveu cutucar o presidente da Venezuela, numa provocação rasteira. A manobra era evidente: ela nunca concordou com os esforços do governo Lula e de outros governantes progressistas da construção de um bloco regional capaz de se contrapor aos desígnios do império. O seu sonho, acalentado por FHC, era o da vigência do tratado neocolonial da Alca, da implantação da base militar em Alcântara e das “relações carnais” com os EUA.
O episódio da RCTV, que nada tem a ver com as relações econômicas, sociais e políticas do Mercosul, foi o pretexto encontrado pela direita nativa, bem ao gosto do imperialismo, para tentar implodir o esforço da integração. Deixada a aparência de lado, agora fica exposta a essência da manobra. “Indústria pede que o Congresso rejeite adesão venezuelana”, festejou a Folha de S.Paulo. Barões do agronegócios e magnatas de poderosas empresas destilam seu ódio contra a revolução bolivariana. O embaixador Rubens Barbosa, membro da equipe entreguista de FHC e guru de Geraldo Alckmin, declara que o ingresso da Venezuela prejudicará o acesso do Mercosul ao mercado dos EUA. O editorial do Estadão é a prova cabal do crime!
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