Movimentos sociais criticam parceria com EUA na produção de etanol

07/03/2001
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A visita do presidente dos Estados Unidos George W. Bush ao Brasil para negociar uma parceria para a produção de agrocombustíveis e as atividades da Via Campesina foram os temas discutidos por integrantes de organizações sociais, durante coletiva realizada nesta quarta-feira (07/03), em São Paulo.

Os integrantes de Via Campesina, CPT (Comissão Pastoral da Terra) e CUT (Central Única dos Trabalhadores) alertaram o governo brasileiro sobre os riscos da expansão das plantações de cana-de-açúcar com a parceria entre Brasil e Estados Unidos na produção de etanol. “Para o universo camponês é uma perspectiva sinistra de destruição, marginalização e morte”, afirmou o conselheiro da CPT, dom Tomás Balduíno, que apontou que surgirá no país uma usina de álcool por mês.

João Pedro Stedile, da direção nacional do MST e da Via Campesina, classificou a visita de Bush como “uma campanha ofensiva” na América Latina. Segundo ele, a viagem do chefe da Casa Branca pretende impor aos países latino-americanos a adesão a uma “aliança diabólica”, composta por transnacionais do petróleo, do agronegócio e da indústria automobilística. “Esses três grandes pólos do capitalismo internacional se uniram formando novas empresas para controlar os agrocombustíveis”, afirmou.

Monocultura


A Via Campesina é contra a implantação de um modelo de produção de biocombustíveis com base na monocultura da cana, em detrimento da agricultura familiar. Os representantes dos movimentos sociais presentes foram unânimes em relação aos efeitos nocivos de um possível acordo na produção de combustíveis entre Brasil e Estados Unidos para o povo brasileiro.

Stedile citou como exemplo as conseqüências do avanço do agronegócio no Espírito Santo. O estado sofre com os efeitos das políticas da Aracruz Celulose que expulsou milhares de camponeses, indígenas e quilombolas de suas terras para a plantação de eucalipto. A região metropolitana de Vitória tem índices de criminalidade maiores que os da Colômbia, que há 30 anos, vive uma guerra civil.

“Não podemos admitir este modelo. Esperamos que o governo Lula mantenha seus compromissos com quem o elegeu, ou seja, a população pobre do Brasil quer mudanças”, afirmou o dirigente do MST, que também chamou a atenção para os grandes valores que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) destina para o agronegócio: cerca de 600 milhões de reais, com sete anos de carência para o pagamento.

O aumento da produção do etanol significaria a intensificação das plantações do monocultivo da cana. “Não somos contra os agrocombustíveis, mas sim contra o modelo em si que quer a todo custo exportar toda esta produção”, defendeu o membro da executiva nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Temístocles Marcelos Neto.

Segundo os participantes, o modelo de produção baseada na monocultura contribui para a expulsão das famílias do campo e para o aumenta a pobreza e o desemprego. Um dado importante: 100 hectares de terra no agronegócio gera apenas um posto de trabalho, enquanto que na agricultura familiar cria na mesma extensão de terra 35 empregos.

Mobilização feminina

D. Tomás Balduíno lembrou a ação das mulheres na Aracruz no 8 de Março de 2006 e parabenizou a organização feminina no processo de reivindicar um projeto alternativo para a sociedade brasileira. Ele também alertou sobre o fato de a monocultura de eucalipto e de cana-de-açúcar está destruindo ecossistemas, como o cerrado.

A integrante da Marcha Mundial das Mulheres, Miriam Nobre, reafirmou a luta contra a mercantilização do corpo feminino e também da natureza. Segundo ela, esse é um dos motivos para que a questão dos agrocombustíveis faça parte das bandeiras dos movimentos das mulheres que atuam na cidade.

“A produção deste tipo de combustível está ligada à monocultura, ao agronegócio, aos transgênicos. Fatores que afetam a vida não só das camponesas, mas de todas. Por isso queremos Bush (e tudo o que ele representa) fora do Brasil, da América Latina, do Mundo”.

Os movimentos de mulheres do campo e da cidade, juntamente com outras organizações sociais realizam neste dia 8 uma grande mobilização por soberania alimentar e igualdade de gênero e contra a visita de Bush ao Brasil. Na capital paulista, a concentração será às 15h, na Praça Osvaldo Cruz. De lá as manifestam caminham até o vão livre do MASP. A expectativa é reunir cerca de 20 mil pessoas. No Rio de Janeiro, haverá uma caminhada entre a Candelária e a Cinelândia, a partir das 16h.

Fonte www.mst.org.br
https://www.alainet.org/es/node/119850
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