TV Digital: A opção pela dependência

03/07/2006
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Pesquisadora brasileira rebate justificativas para escolha do padrão japonês para a TV Digital; Brasil poderia ter o seu próprio padrão no final deste ano Embora as empresas de radiodifusão sempre tenham deixado claro a preferência pelo padrão de modulação japonês, o governo nunca apresentou, de forma consistente, uma argumentação que justificasse sua escolha. Do lado das empresas, Regina Mota, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que o padrão ISDB (japonês) "muda, sem mudar nada", ou seja, mantém o quadro antidemocrático das comunicações no país. Já da parte do governo, as justificativas ficaram sempre no discurso tecnológico. Entretanto, aponta Regina, é que os argumentos são mais frágeis. "Nossa tecnologia (a de um padrão brasileiro) é mais avançada do que a que vamos importar dos japoneses", garante a pesquisadora, que classifica de "falácia" o argumento de que o Brasil ficaria isolado se desenvolvesse tecnologia própria. Regina também conta que pesquisadores do Sistema Brasileiro de Televisão Ditigal (SBTVD) afirmaram que o padrão japonês encontrará muitas dificuldades para funcionar perfeitamente no Brasil, principalmente no que diz respeito à transmissão do sinal para a totalidade do país. Coração estrangeiro O decreto assinado por Lula definindo a escolha pelo modelo japonês também determina que tecnologias nacionais serão utilizadas, mas não se sabe ainda a proporção destas modificações. O fato é que o padrão, considerado o "coração" de um sistema, será estrangeiro. O que pouco se sabe é em um dos consórcios de pesquisa do SBTVD, financiados pelo governo federal, foi desenvolvido um padrão de modulação brasileiro na PUC-RS que, com o financiamento necessário, poderia estar finalizado, pronto para entrar nas fábricas, no fim deste ano. Tal fato põe por terra a "pressa" em definir o padrão, critério usado principalmente pelo homem da Rede Globo no governo, o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Em inúmeras ocasiões, Costa afirmou que se fosse desenvolver um sistema genuinamente brasileiro, o país estaria perdendo tempo e se atrasado em relação a outros países. Vale lembrar que a China só irá finalizar seu sistema em 2008 e que, nem mesmo no Japão, todas as cidades já recebem o sinal digital. Opção pelo atraso Para Regina, a decisão, além de ter perdido a oportunidade de criar um sistema que atendesse às deficiências e demandas específicas do Brasil, também se perdeu a oportunidade de investir no desenvolvimento da pesquisa e indústria brasileiras. "Atrasado é a mentalidade desse governo, que acha que a gente só tem que exportar soja. Esse resultado é a prova do nosso arcaísmo, Lula provou que não acredita na potencialidade científica do país", protesta. A pesquisadora também afirma que, do modo como será implementada, a TV Digital certamente não vai atingir aqueles que mais precisam dela. "Vai chegar para aqueles que hoje já têm poder aquisitivo para ter internet, acesso a jornais e revistas". Gustavo Gindre, jornalista do Coletivo Intervozes, compartilha da mesma opinião: "Como foi concebida, apenas aumentará a desigualdade informacional que já existe", diz. Gindre também lembra que, como o padrão japonês só está sendo usado no Japão, a tendência é que o preço do equipamento seja de fato mais caro ao consumidor. "O governo sequer fez um estudo para avaliar isso", critica. - Dafne Melo,da Redação Brasil de Fato
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