Protesto dos migrantes
24/04/2006
- Opinión
Para este Primeiro de Maio, que temos pela frente, somos convidados a um gesto de solidariedade com os imigrantes latino-americanos que se encontram nos Estados Unidos.
De sua parte, eles estão propondo, em todo o território norte-americano, “um dia sem os imigrantes”, em que nenhum trabalhador latino-americano vai comparecer no seu local de trabalho lá nos Estados Unidos. E convidam todos os latino-americanos, em nossos países, a deixar de comparecer em estabelecimentos comerciais de firmas americanas.
Com isto, eles querem ressaltar o significado para a economia norte americana dos onze milhões de trabalhadores latino americanos que lá estão, a maioria deles explorados por sua situação irregular, o que permite serem contratados por salários menores e sem a proteção legal do sistema.
Esta mobilização vem precedida de diversas manifestações já acontecidas em muitas cidades dos Estados Unidos. Ela vai tomando força, conseguindo adesões crescentes, que deixam entrever uma significativa repercussão mundial em torno da problemática das migrações, que vem se agravando cada vez mais.
Depois das manifestações na França, que fizeram o governo mudar de rumo na questão da flexibilização dos direitos trabalhistas no primeiro emprego, de novo vai se comprovando que os movimentos de massa são hoje indispensáveis para apontar os rumos verdadeiros das decisões políticas que os governos e os parlamentos já não têm a lucidez, ou não são capazes de tomar.
Para entender o pano de fundo desta manifestação prevista para este dia Primeiro de Maio nos Estados Unidos, que promete se transformar em fato simbólico para toda a questão da migração mundial, é necessário ter presente o absurdo conteúdo do projeto de lei HR 4433, que está em andamento no Congresso dos Estados Unidos. E’ a lei denominada “Sensenbrenner”, que além de determinar a construção de um muro de três mil quilômetros ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México, declara como “delito grave sujeito a pena de reclusão” todo o auxílio que se prestar a imigrantes indocumentados. Com isto, a lei pretende eliminar de vez a possibilidade de circulação de imigrantes ilegais no território dos Estados Unidos.
Este projeto de lei pretende atingir tanto a pessoas individualmente, com a instituições humanitárias. Ele visa cortar pela raiz a solidariedade aos imigrantes, inviabilizando desta maneira sua permanência nos Estados Unidos.
E’ evidente o caráter radical desta iniciativa de lei, que reflete a xenofobia subjacente à visão de globalização excludente, que pretende deixar livre campo para a circulação do capital, para que ele possa explorar as situações que lhe são favoráveis em qualquer parte do mundo, enquanto pretende impedir a circulação dos trabalhadores, para impedir que possam se valer dos benefícios criados pela economia em alguns países.
Assim se manifesta o contraste, que precisa ser superado: uma economia guiada unicamente pelo critério do lucro e da exploração das debilidades políticas, que para se viabilizar exige a supressão radical da solidariedade. Somente embutindo na própria economia a dinâmica da solidariedade será possível superar o abismo crescente que vai se alargando entre países ricos e países pobres.
Na história, os migrantes sempre foram profetas de grandes transformações. No contexto atual, eles estão apontando o caminho da economia solidária. A solidariedade pontual a esta manifestação do Primeiro de Maio deste ano, mostra o desafio maior, de repensar o sistema macro econômico mundial, à luz das experiências já existentes de economia solidária. Estas experiências revelam ao mesmo tempo a face humana dessa maneira de praticar a economia, e comprovam sua viabilidade sistêmica.
D. Demétrio Valentini presidente do SPM
https://www.alainet.org/es/node/114980?language=es
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