Resgatar o PT, urgente tarefa da esquerda
O PT foi seqüestrado
25/07/2005
- Opinión
Os dias têm se tornado mais longos, difíceis e tenebrosos para os petistas e para a esquerda de modo geral. E o pior é que ao final de cada dia longo, difícil e tenebroso, fica-se com a sensação de que o dia seguinte será ainda pior que o anterior e muito provavelmente trará revelações ainda mais lancinantes para a alma daqueles que se reivindicam pertencentes a um partido político como o PT.
O que por inocência e boa-fé se supunha tratarem-se de irregularidades restritas ao âmbito das relações entre o ex-tesoureiro do PT e um empresário obscuro, evolui para um escândalo epidêmico que contagia parte da direção partidária, envolve parlamentares do PT e de outros partidos e se comunica com áreas do governo.
O diagnóstico agora é inescapável, ainda que profundamente doloroso: o PT foi seqüestrado!
Seqüestraram o PT com arrogâncias e envolvendo-o com mensalões, cuecas, malas, empréstimos mirabolantes, doações inexplicáveis e até dinheiramas para negócios inverossímeis. Roubaram a essência e natureza do PT enquanto fonte de esperança para a libertação dos oprimidos e sofridos do nosso país.
Há anos a maioria dirigente do PT vem submetendo o partido a um processo acelerado de desfiguração programática e ideológica. Espezinharam a democracia interna e se adonaram do PT, firmaram alianças esdrúxulas e estranhas ao campo democrático e popular, substituíram o programa democrático-popular por cantilenas de mercado, renunciaram à perspectiva socialista pela luxúria de hotéis e restaurantes charmosos, e privilegiaram a governabilidade congressual (onde já existiram 300 picaretas) em detrimento da participação direta do povo nas decisões de governo.
Mas não ficaram só aí. Estes que seqüestraram o PT também causaram sua desfiguração ética e moral, corroeram seu patrimônio ético e converteram-no em um partido político "igual a todos os demais". Nada tão a feição dos interesses da classe dominante brasileira, que deve estar brindando efusivamente a desgraça deste que é considerado o maior e mais promissor projeto de esquerda da história do país e do continente latino-americano.
O PT não pode continuar sendo usurpado por aqueles que, sem mandato e autorização das suas instâncias e militância, enlameiam ainda mais a imagem do próprio partido.
O PT não pode continuar sendo conduzido por aqueles que, com táticas diversionistas assemelhadas a de um empresário obscuro, cada vez mais metem o partido num enorme rocambole político e amplificam as complicações.
O PT não pode mais ficar sob o controle dos que o transformam numa correia de transmissão das políticas e alianças de governo cada vez mais conservadoras que perenizam e aprofundam o domínio do capital financeiro internacional e impedem a realização das políticas sociais de distribuição de renda e justiça social exigidas pelo povo brasileiro.
O PT não pode continuar sendo submetido a um processo de arruinamento de sua história, de sua imagem, do seu patrimônio e de sua trajetória. O PT tem de ser urgentemente resgatado, e cabe àqueles que se identificam com o caráter do PT como um projeto generoso de esquerda, a tarefa de resgatá-lo e refundá-lo enquanto um instrumento estratégico de disputa e construção de um novo poder democrático, popular e socialista.
Este é o momento mais grave de toda a história do PT, um momento em que tudo deve ser feito para se recuperar e se resgatar a originalidade partidária. A esquerda do PT tem este desafio em suas mãos, e deve ter a clareza de que possui entre si mais consenso do que divergência, e por isso pode buscar um esforço para a construção de táticas comuns no próximo período, especialmente em relação ao PED.
O imperativo do período é assegurar ao máximo as condições que possam viabilizar a mudança das direções partidárias desde uma perspectiva da esquerda e dos valores que esta representa. É fundamental a realização de esforços que viabilizem a unificação de candidaturas da esquerda partidária no máximo de estados do país, assim como as candidaturas à Presidência nacional do PT, forjando assim novas maiorias que resgatem os valores, a ética e o programa revolucionário do PT que move a esperança do povo brasileiro.
- Jeferson Miola, integrante do IDEA - Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre, foi Coordenador-Executivo do 5º Fórum Social Mundial.
https://www.alainet.org/es/node/112523?language=en
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