Marcha para Brasília
08/05/2005
- Opinión
Está em pleno andamento a marcha para Brasília, organizada pelo MST, com o
apoio de outros movimentos sociais, em favor da reforma agrária. Partindo
de Goiânia, a marcha espera chegar a Brasília, percorrendo a pé os
duzentos quilômetros do trajeto. Dez mil pessoas, provenientes de vinte e
três Estados, puseram-se a caminho, com o propósito de levar suas
reivindicações à capital do país, onde se encontram os poderes supremos da
nação, tanto do Executivo, como do Legislativo e do Judiciário. Por seu
rumo, a marcha deixa claro, de saída, que sua causa é de âmbito nacional,
e que sua postulação interpela o Estado brasileiro.
Esta nova iniciativa do MST encontra na marcha de 1997 o precedente
histórico que lhe garante credibilidade. A chegada a Brasília coincidia
naquele ano com o primeiro aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás,
a 17 de abril.
Daquela vez, a marcha surpreendeu a sociedade brasileira, por sua
organização, competência e seriedade. Foi o atestado de maturidade do MST.
E o governo se viu na obrigação de acolher os seus líderes, e dialogar com
eles. Finalmente, havia interlocutores que assumiam a causa da reforma
agrária como própria, na condição de sujeitos que reivindicavam direitos
que eram seus, como atores legitimados pelo exercício de sua cidadania.
Ainda hoje o MST se sente no compromisso de carregar esta bandeira da
reforma agrária. Não só por interesse próprio. Mas como componente
indispensável de um projeto de país que coloca seus recursos, em primeiro
lugar a terra, a serviço da vida digna dos seus cidadãos.
Realizando esta nova marcha, o MST dá para a sociedade brasileira um
testemunho valioso e oportuno. Neste momento de perplexidade das forças
sociais, ainda decepcionadas pela frustração de expectativas fáceis que
tinham sido colocadas frente ao atual governo, é preciso retomar a
caminhada política, de modo consciente e organizado.
A marcha se torna símbolo de exercício responsável da cidadania. Ela nos
convoca para também colocar-nos a caminho, retomando a busca de um projeto
de país que contemple os direitos fundamentais de todos, e que torne
possível a participação dos diversos segmentos sociais na sua construção.
Cada um desses segmentos precisa assumir o seu lugar, na marcha permanente
da cidadania.
Neste sentido, a marcha para Brasília reforça a proposta do mutirão por um
novo Brasil, lançada pela CNBB em conjunto com outras entidades e
movimentos sociais, dentro do processo da Quarta Semana Social Brasileira
que está em andamento, e onde o MST sempre se sentiu engajado. Pelo
heroísmo e pela disciplina que a marcha implica, ela lembra outros eventos
que a história maior registra, sobretudo a longa marcha do povo de Israel.
A motivação de deixar a escravidão deu coragem para enfrentar o longo
deserto, com todos os obstáculos que ele apresentava.
Antes de partirem, procuraram com insistência o Faraó, na esperança de
obterem a liberdade como concessão do poder. Até que se deram conta que a
libertação só podia ser fruto de sua própria ação, consciente e organizada.
Então, deixaram de lado o poder estabelecido, e se colocaram em marcha, na
esperança renovada de chegarem à terra dos seus sonhos.
A lição continua válida. Não será nunca o poder estabelecido que outorga
direitos aos cidadãos. São eles que precisam conquistá-los, colocando a
estrutura do Estado a serviço das verdadeiras aspirações do povo. Mas para
isto é preciso consciência, decisão, persistência, e articulação política.
Este o difícil deserto que a cidadania precisa atravessar continuamente. A
marcha nos diz que é possível chegar ao destino, se nos colocamos no rumo
certo com lucidez e convicção.
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