EUA: A mau tempo, boa cara
02/05/2005
- Opinión
Depois de investir 3 bilhões de dólares na maior operação já realizada
contra as drogas na Colômbia, os EUA não conseguiram diminuir a oferta
de drogas no seu país. Em 2001 a área das plantações que os governos da
Colômbia e dos EUA consideram ter erradicado seria quase o dobro, no
entanto a área de colheita restante continua praticamente igual.
A Colômbia continua a abastecer 90% do mercado estadunidense. “Os
indicadores de disponibildade de cocaína estão estáveis ou ligeiramente
maiores no mercado de drogas no país” – confessou a agência de política
contra drogas na Casa Branca. Os preços permaneciam estáveis e a pureza
da droga teria aumentado, segundo as mesmas fontes. Em suma, fracassou
totalmente a operação de combate às drogas.
Ou não? Se imaginarmos que o objetivo é o combate às drogas,
evidentemente a operação – chamada de Plano Colômbia – fracassou. O uso
de 82 aviões para lançar herbicidas em plantações – em princípio de
coca, mas atingindo de forma indiscriminada à agricultura em geral -, a
militarização do país, o massacre de populações civis – nada disso teve
efeito sobre o abastecimento de cocaína para os EUA.
Apesar disso, o governo colombiano pediu à secretária de Estado,
Condoleezza Rice, na sua passagem pelo país, no mês passado, recursos
para construir uma base aérea supostamente para avançar na luta contra
as drogas, valendo-se da disposição do novo governo do Equador, de
desativar a base de Manta e sua decisão de não conceder imunidade às
tropas estadunidense presentes no país. O presidente estadunidense, por
sua vez, solicitou mais 734 milhões de dólares para o Plano Colômbia ao
Congresso dos EUA.
As razões do fracasso são claras: se desloca para o exterior o combate
às drogas, sem combatê-la dentro do país. Seguindo o mesmo procedimento
que historicamente adotou, exorciza seus problemas, buscando bodes
expiatórios no exterior. Neste caso, nos camponeses andinos, nos
governos de nos movimentos sociais da região. Basta que nos perguntemos
quantos chefões do narcotráfico estão presos nos EUA, para nos darmos
conta de como não são combatidos dentro do país, o que provavelmente
implicaria no enfrentamento das enormes máfias – que cruzam o sistema
financeiro – que traficam no país que, de longe, é o maior mercado
consumidor de drogas no mundo. Enquanto não combatem seus traficantes,
exigem que os outros governos extraditem os seus para os EUA, para que
tenham acusados a ser julgados pela Justiça desse país, no lugar dos
seus chefões, dentro de suas fronteiras.
Sem nenhum efeito no combate às drogas, a Operação Colômbia segue,
porque seu objetivo real é o combate às guerrilhas do país. É essa a
finalidade real dos investimentos milionários realizados por Washington
nesse país, intensificando o foco de enfrentamentos violentos e fazendo
da Colômbia o pais mais violento e conturbado do continente. E, no
entanto, o diagnóstico do governo Bush – e dos seus porta-vozes locais
– é o de que a Venezuela seria o fator maior de instabilidade na
América Latina.
Pesquisa de opinião feito pelo Instituto Datanálisis, indica que o
presidente venezuelano tem o apoio de mais de 70% da população. E não
porque intensifique os conflitos armados no país – como faz seu vizinho
Álvaro Uribe -, mas pelas políticas sociais que leva a cabo e pela
derrota institucional e pacífica que impôs à oposição no referendo e
nas eleições do ano passado. Com isso os EUA viram enfraquecer-se
definitivamente as forças golpistas que promoveram e apoiaram nos
últimos anos, infrutiferamente.
Instável é a Colômbia, com a Operação levada a cabo pelos governos
estadunidense e colombiano, instáveis são as situações internas no
Equador, na Bolívia, na Nicarágua, pelas políticas levadas a cabo por
seus governos, conforme os organismos internacionais apoiados por
Washington. Mas as péssimas noticias dos últimos dias para o governo
Bush – derrota na eleição do secretário geral da OEA, queda do governo
aliado no Equador e substituição por um governo que se distancia dos
EUA e derrota da operação para impedir a candidatura favorita de Lopez
Obrador à presidência do México – fazem com que o governo Bush tenha
que se consolar com a Colômbia e Álvaro Uribe, como seu principal
aliado no continente. Isolados e enfraquecidos, tenderão a intensificar
as hostilidades na Colômbia, contra a Venezuela e contra Cuba. E mandar
representantes fingir que tudo anda bem para eles no continente. A mau
tempo, boa cara – como a da sua secretária de Estado, que partiu de
mãos abanando de sua fracassada viagem ao continente.
https://www.alainet.org/es/node/111891?language=en
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