Declaração. Quinto Fórum Parlamentar Mundial
04/02/2005
- Opinión
DECLARAÇÃO FINAL
Porto Alegre, Brasil, 30 de janeiro de 2005
O 5º. Fórum Parlamentar Mundial reuniu-se em
Porto Alegre
(Brasil) nos
dias 29 e 30 de janeiro de 2005, por ocasião do
5º. Fórum Social
Mundial
tendo, na seqüência dos seus trabalhos, adotado a
seguinte
Declaração:
Os parlamentares reunidos no 5º. Fórum
Parlamentar Mundial,
realizado nos
marcos do 5º. Fórum Social Mundial em Porto
Alegre, reafirmam
os
compromissos assumidos nos Fóruns dos anos
anteriores no
sentido de seu
engajamento na luta por um outro mundo possível.
Este
engajamento,
materializado em ações concretas da Rede
Parlamentar Mundial
em momentos
como o encontro “Rio+10” de Joanesburgo, na
Conferência da
OMC de Cancun
em
2003, a declaração contra a guerra e a caravana
de parlamentares
pela paz
em fevereiro de 2003, vem demonstrando a
importância de uma
ação
articulada
dos parlamentares comprometidos com um mundo
justo nas
diversas esferas de
discussão sobre o futuro do planeta.
Rede parlamentar internacional
A consolidação da Rede, a sua implantação em
pólos regionais, o
aprofundamento dos laços e da discussão em torno
de uma
agenda comum de
discussões e de ações concretas, vem permitindo a
gestação de
um novo ator
no cenário dos debates internacionais. A
participação neste
cenário, até
então ocupado predominantemente pelos governos de
Estados
Nacionais ou
pelas grandes corporações internacionais, está
sendo reivindicada
de forma
cada vez mais intensa pela sociedade civil. A
ação dos
movimentos sociais,
das Organizações Não Governamentais, a criação de
fóruns como
o FSM e o
próprio FPM, vêm dando uma nova qualidade aos
espaços
tradicionais de
debate como a ONU e outros organismos
multilaterais.
É dentro deste contexto que a intervenção dos
parlamentares,
como
legítimos
representantes da sociedade em cada um dos seus
países,
adquire uma
dimensão nova e desafiadora: a de atuar de forma
articulada em
uma esfera
que vai além dos limites nacionais. Este debate
foi aprofundado
neste 5º.
FPM, onde buscamos avançar em nossa capacidade de
ação
articulada enquanto
uma Rede.
Empenho pela democracia
A democracia é um meio essencial para fazer face
à crise da
humanidade.
Por
todo o mundo nós apoiamos a democracia, o
pluralismo político,
as eleições
livres, as liberdades sindicais e de organização,
como direitos
fundamentais dos povos, dos cidadãos e das
cidadãs.
Os parlamentares devem empenhar-se ativamente
para estimular a
democracia
participativa, a participação direta dos cidadãos
e das cidadãs nas
diferentes esferas do poder político, como forma
complementar do
exercício
da democracia representativa.
Neste sentido, é fundamental que em todos os
espaços de poder e
de decisão
- ao nível local, regional e mundial - sejam
criados mecanismos de
participação direta da população e dos movimentos
sociais.
Combate pela paz e pelos direitos humanos
Empenhados em lutar pela paz, pelo direito dos
povos e pela
resolução
pacífica dos conflitos, reafirmamos o direito de
cada povo à
autodeterminação e denunciamos todas as formas e
tentativas de
dominação
militar, política ou econômica de um povo ou um
Estado por outro.
Neste momento de conflitos abertos, como a
invasão e a
ocupação do Iraque,
de recrudescimento das tomadas de posição
unilateralistas e
belicistas por
parte do atual governo dos Estados Unidos da
América do Norte, a
responsabilidade dos parlamentares comprometidos
com a Paz se
torna ainda
maior.
Reafirmamos que o respeito pelos direitos humanos
e pelas
Convenções de
Genebra é uma exigência fundamental que não
admite exceções e
que é uma
base jurídica intocável.
Regimes de detenção e tribunais de exceção, como
aqueles a que
estão
submetidos os prisioneiros de Guantánamo, bem
como a
utilização da guerra
para promover a indústria e os serviços privados
de guerra são
claramente
contrários ao direito e inaceitáveis pela
humanidade.
Sublinhamos e apoiamos o papel fundamental da
participação das
mulheres
nos
processos de paz, seja antes, durante ou depois
dos conflitos,
como está
expresso na resolução 1325 da ONU.
A capacidade de mobilização da sociedade civil
nos nossos
países e de
articulação de ações internacionais de prevenção
e de contenção
dos
conflitos precisa ser constantemente ampliada. A
construção de
uma agenda
internacional pela Paz com plena realização seria
facilitada se se
procedesse a uma reforma das Nações Unidas,
fortalecendo e
democratizando
esta organização para que possa constituir um
verdadeiro espaço
de
mediação
e de acordos. Estes são alguns dos objetivos
prioritários para a
ação dos
parlamentares da Rede.
A “guerra preventiva” e a “intervenção
preventiva” conduzem a uma
militarização das relações internacionais, cujos
efeitos
devastadores se
fazem sentir da América Latina à Ásia, passando
pelo Oriente
Médio. Esta
política deve ser ativamente repudiada e
combatida, em prol de uma
política
de prevenção de conflitos e de guerras,
nomeadamente no que diz
respeito
ao
Irã e à Coréia do Norte. Ora, os EUA mantêm,
contra tudo e contra
todos, a
política da “guerra preventiva” pela qual se
arrogam o direito de
intervir
militarmente e unilateralmente em países
estrangeiros, em
violação ao
direito internacional.
Sob a capa do combate anti-terrorista, os EUA
visam atingir os
seus
próprios objetivos econômicos (domínio sobre o
petróleo, a água, a
biodiversidade, etc.) e geopolíticos (reforço da
sua hegemonia), em
detrimento de todos os outros países do mundo.
Nenhuma arma de destruição massiva foi encontrada
no Iraque e,
apesar
disso, os EUA mantêm uma ocupação particularmente
brutal e
que já causou a
morte de centenas de milhares de iraquianos. A
democracia não
se exporta
pela força das armas.
Exigimos a retirada imediata das tropas de
ocupação do Iraque
sob a
supervisão da ONU e convidamos os governos a agir
nesse
sentido, única
solução real que permitirá a reconstrução e a
democratização do
país.
Deve também ser posto um termo final à corrida
armamentista e à
proliferação nuclear, exigindo nomeadamente a
interdição geral
das armas
nucleares, um tratado para regulamentar o
comércio de armas
ligeiras, bem
como o respeito pela Convenção de Ottawa sobre
minas terrestres.
A guerra, o sistema econômico atual, os atentados
contra o meio
ambiente e
a fome que provocam, aumentam o número de
migrantes por todo
o mundo. É
indispensável garantir os seus direitos. Nós
exortamos os
governos não só
a
assinarem e ratificarem a Convenção das Nações
Unidas relativa
aos
direitos
dos trabalhadores e das trabalhadoras migrantes e
das suas
famílias, mas
também a atuarem de forma a reforçar a defesa dos
seus direitos.
Ao nível regional, condenamos a militarização da
América Latina.
Exigimos
o
desmantelamento das bases militares, a retirada
das tropas dos
EUA e o fim
imediato da ingerência norte-americana nos países
do continente
americano.
Condenamos a agressão e a ingerência cometidas
contra a
República
Bolivariana da Venezuela, em violação do direito
internacional e
dos
princípios estabelecidos pela Carta das Nações
Unidas, atentando
contra a
sua soberania, a sua independência e o seu
direito à
autodeterminação.
O “Plano Colômbia”, outro caso de inaceitável
ingerência e de
militarização
de um país, constitui uma ameaça real e concreta
contra a
estabilidade da
região. Reclamamos uma solução política negociada
para o
conflito social
que atravessa a Colômbia. Nas vésperas da reunião
de Cartagena
solicitamos
com insistência à União Européia e aos países que
vão participar
desta
reunião, que não apliquem fundos de cooperação
para o
desenvolvimento em
qualquer forma de apoio à política de guerra e de
impunidade do
governo
colombiano.
Denunciamos e condenamos igualmente o bloqueio
cada vez mais
duro de que é
vítima Cuba.
Apoiamos as propostas e medidas tomadas pelo
Parlamento
Centro-Americano
para que o processo de integração da América
Central e do
Caribe, bem como
o reforço institucional dos seus organismos,
inscrevam-se num
sistema
plenamente comunitário.
Tendo em conta a próxima eleição do Secretário
Geral da OEA,
solicitamos
que a pessoa a ser escolhida para esta função
tenha o perfil de
alguém
respeitador do direito internacional, da
soberania e do direito de
autodeterminação dos povos da América, que
contribua, num
espírito de
tolerância e de respeito pela pluralidade, para a
unidade das
nações do
continente.
No Oriente Médio, o relançamento do processo de
paz israelo-
palestino é
essencial, bem como o regresso ao processo do
“Mapa da
Estrada”. Mas a
esperança é muito frágil. A responsabilidade das
forças
progressistas
internacionais é hoje particularmente engajada. É
preciso agir no
sentido
de conseguir o reconhecimento de dois Estados
viáveis, com
garantias de
segurança, e pela concretização da Iniciativa de
Genebra,
reconhecendo o
princípio do direito de regresso, reafirmado em
diversas resoluções
da
ONU.
Nesta perspectiva, é nomeadamente importante que
cesse a
ocupação, a
violência, os atentados suicidas e as
represálias. Exigimos o
respeito
pelas resoluções da ONU, que pare a construção do
muro de
separação e a
demolição do que já foi construído, em
conformidade com a
deliberação do
Tribunal Internacional de Justiça.
Desenvolvimento sustentável e catástrofes
naturais
O modelo capitalista de “desenvolvimento” é
destruidor dos
ecossistemas. É
imperativo promover e concretizar, nomeadamente
através dos
parlamentos,
uma cultura ambiental como premissa fundamental
para um novo
modelo de
desenvolvimento, articulando-se de maneira
integrada com a
economia
solidária, reforçando as empresas sociais.
Apoiamos, com este
espírito, a
criação de uma câmara internacional de comércio
solidário e
social.
Exprimimos a nossa total solidariedade com as
vítimas do
maremoto que
devastou, em dezembro de 2004, os países das
margens do
Oceano Índico. As
catástrofes podem ter origens naturais, como o
tsunami, ou
humanas, como
as
inundações provocadas pelo desflorestamento.
O preço pago pelas populações nas catástrofes
naturais deve-se,
em larga
medida, a fatores sociais. Isto mostra, de forma
dramática e bem
concreta,
os impasses do modelo de desenvolvimento
dominante e as
gritantes
desigualdades que ele gera.
A dimensão ambiental destas tragédias vem
ilustrar de uma forma
ainda mais
clara o caráter devastador do modelo capitalista
dominante que
privilegia
unicamente o lucro e a acumulação de capital.
Apesar da gravidade do aquecimento climático para
o futuro da
humanidade,
o
Protocolo de Quioto só entrará em vigor em meados
de fevereiro de
2005!
Nós
solicitamos, com caráter de urgência, por um
lado, a assinatura
deste
protocolo por todos os Estados e, por outro lado,
a concretização
sem
demora das medidas preconizadas deste documento
internacional.
Por estas e muitas outras razões, a Rede
Parlamentar
Internacional
considera necessário promover uma mudança de
modelo
econômico global. É
tempo de avançar com a construção de um outro
projeto, que
responda aos
interesses de todas e de todos, e que contribua
para o
desenvolvimento
sustentável e a justiça social. Um projeto que
tenha
nomeadamente em conta
os milhões de camponeses e pescadores hoje
arruinados pelas
políticas
comerciais dominantes.
Financiar o desenvolvimento
A amplitude das tragédias provocadas pelas
catástrofes com
origem natural
ou humana sublinha até que ponto é urgente
orientar efetivamente
as
políticas econômicas em função das exigências
sociais e
ambientais e
romper, assim, com o dogma neoliberal. Coloca com
particular
acuidade a
questão do financiamento do desenvolvimento.
A anulação imediata e sem condições da dívida
externa dos
países mais
afetados pelo maremoto é um verdadeiro dever de
solidariedade.
Mas, para
além desta medida de urgência, é a anulação da
dívida dos países
em
desenvolvimento e, para, além disso, o próprio
sistema
internacional da
dívida que deve ser posto em causa, sistema que
mantém os
países do Sul
numa situação permanente de endividamento e de
subordinação
ao FMI, e que
desvia em proveito de ricos credores os recursos
de que as
populações
pobres têm vital necessidade. A taxação das
transações
financeiras e
outras
taxas mundiais (sobre a venda de armas etc.)
permitiriam liberar
os fundos
indispensáveis à concretização de políticas de
erradicação da
pobreza.
Estes novos recursos devem vir em acréscimo e não
em
substituição da
obrigação para os países industrializados de
consagrar pelo
menos 0,7% do
seu PIB à ajuda ao desenvolvimento, como foi
decidido pela
Assembléia
Geral
das Nações Unidas.
Outras medidas devem ser discutidas e defendidas,
como o
controle da
evasão
fiscal e dos paraísos fiscais ou os investimentos
socialmente
responsáveis.
Para combater a fome, as desigualdades e a
pobreza, devem ser
tomadas
decisões concretas sem mais demora. Os atos devem
seguir-se
às palavras,
nomeadamente por parte dos países mais
industrializados.
Reforma das instituições internacionais
Estas mudanças necessárias na esfera econômica
não podem ser
separadas de
mudanças profundas também na esfera política.
As instituições multilaterais hoje existentes têm
mostrado
profundos
limites no sentido da sua capacidade de prevenir
os conflitos,
promover a
paz, reduzir a pobreza no mundo e produzir uma
maior eqüidade
entre as
nações. Paralelamente ao fortalecimento das
Nações Unidas em
contraposição
ao unilateralismo e ao desrespeito aos acordos
internacionais é
importante,
simultaneamente, também uma maior democratização
desta
instituição,
eliminando as disparidades em termos de poder de
decisão entre
os países,
nomeadamente no Conselho de Segurança, e
reforçando o papel
da Assembléia
Geral.
Na perspectiva de uma democratização das
instituições
internacionais,
apelamos à criação de uma Assembléia parlamentar
mundial.
Bens comuns e serviços públicos
Em 2004, o combate pela defesa dos “bens comuns”
e a existência de
verdadeiros serviços públicos foram expandidos à
escala internacional. No
Uruguai, por ocasião do referendo de outubro
passado, a privatização dos
serviços de água foi rejeitada por uma larga
maioria da população. Outras
lutas sobre estes temas têm sido travadas em
numerosos países por todo o
mundo.
A utilização de bens comuns da humanidade (água,
terra, biodiversidade,
energia…) e o acesso a serviços públicos de
qualidade (saúde, educação,
transportes e comunicações...) devem ser
garantidos para todos, incluindo
as populações mais pobres. Bens comuns e serviços
públicos não podem ser
tratados como setores sujeitos à lei do lucro
capitalista.
A água, sendo a fonte de vida, expressão mesma da
vida em muitas culturas,
deve ter o seu acesso reconhecido como um direito
humano e o direito à
alimentação e à terra devem ter o mesmo status.
Assim, a construção de um
outro mundo passa necessariamente pela
concretização do direito de acesso
à
água para todos no espaço máximo de uma geração.
A privatização e
mercantilização da água conduzem ao processo de
privatização e
mercantilização da vida, e conseqüentemente, a
água deve ser reconhecida
como um bem público mundial.
Cultura
E o nosso esforço por mais democracia e justiça
social no mundo não pode
ser dissociado de uma maior democratização e
ampliação do acesso aos bens
simbólicos e culturais. Uma melhor distribuição
da riqueza e da renda,
assim como da redução das desigualdades entre os
países, são aspectos
fundamentais para propiciar a todos o acesso à
cultura como um instrumento
de auto-valorização e construção de identidade.
Neste plano, a cultura
cumpre um papel fundamental na medida em que a
valorização da diversidade
cultural é uma dimensão fundamental da luta
contra a xenofobia e o
fundamentalismo. Cultura tem a ver com
identidade, com valores, com a
subjetividade. A produção cultural não pode
operar apenas com seus olhos
voltados para a sua dimensão comercial.
Um projeto de Convenção sobre a diversidade
cultural está atualmente em
negociação. Nós esperamos vivamente que esta
Convenção seja adotada no
âmbito 33a. Conferência da UNESCO, em setembro de
2005. A mundialização em
curso, os acordos de livre comércio, os
existentes sobre os direitos de
propriedade intelectual e os poderes das
multinacionais - nomeadamente nos
sectores do audiovisual e da edição - tendem a
tratar a arte e a cultura
como simples mercadorias e simples serviços
comerciais, e não como a
expressão da diversidade do mundo. A adoção desta
Convenção contribuirá ao
reconhecimento e à prática do direito das nações
de proteger e promover a
cultura e o conhecimento sem se expor a sanções
da OMC. Nenhum Estado deve
sacrificar, durante as negociações comerciais
multilaterais ou bilaterais
em curso ou por vir, ao direito de livre
expressão cultural dos povos.
Comércio mundial
A próxima conferência interministerial da OMC se
realizará em Hong Kong,
em
dezembro de 2005. O que está em jogo nestas
negociações é considerável. Os
acontecimentos de Seattle e Cancun puseram a
descoberto a crise de
legitimidade do sistema internacional de comércio
e do mito do “comércio
livre” como única resposta para os desafios do
desenvolvimento humano.
As políticas de abertura econômica não são a
solução. As políticas
comerciais devem contribuir ao desenvolvimento
humano e ao dos países,
considerando os diferentes níveis de
desenvolvimento de forma a que não
subordinem ainda mais os países pobres mas, ao
contrário, sejam
instrumentos para seu desenvolvimento. Da mesma
forma, manifestamos nosso
apoio à defesa da independência e soberania
alimentar dos povos e países.
Neste sentido, saudamos o surgimento do G20 e do
G90 (que reúne os países
africanos) que representam um novo protagonismo
dos países em
desenvolvimento em busca de regras mais justas
para o comércio
internacional. O acordo geral sobre o comércio
dos serviços (AGCS) põe em
causa, nomeadamente, a possibilidade para os
Estados de definirem os seus
serviços públicos. O direito essencial à
independência e à soberania
alimentares deve também ser defendido, contra as
regras atuais da OMC que
destroem a agricultura camponesa.
Confirmamos o compromisso de levar aos nossos
parlamentos respectivos o
debate sobre a necessidade de reorganização do
sistema do comércio
mundial,
atendendo às exigências dos movimentos sociais e
da sociedade civil em
geral.
Os organismos multilaterais como o FMI, o Banco
Mundial e o BID devem ser
profundamente reestruturados. Uma mudança de
forma e de conteúdo, que os
coloque a serviço da redução da pobreza e das
desigualdades, alterando
profundamente o caráter de sua atuação, que tem
se resumido a impor
políticas de ajustes estruturais que resultaram
em desastres
sócio-econômicos na maior parte dos países onde
estes organismos têm
atuado
nas últimas décadas.
O Fórum Parlamentar Mundial apóia as idéias de
desenvolver novas formas de
integração regional, diferentes das que se
baseiam em políticas
neoliberais. Estas novas formas não devem
limitar-se aos aspectos
comerciais, mas estabelecidas sobre bases de
solidariedade e de
cooperação,
tendo como objetivo o desenvolvimento humano de
todos os países. Estas
devem incluir elementos tais como o
desenvolvimento social e o respeito
pelos direitos sociais, a proteção do meio
ambiente, a defesa da cultura e
identidade, o desenvolvimento de infra-estruturas
que facilitem a
integração e o estabelecimento de acordos nos
fóruns internacionais.
Neste sentido, saudamos a recente criação da
Comunidade Sul-Americana de
Nações, esperando que esta tenha como fim esta
concepção.
Solicitamos que se inclua nas agendas dos
parlamentos nacionais implicados
e na do Fórum Social das Américas, a
consideração, o aperfeiçoamento e a
aprovação da Carta Social das Américas promovida
pelo Parlamento
Latino-Americano e pelo Governo da República
Bolivariana da Venezuela, que
será discutida na próxima assembléia da OEA.
Considerações finais
O nosso propósito é recuperar o papel central da
política no processo de
tomada de decisão dos Estados e dos governos.
Cientes de que, nesta era de
globalização econômico-financeira, o poder
legislativo tende a ficar num
plano secundário, reafirmamos nosso papel de
representantes de nossos
povos
e nossa luta pelo reconhecimento da soberania dos
povos, o poder dos
parlamentos que os representam e o aprofundamento
do caráter participativo
das nossas democracias.
Na sua quinta sessão regular, o Fórum Parlamentar
Mundial reafirma a sua
plena solidariedade com os movimentos cidadãos e
os movimentos sociais em
luta contra as políticas neoliberais, a
supremacia dos mercados
financeiros
e das multinacionais sobre a economia
internacional e as dinâmicas de
guerra. Estes movimentos reuniram-se em Porto
Alegre, neste mês de janeiro
de 2005, para elaborar em conjunto as propostas
alternativas concretas à
ordem dominante. Em 2005 e 2006, a Rede
Parlamentar Internacional
empenhar-se-á, tanto no plano mundial quanto
regional, no apoio
aos
movimentos cidadãos e aos movimentos sociais nas
suas
mobilizações e
campanhas.
Neste contexto e numa época onde as decisões
adquirem um
caráter cada vez
mais internacional, a Rede Parlamentar
Internacional assume uma
dimensão
estratégica. A ação dos parlamentares precisa
também incorporar
esta
dimensão internacional.
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