Migração em Rondônia
27/09/2004
- Opinión
Com o objetivo de debater sobre a realidade migratória, avaliar
sua atuação e planejar suas ações na região, reuniram-se am
Porto Velho, RO, nos dias 23 a 25 de setembro, as equipes da
pastoral dos migrantes das dioceses de Porto Velho, Ji-Paraná,
Guajará-Mirim de Rondônia e Manaus, Amazonas.
Diversas preocupações ocuparam os debates. Entre outras, a
constatação da aceleração dos ciclos migratórios no Brasil, em
especial nas áreas de recente ocupação.
Olhando historicamente alguns dos processos migratórios, nos
damos conta de que o tempo decorrido entre a chegada dos
migrantes e um novo movimento de partida, é cada vez mais breve.
Da chagada dos imigrantes europeus no Rio Grande Do Sul até as
primeiras migrações deste estado para Santa Catarina, passaram-
se cem anos. Este mesmo processo no estado do Paraná, não
demorou mais de 30 anos. Os sulistas chegaram em 1950 e já na
década de 70/80 começaram a emigrar para o Mato Grosso e
Rondônia.
O caso de Ji-Paraná
A maioria dos migrantes começaram a chegar por volta de 1975.
Criaram-se projetos de colonização e muita terra foi repartida.
Mas, o que aconteceu com grande parte destas famílias? Mal
haviam decorridos 10 anos desde a sua chagada, grande número de
famílias começaram a abandonar, vender ou alugar seus lotes e
saíram em busca de melhores condições de vida. Dirigiram-se
então para à periferia das cidades ou então para novas frentes
de ocupação.
Segundo a pastoral dos migrantes a maioria do que partiram
novamente, dirigiram-se para Buritis e Vila Nova em Rondônia;
Colniza no Mato Grosso e Apui no Amazonas. Será que estas
famílias se fixaram nestes novos projetos? Boa parte não. Muitas
delas que emigraram para estes projetos em 1993, já estão saindo
novamente. Ou seja, o tempo entre a chagada e a saída das
famílias de migrantes, não passou de dez anos.
Qual é a causa do significativo encurtamento do tempo entre a
chagada e uma nova partida? Segundo os agentes de pastoral, é o
avanço do capital sobre a terra duramente conquistada pelo
migrantes. Ou seja, os migrantes servem de "bucha de canhão".
Amansam a terra e quando ela estiver pronta, destocada, para a
lavoura mecanizada ou para a pecuária, o capital toma conta.
Surge uma nova ameaça
Como se tudo isto não bastasse, as famílias do sul do estado de
Rondônia, no eixo Vilhena-Ji-Paraná estão agora ameaçadas pelo
avanço do plantio da monocultura da soja mecanizada e
tecnificada. O que está acontecendo?
Grande parte das famílias deixaram de se dedicar à agricultura e
passaram a se dedicar à agropecuária. Entretanto, segundo dados
divulgados pela II Assembléia dos Bispos do Regional Noroeste
(RO, AC e sul do Amazonas) o cultivo da soja rende 1000% a mais
por hectare do que as pastagens extensivas, gera mais empregos e
paga melhores salários. Qual é o problema então?
Segundo a CNBB "é a valorização das terras, ou seja, os
produtores de soja compram ou arrendam as terras antes ocupadas
pela agricultura familiar, depois pelas pastagens, por elevado
preço, o que motiva a recriação das áreas de pastagens em raio
maior". Os pecuaristas capitalizados ocupam outras áreas de
floresta o que provoca um novo ciclo de desmatamento.
O avanço da cultura da soja provoca o envenenamento dos rios por
agrotóxicos, salinização e erosão do solo devido ao cultivo
intensivo.
Do ponto de vista social, todo esse processo destruirá
comunidades inteiras de produtores familiares num curto espaço
de tempo. Já experiências anteriores mostram que, as famílias,
pressionadas pelo avanço expansionista da lavoura mecanizada,
venderam as suas terras ou simplesmente foram expulsas. Não há
exceção a essa regra, o processo de expulsão se dá pela
valorização das terras.
Estes processos, atualmente, ocorrem em praticamente todas as
regiões de expansão da agricultura capitalista tecnificada. No
caso de RO, só no ano de 2003, a lavoura de soja ocupou cerca de
60 mil novos hectares de terra. Se considerarmos, segundo dados
da CPT, que a cada novo emprego criado por esse tipo de
agricultura, 11 trabalhadores rurais são expulsos do campo,
teremos um idéia do que virá a suceder nos próximos anos no
estado de Rondônia.
O que será das famílias de migrantes que moram na região? Este é
mais um dos novos desafios para a pastoral dos migrantes.
* Luiz Bassegio é Secretário do Serviço Pastoral dos Migrantes
https://www.alainet.org/es/node/110612
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