Agenda para o desenvolvimento social
09/09/2004
- Opinión
Na campanha eleitoral de 2002, Lula instituiu o CDES (Conselho
de Desenvolvimento Econômico e Social), integrado por
empresários, dirigentes sindicais e personalidades da sociedade
civil. Instalado o novo governo, foi criada a Secretaria
Especial do CDES, diretamente vinculada à Presidência de
República, com status de ministério. Coordenada em 2003 pelo
ministro Tarso Genro, hoje tem à sua frente o ministro Jaques
Wagner.
O CDES, que se reúne periodicamente em Brasília, conta com um
Grupo de Trabalho de Fundamentos Estratégicos, que colabora na
produção dos resultados do projeto ³Brasil em Três Tempos². Seu
objetivo é visualizar como será o nosso país em 2007, quando se
inicia o próximo governo; em 2015, quando o Brasil deverá ter
cumprido as Metas do Milênio propostas pela ONU; e em 2022,
quando completaremos 200 anos de nossa Independência.
Pesquisa efetuada este ano entre os membros do CDES, a maioria
empresários, revelou o Brasil que eles querem. O objetivo é
obter consenso quanto aos fundamentos e as diretrizes de uma
Agenda Nacional de Desenvolvimento. A imagem ideal é de um país
que tenha sanado as carências básicas da economia e da sociedade
brasileiras.
Quais são, na opinião dessas lideranças de nossa sociedade, os
maiores problemas a serem enfrentados? Os principais são a
concentração de renda, a desigualdade social, a pobreza e a
miséria, somados às deficiências de educação. É interessante
constatar, primeiro, que não figura entre eles a falta de
investimento externo ou o baixo índice de nossas exportações.
De certo modo, as prioridades estão todas enfeixadas numa única:
redução da desigualdade social através de melhor distribuição da
renda. O que teria impacto imediato no refluxo da miséria e da
pobreza e, por sua vez, no desemprego e na estagnação econômica,
apontados em segundo lugar e secundados pelas dívidas interna e
externa e a dependência do capital estrangeiro.
Como combater esses problemas e alcançar os objetivos propostos?
O CDES acredita que, entre as potencialidades favoráveis ao
desenvolvimento socioeconômico do Brasil figuram, pela ordem: os
recursos naturais, o turismo, a biodiversidade e o agronegócio,
seguidos da criatividade de nosso povo e de sua diversidade
cultural e étnica, bem como a geração de ciência e tecnologia em
centros de pesquisas e universidades.
O Brasil acredita no Brasil. O que nos falta é uma agenda que
defina a estratégia de desenvolvimento a ser monitorada pelo
governo, porém assumida pelo conjunto da sociedade. Para chegar
a ela é preciso abrir um amplo debate em que todos os atores
sociais tenham voz e vez. Não se trata de tirá-la da cartola de
um grupo de conselheiros. A meta é, no debate com eles e com
outros setores da sociedade, criar as condições para que a nação
possa pensar o país e encontrar soluções que nos arranquem do
subdesenvolvimento, da injustiça, da violência e da dependência
externa. Há que ser realista. Somos uma nação desigual, eivada
de preconceitos, com uma elite desacostumada ao diálogo, um
grande contingente da população sem suficiente educação e
informação, e um Estado desprovido de recursos para bancar, por
si só, o crescimento econômico e o desenvolvimento social.
Há, por outro lado, aspectos positivos. Não fomos devastados por
guerras, não estamos cindidos em ideologias antagônicas, não
contamos com movimentos separatistas, nossa economia não se
encontra mergulhada no caos e a sociedade, malgrado a miséria e
a violência, não está desagregada em seus valores e ainda
acredita que a saída se encontra em medidas institucionais.
Se o Governo Federal estivesse convencido de que só ele conhece
o caminho das pedras, restando à sociedade seguir as vias que
ele aponta, esse debate não estaria sendo proposto. Se o faz é
porque tem consciência de que o Brasil do futuro tem que ser
obra de todos os brasileiros(as). Mas para isso é preciso
detectar os problemas e suas causas, estabelecer uma agenda de
como enfrentá-los, convocar todas as forças sociais e levantar
quais os recursos de que dispomos para alcançar os objetivos
almejados.
Qual o Brasil que nós queremos? Eis o tema que deve ser
intensamente debatido por todos os setores de nossa sociedade:
sindicatos e Igrejas, ONGs e escolas, empresas e centros de
pesquisa, grupos artísticos e equipes de esporte, trabalhadores,
donas de casa, profissionais liberais e empregadores. Esse é o
caminho para que, em 2022, a nossa Independência seja menos
retórica e mais real.
* Frei Betto é escritor, autor de "Gosto de Uva" (Garamond), entre
outros livros.
https://www.alainet.org/es/node/110529?language=en
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