Grito dos Excluidos: Governo em Festa, povo em luta
08/09/2004
- Opinión
"O desfile do Dia da Independência em Brasília foi um espetáculo
de três horas que entremeou demonstrações de militares,
estudantes, grupos de balé e capoeiristas. Tudo emoldurado por
balões e painéis verde-amarelos planejados pelo publicitário
Duda Mendonça".
As mobilizações realizadas em todo o país, no dia sete de
setembro, por ocasião do 10º Grito dos Excluídos, são uma ótima
oportunidade para refletirmos sobre o momento em que vivemos no
Brasil. De um lado, o presidente Lula convocando a todos para
festejar os índices econômicos positivos, o superávit, a balança
comercial favorável, etc. De outro, multidões protestam nas ruas
contra a exclusão social, contra o desemprego, os cortes nos
investimentos sociais, a falta de saúde, moradia digna e tantas
outras necessidades básicas para se viver com dignidade. Como
entender esta dicotomia?
"Brasil: mudanças prá valer, o povo faz acontecer" este é o lema
do grito que mobilizou centenas de milhares de pessoas em todo o
país. Informações, ainda parciais da secretaria nacional,
mostram que o movimento aconteceu em mais de 1800 localidades.
No estado de Minas, por exemplo, realizou-se em 100 municípios e
no Espírito Santo em 20. Dados já coletados mostram ainda que
somente nas cidades de Aparecida, Belo Horizonte, Recife,
Manaus, Campinas, Cuiabá, São Luiz, São Paulo, Vitória,
Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Belém, 210 mil pessoas
participaram das manifestações. Sendo as mais expressivas,
Aparecida com 90 mil, Recife com 30, Manaus com 9 e Campinas com
7 mil e o Estado do Espírito Santo com mais de 30 mil pessoas
Tradicionalmente, o Grito acontece no dia sete de setembro
porque consideramos que o Brasil ainda não é um país livre e
soberano. Sofre com a ditadura do capital financeiro e é vítima
das imposições do FMI, do Banco Mundial e da forte interferência
estadounidense nos rumos da nossa economia. Por isso,
estranhamos o fato do presidente chamar a população para
festejar, pois, se é verdade que a economia esta bem, precisamos
saber porque milhares de pessoas saíram às ruas para dizer que
as coisas vão mal. Afinal, quem é que está lucrando com os
índices anunciados pelo governo? O que devemos festejar se a
economia cresce sem partilha, sem distribuição de renda?
Lembramos a velha palavra de ordem: não basta fazer o bolo
crescer, é preciso reparti-lo. É preciso entender que aumentar a
balança comercial via aumento de produtividade, avanços
tecnológicos e ampliação do agro-negócio, não necessariamente
significarão aumento de postos de trabalho, repartição de renda
e inclusão social. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra,
a cada emprego criado no campo, via agro-negócio, 11
trabalhadores rurais perdem o emprego. Então, para que serve
este crescimento econômico? Ou melhor perguntando, para quem
serve? Será em benefício das massas desempregadas das
periferias das cidades, para os milhões de jovens que esperam
uma oportunidade de emprego? Ou ainda para os milhares de
migrantes que buscam alternativas em outros países?
Enfim, tudo isto nos leva a uma reflexão sobre os rumos que o
governo vem dando à nossa economia. Certamente que alguns
setores tem muito a comemorar. Os que estão lucrando até podem
gostar do espetáculo cívico e militar do 7 de setembro do Duda
Mendonça, assim como do espetáculo do crescimento do ministro
Pallocci. Mas aqueles que saíram às ruas para gritar por
soberania, por trabalho, saúde, educação e reforma agrária,
certamente não tem muito o que festejar. Tampouco os milhares de
moradores de rua que estão assombrados com as chacinas
acontecidas em São Paulo e em outras cidades do país.
Muito mais do que resgatar os grandes desfiles cívicos e
militares dos velhos tempos, o presidente Lula precisa resgatar
a esperança que o povo brasileiro tinha quando o elegeu.
O que fica neste sete de setembro é o desejo de mudança pra
valer! Mudança que beneficie as massas. Mudança que signifique a
inclusão dos excluídos.
* Luiz Bassegio e Luciane Udovic da secretaria continental do
Grito dos Excluídos.
https://www.alainet.org/es/node/110528?language=en
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