Carta do MST

06/04/2004
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Carta aos Amigos e Amigas Estou aproveitando esse nosso espaço do MST Informa, para lhes escrever sobre os últimos acontecimentos relacionados com nosso Movimento. Como todos devem estar acompanhando, nos últimos dias a chamada "grande imprensa" voltou a pautar com intensidade o MST e nossas declarações. As bandeiras vermelhas.. No ultimo fim de semana houve uma plenária de movimentos sociais do Mato Grosso do sul. Nessa plenária estávamos preparando a campanha contra o desemprego na região, e a preparação do primeiro de maio. A TV globo filmou o discurso de enceramento aonde conclamei aos companheiros/as a se organizarem, se mobilizarem, que é a única forma de influenciarmos na conjuntura e lutarmos contra o desemprego. Para isso precisamos organizar um grande e combativo primeiro de maio, nas principais cidades do Brasil. A manipulação da Globo no jornal nacional foi evidente. E logo toda imprensa repercutiu como se fosse o fim do mundo. CPI da Terra. No dia 1 de abril fui convidado para depor na CPI da terra, para explicar as posições do MST sobre a questão agrária. Fui, então, com muito prazer explicar aos parlamentares a situação da luta pela Reforma Agraria. Durante 4 horas tive oportunidade de expor nossa visão sobre o problema agrário nesse país, que vem desde o período colonial. Expliquei as razões históricas de porque a classe dominante nunca quis fazer Reforma Agraria nesse país e que já perdemos oportunidades históricas de democratizar a propriedade da terra. A primeira foi quando saímos da escravidão (1888) depois na revolução de 30, com a implantação do modelo de industrialização. Mais tarde, na crise econômica da década de 60, de novo nosso mestre Celso Furtado havia proposta uma Reforma Agraria para sair da crise. E o governo caiu logo após o anuncio da lei de Reforma Agraria. Depois, na redemocratizaçao perdemos a oportunidade no governo Sarney. Agora estamos diante da quinta oportunidade histórica. Mas, infelizmente estamos enfrentando novamente muitos problemas. De um lado temos a herança histórica, desse processo de concentração da propriedade da terra, que levou apenas um por cento dos proprietários a controlem 46 % de todas as terras. De outro lado temos 4 milhões de famílias sem terra. Esse processo se agravou, com o modelo neoliberal da década de 90, que implementou um modelo agrícola ainda mais excludente. Porque subordinou nossa agricultura aos ditames do capital internacional. A conjuntura atual. Bem, agora estamos diante de um novo cenário. Temos um governo que tem o compromisso histórico de realizar Reforma Agrária. Fizemos com o governo um acordo de um plano de Reforma Agrária para assentar 400 mil famílias, nos três anos. Mas, persistem muitos problemas. Há dificuldades na estrutura do estado que não está preparado para fazer as mudanças necessárias. Há dificuldades na forma do Incra funcionar. Há dificuldades em acelerar as vistorias e desapropriações dos latifúndios, para acelerar os assentamentos. Na nossa avaliação é que esse embrolio somente se resolverá, se houver mobilização social, se houver pressão social. E a nossa tarefa do MST é justamente organizar os Sem Terra, conscientizá-los e mobilizá-los para que lutem para tirar do papel os compromissos da Reforma Agrária. Jornada de lutas. É com esse espirito de organizar, mobilizar é que estamos levando adiante uma jornada de lutas, em homenagem aos mártires de Carajás. Como todos sabem, o dia 17 de Abril é celebrado em todo mundo, como dia internacional de luta camponesa. E inclusive aqui no Brasil há um decreto do presidente FHC, que por iniciativa da senador Marina Silva, declarou dia 17 de Abril, dia nacional de luta pela Reforma Agrária. O que queremos com essas mobilizações? Queremos mostrar para a sociedade de que a Reforma Agrária é um caminho importante e necessário para podermos criar a curto prazo, mais de 3 milhões de empregos, e assim combater não só a pobreza, mas também o desemprego, que é o principal problema de nosso povo. Queremos pressionar o governo, para que ele transforme a Reforma Agrária em uma prioridade de todo governo e não apenas do Incra. E assim, que se reestruture o Incra, com contratações de técnicos, de servidores públicos para realizar as vistorias e organizar os assentamentos. Queremos que o governo trate a Reforma agrária como um plano de desenvolvimento, que esteja ligado a implantação de agroindústrias, com a implantação de escolas, e com garantia de assistência técnica, a todos os assentados. Queremos conclamar a toda sociedade brasileira para discutir um novo projeto para o país. Todas as forças sociais reunidas na Coordenação de Movimentos Sociais, estão exigindo mudanças na política econômica e adoção de um novo projeto. Mas, esse projeto precisa ser discutido com a população. Ou seja, está na hora do Brasil se mexer... sem mobilização social, não haverão as sonhadas mudanças, pelas quais votamos em 2002. Um forte abraço a todos João Pedro Stedile MST Informa - Ano III - nº 61 quarta-feira, 7 de abril de 2004
https://www.alainet.org/es/node/109725?language=en
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