Terror de fim de Império

19/03/2004
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O terror de Madrid nos obriga a pensar. Ele nos lembra a crise do Imperio romano descrita em detalhe pelos dois grandes historiadoes E. Gibbon e T. Mommsen. Deixaram claro que ela se deveu principalmente ao desmantelamento da ordem jurídico-religioso- militar romana ao longo de trezentos anos. A consequência foi o terrorismo generalizado: assassinato dos imperadores, pirataria no mar e assaltos de bandoleiros em terra, que dificultavam o comércio e liquidaram a segurança das comunicações. Só os cristãos, por via pacífica, salvaram, depois, o Império. Nossos piratas e bandoleiros hoje são os terroristas. Eles revelam a crise do Império Ocidental que se auto-denominou de globalização. Ele é marcado por tantas contradições que não consegue, senão pela violência militar e pelo terror econômico, impôr a sua ordem a todos. Mas produziu decepção e muita raiva no mundo. Especialmente no mundo muçulmano. Este sabe que detém o sangue do sistema (o petróleo) mas não conta nada na sua configuração. Ademais, se sente discriminado e injustiçado, nomeadamente, no conflito palestino- israelense, diante do qual os EUA e o Ocidente assumiram uma posição unilateral. Na União Européia vivem 12% de muçulmanos, muitos ilegais. São explorados socialmente (ausência de garantias sociais), discriminados culturalmente (o véu na França) e desprezados religiosamente (Itália de Berlusconi). Buscam apoio nos líderes religiosos, na maioria fundamentalistas, e estão expostos aos grupos extremistas que os recrutam para suas estratégias. Como existe uma globalização do sistema de segurança, primeiro financeira e depois militar, há também a globalização dos que se opõem. Os fortes usam a guerra preventiva, os fracos o terror. Temos defendido a tese de que a única guerra que os fracos podem ganhar é esta, do terror. Eles são imbatíveis na medida em que aceitam morrer e se fazem homens-bomba. Contra um homem/mulher-bomba não há defesa possível. O Império sob Bush definiu uma estratégia compreensível mas equivocada: ser também fundamentalista e pagar mal com mal, combatendo o terror com terror. Os principais analistas já o disseram: nenhuma medida, após o 11 de setembro, conseguiu elimitar a ameaça, sequer diminui-la. Antes, alimentaram a intolerância muçulmana com a intolerância ocidental. Nessa direção não há caminho possível. Se o problema do terror é global, a solução também é global, passa pelo único organismo global que é a ONU. Lá devem se centralizar as estratégias globais. Aos países cabe dar segurança possível a seus cidadãos e reforçar as estratégias globais. Todos devem trabalhar com um pé no campo do presente e com o outro no campo do futuro. No presente: a sociedade e o Estado, sofisticando mecanismos de segurança, mesmo com eficácia limitada. No futuro:colocando os elementos de uma nova ordem política mundial na qual todos possam caber, sem potências hegemônicas, mas com garantia para todos, de um mínimo de equidade na participação dos recursos escassos da Terra e dos bens da cultura humana. É difícil para a tual ordem mundial (que é desordem para a maioria da humanidade) entender que o terrorismo é primeiramente consequência e só depois causa da insegurança atual. Mas se continuar arrogante e cego, o Ocidente vai ficar sem solução, mais e mais vítima do terror e, no termo, cada vez mais um acidente na nova história humana. * Leonardo Boff. Teólogo.
https://www.alainet.org/es/node/109614
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