Um Brasil para todos e todas

25/09/2003
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O Brasil é um país de muitos desafios. O maior deles é reduzir a desigualdade social, que faz com que 10% da população se apropriem de mais de 60% da renda nacional. Segundo o Fome Zero, são 44 milhões de pessoas em estado de subnutrição, com graves conseqüências, como o alto índice de mortalidade infantil que ceifa precocemente a vida de cerca de 180 mil crianças de 0 a 5 anos de idade a cada ano. Esse abismo de desigualdade social produz uma série de efeitos negativos sobre a nossa população, prejudicando a convivência harmônica entre cidadãos e cidadãs. O maior deles é a violência, devido à ausência de uma reforma agrária que crie condições de permanência e estabilidade da família no campo, evitando o êxodo rural e o alargamento do cinturão de favelas e miséria em torno, sobretudo, das grandes metrópoles. O governo Lula, que é resultado dos movimentos sociais brasileiros surgidos ao longo dos últimos 40 anos, propõe-se a enfrentar tais desafios. O Fome Zero é o exemplo maior, sobretudo por seu caráter não-assistencialista. A cada uma das 758 mil famílias em 830 municípios que possuem o cartão- alimentação, é facilitado o acesso a um conjunto de políticas públicas: saúde, recursos hídricos, alfabetização e escolaridade, agricultura familiar, microcrédito etc. É isto que faz do Fome Zero um programa de inclusão social. Na concepção do presidente Lula, o Estado tem que ser o indutor de uma grande mobilização da sociedade. Tal proposta visa a reduzir a distância que historicamente se criou entre o poder público e a sociedade civil, Estado e Nação, autoridades e povo. Com o objetivo de quebrar tais barreiras é que o governo Lula ampliou sua base de governabilidade para além das fronteiras do parlamento. Criou uma série de conselhos, como o de Desenvolvimento Econômico e Social e o CONSEA (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional), nos quais a sociedade civil organizada encontra-se devidamente representada. Contudo, toda essa mobilização não é suficiente para que o Brasil se torne uma nação saudável e feliz se cada um de nós não se convencer de que algo se pode e se deve fazer para combater as desigualdades e as injustiças, construindo um Brasil que seja o retrato de uma grande família. São muitas as barreiras ainda a vencer: desde a discriminação racial, tão presente em nossos comportamentos habituais, e tão evidente nos índices que revelam a rara presença negra nos postos de comando do poder público e da iniciativa privada; as relações de gênero ainda machucadas pelo latente machismo inoculado em nossa cultura com sérias conseqüências na discriminação dos homossexuais; o preconceito aos movimentos sociais como o MST, que lutam por direitos como a reforma agrária, levando muitas pessoas a condenar os sem-terra, quando o verdadeiro réu a ser julgado e erradicado deveria ser o latifúndio. A harmonia de uma nação é resultado das intenções e das ações de seus cidadãos e cidadãs. Sem este protagonismo, nós estaremos reforçando o caráter clientelista do Estado e a imobilidade da sociedade. Direitos não são presentes, são conquistas. * Frei Betto é escritor, autor do romance "Alucinado Som de Tuba" (Ática), entre outros livros.
https://www.alainet.org/es/node/108456?language=es
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