Chiapas: a décima terceira estela. Quinta parte: uma história
30/07/2003
- Opinión
A história dos municípios autônomos rebeldes zapatistas é
relativamente jovem, completou 7 anos e entra nos 8.
Apesar de terem sido declarados por ocasião da ruptura do
cerco de dezembro de 1994, os municípios autônomos
rebeldes zapatistas (os MAREZ) levaram ainda um tempo
para concretizar-se.
Hoje, o exercício da autonomia indígena é uma realidade
em terras zapatistas, e temos o orgulho de dizer que tem
sido conduzido pelas próprias comunidades. Neste
processo, o EZLN tem se dedicado unicamente a acompanhar
e a intervir quando há conflitos ou desvios. Por isso, é
que a voz do EZLN não coincidia com a dos municípios
autônomos. Estes expressavam diretamente denúncias,
diligências, esclarecimentos, acordos, relações de
irmandade (não são poucos os municípios autônomos
rebeldes zapatistas que mantêm relações com municípios de
outros países, principalmente da Itália). Se agora os
autônomos têm pedido que o EZLN cumpra as funções de
porta-voz é porque entraram numa etapa superior de
organização e, generalizada esta, não cabe a um único
município, ou a vários, o dá-lo a conhecer. Por isso, o
acordo foi que o EZLN desse a conhecer isso que agora
muda.
No período anterior, os problemas das autoridades
autônomas podem ser reunidos em dois grupos: os que se
referem à sua relação com a sociedade civil nacional e
internacional e os que se referem ao seu autogoverno, ou
seja, às relações com as comunidades zapatistas e não
zapatistas.
Em sua relação com a sociedade civil nacional e
internacional, o problema principal é que há um
desenvolvimento desequilibrado dos municípios autônomos,
das comunidades que se encontram em seu interior e,
inclusive, das famílias de zapatistas que vivem aí. Ou
seja, os municípios autônomos mais conhecidos (como os
que são sedes dos já extintos Aguascalientes) ou mais ao
alcance da mão (mais próximos dos centros urbanos ou com
acesso pela estrada), recebem mais projetos e mais apoio.
O mesmo ocorre com as comunidades. As mais conhecidas e
as que se encontram à beira da estrada recebem mais
atenção das "sociedades civis".
No caso das famílias zapatistas, acontece que a sociedade
civil, quando visita as comunidades, trabalha em projetos
ou se instala com o acampamento de paz, costuma construir
uma relação especial com uma ou várias famílias da
comunidade. Logicamente, com obrigações, presentes ou
atenções especiais, estas famílias têm mais vantagens do
que as demais, ainda que sejam todas zapatistas. Também
não é raro que aqueles que têm uma interlocução com a
sociedade civil pelo cargo que ocupam na comunidade, no
município autônomo, na região, ou na área, recebam
atenções especiais e presentes que muitas vezes dão o que
falar no resto da comunidade ou não seguem o critério
zapatista de "a cada um de acordo com suas necessidades".
Devo esclarecer que não se trata de uma relação perversa
nem do que alguém, com soberba, chamou de "contra-
insurreição bem intencionada", mas sim de algo natural
nas relações humanas. Contudo, isso pode produzir
desequilíbrios na vida comunitária quando não há
contrapesos a esta atenção privilegiada.
No que se refere à relação com as comunidades zapatistas,
o "mandar obedecendo" foi aplicado sem distinção. As
autoridades devem ver que se cumpram os acordos das
comunidades, suas decisões devem ser regularmente
informadas, e o "peso" do coletivo, junto com o "passa a
voz" que funciona em todas as comunidades, se convertem
num vigilante difícil de evadir. Ainda assim, há casos de
alguém que tem a manha de burlar isso e corromper-se, mas
não chega muito longe. É impossível ocultar um
enriquecimento ilícito nas comunidades. O responsável é
castigado com a obrigação de torná-lo coletivo e de repor
à comunidade o que pegou indevidamente.
Quando a autoridade se desvia, se corrompe ou, para usar
um termo nosso, "está com malandragem" é removida do
cargo e uma nova autoridade a substitui. Nas comunidades
zapatistas o cargo de autoridade não tem remuneração
alguma (durante o tempo em que a pessoa é autoridade, a
comunidade a ajuda na sua manutenção), é concebido como
um trabalho em benefício do coletivo e é rotativo. Não
poucas vezes é aplicado pelo coletivo para punir a
indolência ou a indiferença de algum de seus integrantes,
como quando alguém que falta muito nas assembléias
comunitárias é castigado com o cargo de agente municipal
ou enviado ejidal.
Esta "forma" de autogoverno (que aqui resumo ao extremo)
não é uma invenção ou uma contribuição do EZLN. Vem de
mais longe e, quando o EZLN nasceu, já estava funcionando
há um bom tempo, ainda que só ao nível de cada
comunidade.
É com o crescimento desmedido do EZLN (que, como já
expliquei, se deu no final dos anos 80), que esta prática
passa do local ao regional. Funcionando com responsáveis
locais (isto é, os encarregados da organização em cada
comunidade), regionais (um grupo de comunidades) e de
área (um grupo de regiões), o EZLN viu que, de forma
natural, os que não davam conta dos trabalhos eram
substituídos por outros. Ainda que aqui, como se tratava
de uma organização político militar, o comando tomava a
decisão final.
Com isso, quero dizer que a estrutura militar do EZLN
"contaminava" de alguma forma uma tradição de democracia
e de autogoverno. O EZLN era, para assim dizer, um dos
elementos "antidemocráticos" numa relação de democracia
direta comunitária (outro elemento antidemocrático é a
Igreja, mas este é assunto para outro escrito).
Quando os municípios autônomos começam a caminhar, o
autogoverno não passa só do local ao regional, mas também
se desprende (sempre tendencialmente) da "sombra" da
estrutura militar. Na designação ou na destituição das
autoridades autônomas, o EZLN não intervém em nada, e só
tem se limitado a sublinhar que, como o EZLN, por seus
princípios, não luta pela tomada do poder, nenhum dos
comandantes militares ou membros do Comitê Clandestino
Revolucionário Indígena pode ocupar um cargo de
autoridade na comunidade ou nos municípios autônomos.
Aqueles que decidem participar dos governos autônomos
devem renunciar definitivamente ao seu cargo organizativo
dentro do EZLN.
Não vou me estender muito sobre o funcionamento dos
Conselhos Autônomos, eles têm seu agir próprio ("seu
jeito", dizemos nós) como aval, e não são poucas as
testemunhas das "sociedades civis" nacionais e
internacionais que têm visto eles funcionar e que
trabalham diretamente com eles.
Contudo, não quero que fique a impressão de que se trata
de algo perfeito e que seja idealizado. O "mandar
obedecendo" nos territórios zapatistas é uma tendência, e
não está isenta de sobe-e-desce, contradições de desvios,
mas é uma tendência dominante. Que isso tem resultado em
benefício das comunidades fala o fato de ter conseguido
sobreviver em condições de perseguição, hostilidade e
pobreza que poucas vezes podem ser encontradas na
história do mundo. Não só, os conselhos autônomos têm
conseguido levar adiante, com o apoio fundamental das
"sociedades civis", um trabalho titânico: construir as
condições materiais para a resistência.
Encarregados de governar um território em rebeldia, ou
seja, sem apoio institucional algum e sob perseguição e
hostilidade, os conselhos autônomos centraram suas
baterias em dois aspectos fundamentais: a saúde e a
educação.
Na saúde, não se limitaram a construir clínicas e
farmácias (sempre apoiados pelas "sociedades civis", não
podemos esquecer disso), formaram também agentes de saúde
e mantêm campanhas permanentes de higiene comunitária e
de prevenção de doenças.
Uma vez, uma destas campanhas esteve muito perto de
custar-me o ser criticado na assembléia (não sei se vocês
sabem o que é ser criticado numa assembléia, mas, caso
não saibam, basta que lhes diga que o inferno deve ser
algo parecido) e ser "olhado" pela comunidade (ou seja,
as pessoas "olham" para você, mas com um desses olhares
que dá calafrios, enfim, uma espécie de purgatório).
Acontece que, acho que foi em La Realidad, estava de
passagem e pernoitava numa das choças que os companheiros
têm para casos como estes. Nesse dia, passou o "comitê de
saúde" da comunidade para verificar as latrinas de cada
casa (havia o acordo de que as latrinas deviam ser
cobertas regularmente com cal ou cinzas para evitar a
proliferação das doenças). Obviamente, a nossa latrina
não tinha cal e nem cinzas.
Os do "comitê de saúde" me disseram, carinhosamente,
"companheiro subcomandante insurgente Marcos, estamos
vistoriando as latrinas por acordo da comunidade e sua
latrina não tem cal e nem cinzas e então você tem que
colocá-las e amanhã voltamos para ver se já foram
colocadas". Eu comecei a balbuciar algo sobre a viagem, o
cavalo coxo, os comunicados, as movimentações militares,
os paramilitares e não lembro mais do que. Os do "comitê
de saúde" ouviram pacientemente até que parei de falar e
só disseram "é tudo, companheiro subcomandante insurgente
Marcos". É óbvio que, no dia seguinte, quando passaram os
do "comitê de saúde", a latrina estava com cinzas, cal e
areia, menos o cimento, mas isso só porque não o
encontrei, do contrário tampava até pra sempre a dita
latrina.
Quanto à educação, nas terras em que não havia escolas, e
muito menos professores, os Conselhos Autônomos (com o
apoio das "sociedades civis", não me cansarei de repeti-
lo) construíram escolas, capacitaram promotores de
educação e, em alguns casos, até criaram seus próprios
conteúdos educativos e pedagógicos. Manuais de
alfabetização e livros de texto são preparados pelos
"comitês de educação" e por promotores, acompanhados
pelas "sociedades civis" que entendem destes assuntos.
Em algumas regiões (mas não em todas, claro) já se
conseguiu que as meninas freqüentem a escola, elas que,
desde os tempos antigos, eram marginalizadas do acesso ao
conhecimento. Mesmo tendo conseguido que as mulheres não
sejam vendidas e escolham livremente o seu parceiro,
existe ainda em terras zapatistas o que as feministas
chamam de "discriminação de gênero". Ainda falta bastante
para que a chamada "lei revolucionária das mulheres" seja
cumprida.
Continuando com a educação, em alguns lugares, as bases
zapatistas têm feito acordos com professores da seção
democrática do sindicato do magistério (ou seja, os que
não estão com a Gordillo) para que não façam trabalho de
contra-insurreição e respeitem os conteúdos recomendados
pelos Conselhos Autônomos. Zapatistas que são, estes
professores democráticos aceitaram o acordo e o têm
cumprido plenamente.
Claro, nem os serviços de saúde, nem os de educação
atingem todas as comunidades zapatistas, mas boa parte
delas, a maioria, já tem uma forma de conseguir um
remédio, cuidar de uma doença e conseguir um veículo para
levar alguém à cidade no caso de doença ou acidente
graves. A alfabetização e o primário estão só se
generalizando, mas uma região já conta com uma secundária
autônoma que, nestes dias, "faz a graduação" de uma nova
leva de homens e, atenção, mulheres indígenas.
Dias atrás, me mostraram os diplomas e os certificados de
estudo da Secundária Rebelde Autônoma Zapatista. Minha
modesta opinião é que deveriam fazê-los de chicle porque
têm como cabeçário um "EZLN - Exército Zapatista de
Libertação Nacional", e, logo em seguida, se lê (em
"castelhano" e em tzotzil) "O Sistema Educativo Rebelde
Autônomo Zapatista de Libertação Nacional (se refere ao
que funciona em Los Altos, porque em outras regiões há
outros sistemas educativos) certifica que o (a) aluno (a)
fulano (a) cursou satisfatoriamente os três graus da
Secundária Autônoma, de acordo com os Planos e Programas
Zapatistas da ESRAZ, Escola Secundária Rebelde Autônoma
Zapatista 1º de Janeiro", obtendo uma média geral de
_____. Razão pela qual o nosso Sistema Educativo
reconhece o seu esforço, suas contribuições à luta de
resistência e convida-o a partilhar com nossos povos o
que o povo lhe deu".E, em seguida, diz "Por uma educação
libertadora! Por uma educação científica e popular!
Coloco-me a serviço do meu povo". Assim que, em caso de
perseguição, o aluno não só não poderá exibi-lo, mas sim
terá que comê-lo, por isso é melhor que seja de chicle.
Há também o boletim com as várias notas (que aparece como
um "reconhecimento") e nele se lêem as matérias (na
realidade não são matérias, mas sim "áreas") que são
cursadas: Humanismo, Esportes, Artes, Reflexão sobre a
Realidade, Ciências Sociais, Ciências Naturais, Reflexão
sobre a língua materna, Comunicação, Matemática, Produção
e Serviços à comunidade. Só há dois conceitos: "A" ("área
aprovada") e "ANA" ("área não-aprovada"). Já sei que as
"Anas" que existem no mundo vão se ofender, mas eu não
posso fazer nada porque, como costumo dizer, os autônomos
são autônomos.
A educação é gratuita e os "comitês de educação"
(reitero: com o apoio das "sociedades civis") se esforçam
para que cada aluno tenha o seu caderno e o seu lápis,
sem ter de pagar por ele.
Quanto à saúde, está se fazendo também o esforço para que
também seja gratuita. Em algumas clínicas zapatistas já
não se cobra aos companheiros nem a consulta, nem o
remédio, nem a cirurgia (quando esta se faz necessária e
é possível nas nossas condições), e nas demais se cobra o
custo do remédio, não a consulta e nem o cuidado médico.
Nossas clínicas têm o apoio e a participação direta de
especialistas, cirurgiões, médicos e médicas, enfermeiros
e enfermeiras da sociedade civil nacional e
internacional, bem como de alunos e residentes de
medicina e odontologia da UNAM, da UAM e de outros
institutos de ensino superior. Não cobram um único
centavo e muitas vezes tiram do seu bolso.
Eu sei que mais de um estará pensando que já está
parecendo um informe do governo e só falta que eu diga
que "o número de pobres foi reduzido" ou algumas
"foxeadas" bem ao estilo, mas não, por aqui o número de
pobres tem crescido porque o número de zapatistas tem
crescido, e uma coisa acompanha a outra.
Por isso, quero reafirmar que tudo isso se dá em
condições extremas de pobreza, carência, limitações
técnicas e de conhecimentos, além do fato de que o
governo faz o possível para bloquear os projetos que vêm
de outros países.
Há pouco tempo, algumas pessoas da "sociedade civil" me
falaram dos sofrimentos que tiveram para trazer uma
geladeira que funciona a energia solar. O projeto
consiste em vacinar as crianças, mas a maioria das
comunidades não tem energia elétrica ou, quando tem, não
tem refrigerador. De tal forma, que a geladeira
permitiria guardar as vacinas até que fossem aplicadas
naqueles que delas precisam. Bom, acontece que para
trazer a dita geladeira era necessário passar por uma
infinidade de trâmites burocráticos e, conforme se
investigou, só havia uma organização que podia trazer do
exterior o que quer que fosse e de forma rápida: a
"Fundação Vamos México" de Martha Sahagún de Fox. É óbvio
que não se recorreu a esta agência de propaganda. Foram
cumpridos todos os trâmites e, mesmo que demore, a
geladeira será instalada e haverá vacinas.
Além da educação e da saúde, os Conselhos Autônomos vêem
os problemas das terras, do trabalho e do comércio, onde
avançam um pouco. Vêem também questões de moradia e
alimentação, mas estamos engatinhando. Onde se está um
pouco melhor é na cultura e na informação. Quanto à
cultura, se promove, sobretudo, a defesa da língua e das
tradições culturais. Na informação, através das várias
estações da rádio zapatista, são transmitidos noticiários
em língua [indígena]. Também, regularmente e intercalados
com todo tipo de músicas, se transmitem mensagens
recomendando aos homens o respeito às mulheres, e
chamando as mulheres a organizarem-se e exigir o respeito
dos seus direitos. E, não é por nada, mas a nossa
cobertura da guerra do Iraque foi muito superior à da CNN
(o que, olhando bem, não significa muito).
Os Conselhos Autônomos administram também a justiça. Os
resultados são irregulares. Em alguns lugares (por
exemplo, em San Andrés Sakamchén de los Pobres) até os
priistas procuram a autoridade autônoma porque, dizem
"eles sim atendem e resolvem o problema". Em outros, como
vou explicar agora, há problemas.
Quando a relação dos Conselhos Autônomos com as
comunidades zapatistas está cheia de contradições, a
relação com as comunidades não-zapatistas tem sido de
atrito constante e de enfrentamento.
Nos escritórios das organizações não-governamentais
defensoras dos direitos humanos (e no Comando Geral do
EZLN) há uma boa quantidade de denúncias contra os
zapatistas por supostas violações dos direitos humanos,
injustiças e arbitrariedades. No caso das denúncias
recebidas pelo Comando, são distribuídas aos Comitês de
Área para investigar sua veracidade e, em caso de
resposta positiva, resolver o problema juntando as partes
para fazer um acordo.
Mas no caso dos organismos defensores dos direitos
humanos há dúvidas e confusões porque não está definido a
quem devem se dirigir. Ao EZLN ou aos Conselhos
Autônomos?
E têm razão (os defensores dos direitos humanos) porque
não há clareza sobre este assunto. Também há o problema
das diferenças entre o direito positivo e os chamados
"usos e costumes" (como são chamados pelos juristas) ou
"caminho do bom pensamento" (como nós o chamamos). A
solução deste último cabe a quem tem feito da defesa dos
direitos humanos a sua vida. Ou, como no caso Digna Ochoa
(que para encarregado especial do caso não passou de uma
secretária - como se ser uma secretária fosse ser algo
menor-, mas que, para os perseguidos políticos foi, e é,
uma defensora), sua morte. No que diz respeito a uma
definição clara de a quem é necessário se dirigir para
dar andamento a estas denúncias, cabe aos zapatistas. E,
por estes dias, se conhecerá como irão tratar de resolvê-
lo.
Enfim, não são poucos os problemas que a autonomia
indígena enfrenta em territórios zapatistas. Para tratar
de resolver alguns deles, foram realizadas mudanças
importantes em sua estrutura e funcionamento. Mas falarei
sobre isso depois, agora só quis dar um breve panorama do
onde estamos.
Esta longa explicação se deve ao fato de que a construção
desta autonomia indígena não tem sido obra só dos
zapatistas. Se a condução do processo foi exclusiva das
comunidades, a realização contou com o apoio de muitos e
muitas mais.
Se o levante de 1º de janeiro de 1994 foi possível pela
cumplicidade conspiradora de dezenas de milhares de
indígenas, a construção da autonomia em território
rebelde é possível pela cumplicidade de centenas de
milhares de pessoas de diferentes cores, diferentes
nacionalidades, diferentes culturas, diferentes línguas,
enfim, de mundos diferentes.
Com seu apoio, elas e elas tornaram possível (no que tem
sido bom, porque no ruim é só responsabilidade nossa) não
o atendimento às demandas dos indígenas rebeldes
zapatistas, mas sim uma leve melhora em suas condições de
vida e, sobretudo, que tenhamos sobrevivido e feito
crescer mais uma, talvez a menor, das alternativas diante
de um mundo que exclui todos os "outros", ou seja, os
indígenas, jovens, mulheres, crianças, migrantes,
trabalhadores, professores, camponeses, motoristas de
táxi, comerciantes, desempregados, homossexuais,
lésbicas, transexuais, religiosos comprometidos e
honestos, artistas e intelectuais progressistas e
________ (acrescente você o que falta).
Também para todos eles e elas (e aqueles que não são nem
eles e nem elas) deveria ter um diploma próprio que
dissesse "O Exército Zapatista de Libertação Nacional e
as Comunidades Indígenas Rebeldes Zapatistas certificam
que ___________ (nome do - ou da - cúmplice em questão) é
nosso irmão (ã) e tem, nestas terras e conosco, um
coração moreno como casa, a dignidade como alimento, a
rebeldia como bandeira e como amanhã um mundo onde caibam
muitos mundos. Entregue em solos e céus zapatistas aos
tantos dias do mês tal do ano etcétera", e assinam os e
as zapatistas que sabem fazê-lo, e quem não souber, pois
então, põe sua digital". Eu, num canto, colocaria:
Das montanhas do Sudeste Mexicano.
Subcomandante Insurgente Marcos.
México, julho de 2003.
(Continuará...)
https://www.alainet.org/es/node/108121
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