O imperialismo de Bush

04/04/2003
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O Ocidente sempre teve uma obsessão persistente: levar salvação ao mundo. Tentou realizar essa pretensão, primeiro, pela missão cristã e, depois, ao secularizar- se, pela política e pela guerra. Isso significou impôr, por bem ou por mal, os valores e as instituições ocidentais a todos os povos. Esse propósito fundou o imperialismo ocidental (neologismo introduzido em 1870 na Grã-Bretanha) em suas várias formas. Traço característico do imperialismo é não ter limites. Sua lógica leva a conquistar tudo e a todos, o espaço físico, as esferas todas da vida, as mentes e os corações dos povos. E não contente, invoca o mandato divino como os "destinos manifestos" e os "requerimentos". Em nome da missão levou-se o terror a todos os Continentes, impôs-se a uniformização da cultura, instaurou-se a política ocidental e implantou- se a religião cristã ("dilatar a fé o império"). Bush resgata, nos dias atuais, tanto a vertente religiosa quanto a política, conferindo-lhe caráter planetário. Religiosamente entende os Estados Unidos como o "segundo povo eleito" com a missão de destruir o eixo do mal. E politicamente quer salvar o mundo ao configurar a globalização com os valores típicos da cultura norte-americana, segundo ele, a melhor e a mais racional possível. Imbuido desta convicção messiânica, aparece em público de peito inflado, passos largos, gestos triunfantes e ares de césar glorioso ou de rei- sol (de araque). Esse novo imperialismo não se baseia mais no território mas nos interesses globais. Em nome deles, Bush se reserva o direito de intervir quando quiser e lá onde achar que esses interesses estejam sendo ameaçados, como agora no Iraque, depois, talvez, no Irã, na Coréia do Norte, na Colômbia e, não descartemos, na Amazônia continental. Em seu discurso programático à nação de 17 de setembro de 2002, Bush ressuscitou o poder absolutista e imperial ("o que conta é o que nós queremos") e declara a guerra preventiva como instrumento de ordem no mundo. Três valores Bush quer globalizar: a liberdade, a democracia e o livre comércio. Valores preciosos, mas deturpados pela versão capitalista. A liberdade é a independência individual sem ligação social. Significa ganhar dinheiro e acumular, a mais não poder,sem qualquer escrúpulo. Democracia é a delegatícia e formal, só funciona na política mas não na economia, na escola e na vida, como valor universal. O livre comércio é livre para os mais fortes que impõem a sua lógica, de pura competição sem qualquer cooperação. O sonho americano à la Bush é transformar o Globo num imenso mercado comum, onde tudo vira mercadoria, o capital material (bens) e o capital simbólico (valores) e onde tudo é racionalmente administrável, também o afeto, a imagem e a morte. O imperialismo ocidental é a nossa doença, porque continuamos a achar que somos os melhores. Mas também, a duras penas, criamos um antídoto que é a auto- crítica. Demo-nos conta do mal que fizemos aos povos e a nós mesmos. Afinal, somos uma cultura e uma religião entre outras. A cura reside no diálogo incansável, na abertura aos outros, na troca que nos enriquece e nos faz humildes. Essa guerra irrompeu pela recusa ao diálogo, pela satanização do outro e pela pura arrogância. É uma tragédia. * Leonardo Boff
Teólogo
https://www.alainet.org/es/node/107253?language=en
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