Posição do MST/RS sobre os Transgênicos
21/03/2003
- Opinión
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem, através desta alertar a
opinião pública que estamos sendo vítima de uma tentativa de desqualificar e
deslegitimar a nossa Organização perante a sociedade e aliados históricos na
luta contra os transgênicos. Sobretudo, pretendem colocar o Movimento na vala
comum daqueles que sempre se posicionaram favoráveis a liberação da produção
e comercialização destes produtos.
A matéria divulgada pela imprensa local e nacional, que procurou vincular o
MST ao cultivo de produtos transgênicos nos assentamentos, é um exemplo de
uma armação pensada, maquiavelicamente, por setores que são ideologicamente
contra o MST, contra a reforma agrária e favoráveis aos transgênicos. Cabe
destacar que o agricultor assentado que apareceu na reportagem é dissidente
do MST, não pertence ao Movimento e foi articulado para depor na reportagem.
O MST já participou com outros Movimentos do campo e da cidade em muitas
manifestações contra os transgênicos, entre elas: a destruição de uma lavoura
experimental de soja transgênica da MONSANTO, em Não Me Toque; tentamos
impedir o descarregamento de um navio de milho transgênico proveniente da
Argentina, no porto de Recife, fizemos uma manifestação em um supermercado de
Porto Alegre, recolhendo os produtos que contém comprovadamente transgênicos
na sua composição; estivemos presentes em seminários e no dia 8 de março,
Dia Internacional da Mulher ,entramos no escritório da MONSANTO em Porto
Alegre, quando espalhamos um saca de semente de soja com uma caveira
simbolizando a morte. Em contraposição ao projeto de privatização das
sementes, no último Fórum Social Mundial, a VIA CAMPESINA Internacional
lançou a Campanha - Sementes, Patrimônio da Humanidade, em um ato público no
Assentamento 30 de Maio, Charqueadas/RS. Entre outras ações também destruímos
uma lavoura de soja transgênica em um assentamento do Movimento, esta ação em
particular, não teve um caráter punitivo, mas sim de manifestar nossa posição
e alertar para os malefícios econômicos, políticos, ambientais, para a saúde
e culturais que representa a liberação dos produtos transgênicos.
Para o MST, a sociedade brasileira , em particular a gaúcha, esta sendo
vítima de uma conspiração patrocinada pelos defensores dos transgênicos.
Enquanto 71 % da população brasileira não quer consumir estes produtos, a
MONSANTO e seus aliados ( grandes cooperativas, pesquisadores de
universidades financiados pelas transnacionais e dirigentes políticos de
organizações ligadas a agricultura patronal e aos latifundiários) promoveram
um conjunto de ações baseadas na propaganda enganosa na manipulação de
informações e na viabilização do contrabando de sementes. Sabem eles, que
uma das poucas alternativas de expansão dos seus negócios e de aumento de
seus lucros, está diretamente vinculada a possibilidade de liberação dos
transgênicos no Brasil. Este país tem vocação agrícola tem capacidade de
produzir e atender o mercado internacional de grãos.
O clima gerado pela conspiração evidenciadas nas ações e omissões levaram
agricultores a acreditar que a ilegalidade do cultivo dos transgênicos não
era "para valer". Pouco a pouco, mais e mais agricultores foram vendo
vizinhos plantarem sem qualquer conseqüência e que a ilegalidade era
temporária, sem risco real. As autoridades pela omissão, contribuíram para a
situação do fato consumado, assumiram uma cumplicidade com os atos, "
fecharam os olhos" para os fatos.
O Movimento Sem Terra é contra o plantio e comercialização dos produtos
transgênicos e vai continuar lutando para que a MONSANTO, empresa que
viabilizou a comercialização ilegal das sementes seja responsabilizada
criminalmente, e pague indenização às famílias dos pequenos agricultores que
foram enganados. Como demonstração do nosso compromisso de luta contra os
transgênicos, as empresas sociais (cooperativas e associações) do Movimento
não irão receber e comercializar produtos transgênicos.
Entendemos que do ponto de vista estratégico, o que evidenciamos é uma
demanda crescente no mercado internacional pelo grão não transgênico. Neste
sentido, o Brasil é o único país de suprir a demanda, já que tanto os Estados
Unidos como a Argentina, que são grandes exportadores de grãos, já aderiram
aos transgênicos.
Por fim, manifestamos nossa preocupação de que os agricultores que não
infringiram a lei, que foram honestos, tenham sua comercialização garantida e
devidas compensações.
Porto Alegre, 21 de março de 2003.
Direção Estadual MST/RS.
REFORMA AGRÁRIA; POR UM BRASIL SEM LATIFÚNDIO E LIVRE DOS TRANSGÊNICOS.
https://www.alainet.org/es/node/107175
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