Porto Alegre e o Fórum Social Mundial

26/01/2003
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
O movimento que desembocou no Fórum Social Mundial de Porto Alegre teve seu momento fundador no grito zapatista, em 1994, pela lucha internacional de resistência ao neoliberalismo e sua primeira grande formulação programática no editorial de Ignácio Ramonet do Le Monde Diplomatique, de 1997, chamando à luta contra a ditadura do "pensamento único". Quando representantes de ONGs brasileiras buscaram a Bernand Cassen, do Le Monde Diplomatique e de Attac, para propor um Fórum anti-Davos, levaram a idéia de que fosse realizado na Europa. Cassen imediatamente aceitou a proposta, mas indicou que ele deveria realizar-se na periferia do capitalismo – no mundo "globalizado"-, no Brasil, pela importância que a esquerda assumia aqui e em Porto Alegre, pelo sucesso das políticas de orçamento participativo. Foi assim pelo sucesso de uma política pública que Porto Alegre fui guindada a "capital mundial da esperança" e sede permanente do Fórum Social Mundial, para reunir a todos os que se opõem ao neoliberalismo e lutam por "um outro mundo possível". Ainda durante o primeiro Fórum Social Mundial, o então comitê organizador (composto por seis ONGs, pela CUT e pelo MST) havia decidido majoritariamente que não haveria um segundo Fórum em Porto Alegre. Foi necessário ampliar o debate para o conjunto do Fórum para que se expressasse um sentimento unanimemente contrário a essa decisão, que terminou triunfando: foi aprovado que o II. Fórum Social Mundial se realizasse em Porto Alegre. Na reunião do Conselho Internacional do Fórum – formado a partir de junho de 2002 em São Paulo, para constituir-se em instância máxima de direção do Fórum – novamente o comitê organizador brasileiro desejava que não se realizasse o III. Fórum Social em Porto Alegre e que o Fórum se realizasse a cada dois anos. Foi de novo unanimemente derrotado pelo Conselho Internacional, que decidiu que o Fórum é um processo de acumulação para a construção de um projeto hegemônico alternativo ao neoliberalismo, que nessa qualidade se reunirá anualmente, além da realização de Foruns regionais e temáticos e que Porto Alegre será sua sede permanente. O III. Fórum se realizaria em Porto Alegre, em 2004 iria para a Índia e retornaria a Porto Alegre em 2005, como faria sempre, tendo a capital gaúcha como sua sede permanente, incorporando-a seu nome – Fórum Social Mundial de Porto Alegre - ainda quando não se realize aqui. Estas decisões foram tomadas em janeiro de 2002, muito antes portanto das mudanças trazidas pelas eleições, tanto no plano federal quanto estadual. Este ano o Conselho Internacional, reunido antes do III. Fórum Social Mundial reiterou essas decisões. Para caminhar no processo de internacionalização do Fórum se decidiu – corretamente, na minha opinião – que o próximo Fórum se realize na Índia, retornando em 2005 à sua sede permanente – Porto Alegre. Caso as condições não cheguem a se concretizar, se solicitará que de novo Porto Alegre nos brinde sua excepcional e insuperável combinação entre hospitalidade e competência organizativa. Além da sua internacionalização, o Fórum Social Mundial tem que caminhar na direção da sua politização, isto é de formulação globais para o outro mundo que queremos construir. Este Fórum poderá apresentar, pelo menos alternativas dessa ordem para um comércio mundial solidário, que serão levadas ao México, em setembro, no mesmo momento em que repetiremos – dez vezes maior – as manifestações de Seattle em 1999 de repúdio à OMC. O terceiro objetivo do Fórum Social Mundial a partir de aqui é sua democratização, que hoje significa que o próprio Fórum discuta sua natureza, seus caminhos, os que devem participar, como deve ser conduzido. Pela abrangência, por sua diversidade, por prefigurar "o mundo em que caibam todos os mundos" que queremos construir, o Fórum tem que ampliar enormemente a participação de todos nos debates e nas decisões sobre seus destinos, tem que internacionalizar suas instâncias de direção – como o Conselho Internacional já expressa – e eleger de forma clara, transparente, com mandatos precisos e limitados no tempo todas suas instâncias de direção. O "Wall Street Journal" se havia apressado em dizer "Porto Alegre, adeus" em um editorial, logo depois dos atentados de setembro de 2001 - querendo encerrar o mundo na alternativa Bush/Bin Laden. Nós, ao contrário, reafirmando que "um outro mundo é possível", dizemos a Porto Alegre: "- Até logo, obrigado por tudo". E principalmente "- Até sempre", porque Porto Alegre é nossa sede permanente, a permanente capital da esperança.
https://www.alainet.org/es/node/106863?language=es
Suscribirse a America Latina en Movimiento - RSS