Eterna juventude

17/01/2003
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O neoliberalismo descobriu o que os alquimistas e cientistas buscavam há séculos: o elixir da eterna juventude. Malhar, submeter-se a cirurgias plásticas, vestir-se e agir como se fosse eternamente jovem. Claro, ninguém está satisfeito com o próprio corpo, exceto os que não prestam muita atenção nele e consideram a velhice bem-vinda. Fora disso, é tratar de encobrir as rugas, esconder a celulite, adotar regimes de fazer inveja a faquir. Sofrer, sofrer muito para ser contemplada como uma nova Vênus ou um novo Apolo. Sofrer no bolso e na auto-estima, na ascese diante de uma suculenta feijoada ou um bolo de chocolate, na perda de horas de leitura e aprimoramento cultural para dedicar-se à esculturação do próprio corpo. A perenização do presente, como experiência privada, é reflexo da "privatização" filosófica do neoliberalismo, que tem como efeito a glamourização das relações pessoais, criando novos apartheids. São excluídos aqueles que não correspondem aos modelitos do consumismo imperante, como os gordos, os velhos e os feios. Ficar doente, ter uma deficiência física ou um filho com uma anomalia mental, é caso para esconder debaixo do tapete. Quase todo mundo tem, mas pouca gente sabe. Quase todo mundo tem na família um parente portador de uma lógica singular considerada maluquice, mas a família morre de vergonha, dá um jeito de esconder. Por quê? Porque vivemos numa sociedade em que incorporamos os modelitos do consumismo. Não somos capazes de amar o diferente. Buscamos a semelhança. Ou melhor, reinventar-nos à imagem e semelhança dos atores, manequins, atletas e apresentadores(as) de TV que servem de paradigmas consumistas. * Frei Betto é autor de "Hotel Brasil"
https://www.alainet.org/es/node/106843
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