Discurso de Lula en el Congreso el día de la asunción al gobierno
01/01/2003
- Opinión
1 º de enero de 2003
"Companheiros e companheiras
"Mudança"; esta é a palavra chave, esta foi a grande mensagem da sociedade
brasileira nas eleições de outubro. A esperança finalmente venceu o medo e a
sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos.
Diante do esgotamento de um modelo que, em vez de gerar crescimento, produziu
estagnação, desemprego e fome; diante do fracasso de uma cultura do
individualismo, do egoísmo, da indiferença perante o próximo, da desintegração das
famílias e das comunidades
Diante das ameaças à soberania nacional, da precariedade avassaladora da segurança
pública, do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens; diante do
impasse econômico, social e moral do país, a sociedade brasileira escolheu mudar e
começou, ela mesma, a promover a mudança necessária.
Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República: para mudar.
Este foi o sentido de cada voto dado a mim e ao meu bravo companheiro José
Alencar.
E eu estou aqui, neste dia sonhado por tantas gerações de lutadores que vieram
antes de nós, para reafirmar os meus compromissos mais profundos e essenciais,
para reiterar a todo cidadão e cidadã do meu País o significado de cada palavra
dita na campanha, para imprimir à mudança um caráter de intensidade prática, para
dizer que chegou a hora de transformar o Brasil naquela nação com a qual a gente
sempre sonhou: uma nação soberana, digna, consciente da própria importância no
cenário internacional e, ao mesmo tempo, capaz de abrigar, acolher e tratar com
justiça todos os seus filhos.
Vamos mudar, sim. Mudar com coragem e cuidado, humildade e ousadia. Mudar tendo
consciência de que a mudança é um processo gradativo e continuado, não um simples
ato de vontade, não um arroubo voluntarista. Mudanç a por meio do diálogo e da
negociação, sem atropelos ou precipitações, para que o resultado seja consistente
e duradouro.
O Brasil é um país imenso, um continente de alta complexidade humana, ecológica e
social, com quase 175 milhões de habitantes. Não podemos deixá-lo seguir à deriva,
ao sabor dos ventos, carente de um verdadeiro projeto de desenvolvimento nacional
e de um planejamento de fato estratégico. Se queremos transformá-lo, a fim de
vivermos em uma nação em que todos possam andar de cabeça erguida, teremos de
exercer quotidianamente duas virtudes: a paciência e a perseverança.
Teremos que manter sob controle as nossas muitas e legítimas ansiedades sociais,
para que elas possam ser atendidas no ritmo adequado e no momento justo; teremos
que pisar na estrada com os olhos abertos e caminhar com os passos pensados,
precisos e sólidos, pelo simples motivo de que ninguém pode colher os frutos antes
de plantar as árvores Mas começaremos a mudar já, pois como diz a sabedoria
popular, uma longa caminhada começa pelos primeiros passos.
Este é um país extraordinário. Da Amazônia ao Rio Grande do Sul, em meio a
populações praieiras, sertanejas e ribeirinhas, o que vejo em todo lugar é um povo
maduro, calejado e otimista. Um povo que não deixa nunca de ser novo e jovem, um
povo que sabe o que é sofrer, mas sabe também o que é alegria, que confia em si
mesmo em suas próprias forças. Creio num futuro grandioso para o Brasil, porque a
nossa alegria é maior do que a nossa dor, a nossa força é maior do que a nossa
miséria, a nossa esperança é maior do que o nosso medo.
O povo brasileiro, tanto em sua história mais antiga, quanto na mais recente, tem
dado provas incontestáveis de sua grandeza e generosidade, provas de sua
capacidade de mobilizar a energia nacional em grandes momentos cívicos; e eu
desejo, antes de qualquer outra coisa, convocar o meu povo, justamente para um
grande mutirã o cívico, para um mutirão nacional contra a fome.
Num país que conta com tantas terras férteis e com tanta gente que quer trabalhar,
não deveria haver razão alguma para se falar em fome. No entanto, milhões de
brasileiros, no campo e na cidade, nas zonas rurais mais desamparadas e nas
periferias urbanas, estão, neste momento, sem ter o que comer. Sobrevivem
milagrosamente abaixo da linha da pobreza, quando não morrem de miséria,
mendigando um pedaço de pão. Essa é uma história antiga. O Brasil conheceu a
riqueza dos engenhos e das plantações de cana-de-açúcar nos primeiros tempos
coloniais, mas não venceu a fome; proclamou a independência nacional e aboliu a
escravidão, mas não venceu a fome; conheceu a riqueza das jazidas de ouro, em
Minas Gerais, e da produção de café, no Vale do Paraíba, mas não venceu a fome;
industrializou-se e forjou um notável e diversificado parque produtivo, mas não
venceu a fome. Isso n ão pode continuar assim.
Enquanto houver um irmão brasileiro ou uma irmã brasileira passando fome, teremos
motivo de sobra para nos cobrirmos de vergonha.
Por isso, defini entre as prioridade de meu governo um programa de segurança
alimentar que leva o nome de "Fome Zero". Como disse em meu primeiro
pronunciamento após a eleição, se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros
tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a
missão da minha vida.
É por isso que hoje conclamo: Vamos acabar com a fome em nosso país. Transformemos
o fim da fome em uma grande causa nacional, como foram no passado a criação da
Petrobras e a memorável luta pela redemocratização do país.
Essa é uma causa que pode e deve ser de todos, sem distinção de classe, partido,
ideologia. Em face do clamor dos que padecem o flagelo da fome, deve prevalecer o
imperativo ético de somar forças, capacidades e instrumentos para defender o que é
mais sagrado: a dignidade humana.
Para isso, será também imprescindível fazer uma reforma agrária pacífica,
organizada e planejada.
Vamos garantir acesso à terra para quem quer trabalhar, não apenas por uma questão
de justiça social, mas para que os campos do Brasil produzam mais e tragam mais
alimentos para a mesa de todos nós, tragam trigo, tragam soja, tragam farinha,
tragam frutos, tragam o nosso feijão com arroz.
Para que o homem do campo recupere sua dignidade sabendo que, ao se levantar com o
nascer do sol, cada movimento de sua enxada ou do seu trator irá contribuir para o
bem-estar dos brasileiros do campo e da cidade, vamos incrementar também a
agricultura familiar, o cooperativismo, as formas de economia solidária.
Elas são perfeitamente compatíveis com o nosso vigoroso apoio à pecuária e à
agricultura empresarial, à agroindústria e ao agronegócio, são, na verdade,
complementares tanto na dimensão econômica quanto social. Temos de nos orgulhar de
todos esses bens que produzimos e comercializam os.
A reforma agrária será feita em terras ociosas, nos milhões de hectares hoje
disponíveis para a chegada de famílias e de sementes, que brotarão viçosas com
linhas de crédito e assistência técnica e científica. Faremos isso sem afetar de
modo algum as terras que produzem, porque as terras produtivas se justificam por
si mesmas e serão estimuladas a produzir sempre mais, a exemplo da gigantesca
montanha de grãos que colhemos a cada ano.
Hoje, tantas e tantas áreas do país estão devidamente ocupadas, as plantações
espalham-se a perder de vista, há locais em que alcançamos produtividade maior do
que a da Austrália e a dos Estados Unidos. Temos que cuidar bem _muito bem_ deste
imenso patrimônio produtivo brasileiro. Por outro lado, é absolutamente necessário
que o país volte a crescer, gerando empregos e distribuindo renda.
Quero reafirmar aqui o meu compromisso com a produção, com os brasileiros e
brasileiras, que querem trabalhar e viver dignamente do fruto do seu trabalho.
Disse e repito: criar empregos será a minha obsessão. Vamos dar ênfase especial ao
Projeto Primeiro Emprego, voltado para criar oportunidades aos jovens, que hoje
encontram tremenda dificuldade em se inserir no mercado de trabalho. Nesse
sentido, trabalharemos para superar nossas vulnerabilidades atuais e criar
condições macroeconômicas favoráveis à retomada do crescimento sustentado para a
qual a estabilidade e a gestão responsável das finanças públicas são valores
essenciais.
Para avançar nessa direção, além de travar combate implacável à inflação,
precisaremos exportar mais, agregando valor aos nossos produtos e atuando, com
energia e criatividade, nos solos internacionais do comércio globalizado. Da mesma
forma, é necessário incrementar _ muito_ o mercado interno, fortalecendo as
pequenas e microempresas. É necessário também investir em capacitação tecnológica
e infra-estrutura voltada para o escoamento da produção. Para repor o Brasil no
caminho do crescimento, que gere os postos de trabalho tão necessários, carecemos
de um autêntico pacto social pelas mudança e de uma aliança que en trelace
objetivamente o trabalho e o capital produtivo, geradores da riqueza fundamental
da nação, de modo a que o Brasil supere a estagnação atual e para que o país volte
a navegar no mar aberto do desenvolvimento econômico e social. O pacto social
será, igualmente, decisivo para viabilizar as reformas que a sociedade brasileira
reclama e que eu me comprometi a fazer: a reforma da Previdência, reforma
tributária, reforma política e da legislação trabalhista, além da própria reforma
agrária. Esse conjunto de reformas vai impulsionar um novo ciclo do
desenvolvimento nacional. Instrumento fundamental desse pacto pela mudança será o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social que pretendo instalar já a
partir de janeiro, reunindo empresários, trabalhadores e lideranças dos diferentes
segmentos da sociedade civil.
Estamos em um momento particularmente propício para isso. Um momento raro da vida
de um povo. Um momento em que o Presidente da República tem consigo, ao seu lado,
a vontade nacional. O empresariado, os partidos políticos, as Forças Armadas e os
trabalhadores estão unidos. Os homens, as mulheres, os mais velhos, os mais
jovens, estão irmanados em um mesmo propósito de contribuir para que o país cumpra
o seu destino histórico de prosperidade e justiça. Além do apoio da imensa maioria
das organizações e dos movimentos sociais, contamos também com a adesão
entusiasmada de milhões de brasileiros e brasileiras que querem participar dessa
cruzada pela retomada pelo crescimento contra a fome, o desemprego e a
desigualdade social. Trata-se de uma poderosa energia solidária que a nossa
campanha despertou e que não podemos e não vamos desperdiçar. Uma energia ético-
política extraordinária que nos empenharemos para que se encontre canais de
expressão em nosso governo.
Por tudo isso, acredito no pacto social. Com esse mesmo espírito constituí o meu
Mini stério com alguns dos melhores líderes de cada segmento econômico e social
brasileiro. Trabalharemos em equipe, sem personalismo, pelo bem do Brasil e vamos
adotar um novo estilo de Governo com absoluta transparência e permanente estímulo
à participação popular. O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da
coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo. É preciso
enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que
prevalece em certos setores da vida pública.
Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a
população de recursos que são seus e que tanto poderiam ajudar na sua dura luta
pela sobrevivência.
Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar
com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos focados em
resultados sociais concretos. Estou convencido de que temos, dessa forma, uma
chance única de superar os principais entraves ao desenvolvimento sustentado do
País. E acreditem, acreditem mesmo, não pretendo desperdiçar essa oportunidade
conquistada com a luta de muitos milhões e milhões de brasileiros e brasileiras.
Sob a minha liderança o Poder Executivo manterá uma relação construtiva e fraterna
com os outros Poderes da República, respeitando exemplarmente a sua independência
e o exercício de suas altas funções constitucionais.
Eu, que tive a honra de ser Parlamentar desta Casa, espero contar com a
contribuição do Congresso Nacional no debate criterioso e na viabilização das
reformas estruturais de que o País demanda de todos nós.
Em meu governo, o Brasil vai estar no centro de todas as atenções. O Brasil
precisa fazer em todos os domínios um mergulho para dentro de si mesmo, de forma a
criar forças que lhe permitam ampliar o seu horizonte. Fazer esse mergulho não
significa fechar as portas e janelas ao mundo. O Brasil pode e deve ter um projeto
de desenvolvimento que seja ao mesmo tempo nacional e universalista, significa,
simplesmente, adquirir confiança em nós mesmos, na capacidade de fixar objetivos
de curto, médio e longo prazos e de buscar realizá-los. O ponto principal do
modelo para o qual queremos caminhar é a ampliação da poupança interna e da nossa
capacidade própria de investimento, assim como o Brasil necessita valorizar o seu
capital humano investindo em conhecimento e tecnologia. Sobretudo vamos produzir.
A riqueza qu e conta é aquela gerada por nossas próprias mãos, produzida por
nossas máquinas, pela nossa inteligência e pelo nosso suor.
O Brasil é grande. Apesar de todas as crueldades e discriminações, especialmente
contra as comunidades indígenas e negras, e de todas as desigualdades e dores que
não devemos esquecer jamais, o povo brasileiro realizou uma obra de resistência e
construção nacional admirável.
Construiu, ao longo do século, uma nação plural, diversificada, contraditória até,
mas que se entende de uma ponta a outra do território. Dos encantados da Amazônia
aos orixás da Bahia; do frevo pernambucano às escolas de samba do Rio de Janeiro;
dos tambores do Maranhão ao barroco mineiro; da arquitetura de Brasília à música
sertaneja.
Estendendo o arco de sua multiplicidade nas culturas de São Paulo, do Paraná, de
Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e da Região Centro-Oeste. Esta é uma nação
que fala a mesma língua, partilha os mesmos valores fundamentais, se sente que é
brasileir a.
Onde a mestiçagem e o sincretismo se impuseram dando uma contribuição original ao
mundo. Onde judeus e árabes conversam sem medo. Onde a mestiçagem e o sincretismo
se impuseram, dando uma contribuição original ao mundo, onde judeus e árabes
conversam sem medo, onde toda migração é bem-vinda, porque sabemos que em pouco
tempo, pela nossa própria capacidade de assimilação e de bem-querer, cada migrante
se transforma em mais um brasileiro.
Esta nação que se criou sob o céu tropical tem que dizer a que veio; internamente,
fazendo justiça à luta pela sobrevivência em que seus filhos se acham engajados;
externamente, afirmando a sua presença sob erana e criativa no mundo. Nossa
política externa refletirá também os anseios de mudança que se expressaram nas
ruas.
No meu governo, a ação diplomática do Brasil estará orientada por uma perspectiva
humanista e será, antes de tudo, um instrumento do desenvolvimento nacional. Por
meio do comércio exterior, da capacitação de tecnologias avançadas, e da busca de
investimentos produtivos, o relacionamento externo do Brasil deverá contribuir
para a melhoria das condições de vida da mulher e do homem brasileiros, elevando
os níveis de renda e gerando empregos dignos.
As negociações comerciais são hoje de importância vital. Em relação à Alca, nos
entendimentos entre o Mercosul e a União Européia, que na Organização Mundial do
Comércio, o Brasil combaterá o protencionismo, lutará pela eliminação e tratará de
obter regras mais justas e adequadas à nossa condição de país em desenvolvimento.
Buscaremos eliminar os escandalosos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos
que prejudicam os nossos produtores privando-os de suas vantagens comparativas.
Com igual empenho, esforçaremo-nos para remover os injustificáveis obstáculos às
exportações de produtos industriais. Essencial em todos esses foros é preservar os
espaços de flexibilidade para nossas políticas de desenvolvimento nos campos
social e regional, de meio ambiente, agrícola, industrial e tecnológico. Não
perderemos de vista que o ser humano é o destinatário último do resultado das
negociações. De pouco valerá participarmos de esforço tão amplo e em tantas
frentes se daí não decorrerem benefícios diretos para o nosso povo. Estaremos
atentos também para que essas negociações, que hoje em dia vão muito além de meras
reduções tarifárias e englobam um amplo esp ectro normativo, não criem restrições
inaceitáveis ao direito soberano do povo brasileiro de decidir sobre seu modelo de
desenvolvimento.
A grande prioridade da política externa durante o meu governo será a construção de
uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida, com base em ideais
democráticos e de justiça social. Para isso é essencial uma ação decidida de
revitalização do Mercosul, enfraquecido pelas crises de cada um de seus membros e
por visões muitas vezes estreitas e egoístas do significado da integração.
O Mercosul, assim como a integração da América do Sul em seu conjunto, é sobretudo
um projeto político. Mas esse projeto repousa em alicerces econômico-comerciais
que precisam ser urgentemente reparados e reforçados.
Cuidaremos também das dimensões social, cultural e científico-tecnológica do
processo de integração. Estimularemos empreendimentos conjuntos e fomentaremos um
vivo intercâmbio intelectual e artístico entre os países sul-americanos.
Apoiaremos os arranjos institucionais necessários, para que possa florescer uma
verdadeira identidade do Mercosul e da América do Sul. Vários dos nossos vizinhos
vivem hoje situações difíceis. Contribuiremos, desde que chamados e na medida de
nossas possibilidades, para encontrar soluções pacíficas para tais crises, com
base no diálogo, nos preceitos democráticos e nas normas constitucionais de cada
país.
O mesmo empenho de cooperação concreta e de diálogos substantivos teremos com
todos os países da América Latina. Procuraremos ter com os Estados Unidos da
América uma parceria madura, com base no interesse recíproco e no respeito mútuo.
Trataremos de fortalecer o entendimento e a cooperação com a União Européia e os
seus Estados-Membros, bem como com outros importantes países desenvolvidos, a
exemplo do Japão.
Aprofundaremos as relações com grandes nações em desenvolvimento: a China, a
Índia, a Rússia, a África do Sul, entre outros.
Reafirmamos os laços profundos que nos unem a todo o continente africano e a nossa
disposição de contribuir ativamente para que ele desenvolva as suas enormes
potencialidades.
Visamos não só a explorar os benefícios potenciais de um maior intercâmbio
econômico e de uma presença maior do Brasil no mercado internacional, mas também a
estimular os incipientes elementos de multipolaridade da vida internacional
contemporânea.
A democratização das relações internacionais sem hegemonias de qualquer espécie é
tão importante para o futuro da humanidade quanto a consolidação e o
desenvolvimento da democracia no interior de cada Estado.
Vamos valorizar as organizações multilaterais, em especial as Nações Unidas, a
quem cabe a primazia na preservação da paz e da segurança internacionais. As
resoluções do Conselho de Segurança devem ser fielmente cumpridas. Crises
internacionais como a do Oriente Médio devem ser resolvidas por meios pacíficos e
pela negociação. Defenderemos um C onselho de Segurança reformado, representativo
da realidade contemporânea com países desenvolvidos e em desenvolvimento das
várias regiões do mundo entre os seus membros permanentes.
Enfrentaremos os desafios da hora atual como o terrorismo e o crime organizado,
valendo-nos da cooperação internacional e com base nos princípios do
multilateralismo e do direito internacional. Apoiaremos os esforços para tornar a
ONU e suas agências instrumentos ágeis e eficazes da promoção do desenvolvimento
social e econômico do combate à pobreza, às desigualdades e a todas as formas d e
discriminação da defesa dos direitos humanos e da preservação do meio ambiental.
Sim, temos uma mensagem a dar ao mundo: temos de colocar nosso projeto nacional
democraticamente em diálogo aberto, como as demais nações do planeta, porque nós
somos o novo, somos a novidade de uma civilização que se desenhou sem temor,
porque se desenhou no corpo, na alma e no coração do povo, muitas vezes, à revelia
das elites, das instituições e até mesmo do Estado.
É verdade que a deterioração dos laços sociais no Brasil nas últimas duas décadas
decorrentes de políticas econômicas que não favoreceram o crescimento trouxe uma
nuvem ameaçadora ao padrão tolerante da cultura nacional.
Crimes hediondos, massacres e linchamentos crisparam o país e fizeram do
cotidiano, sobretudo nas grandes cidades, uma experiência próxima da guerra de
todos contra todos.
Por isso, inicio este mandato com a firme decisão de colocar o governo federal em
parceria com os Estados a serviço de uma política de segurança pública muito mais
vigorosa e eficiente. Uma política que, combinada com ações de saúde, educação,
entre outras, seja capaz de prevenir a violência, reprimir a criminalidade e
restabelecer a segurança dos cidadãos e cidadãs. Se conseguirmos voltar a andar em
paz em nossas ruas e praças, daremos um extraordinário impulso ao projeto nacional
de construir, neste rincão da América, um bastião mundial da tolerância, do
pluralismo democrático e do convívio respeitoso com a diferença.
O Brasil pode dar muito a si mesmo e ao mundo. Por isso devemos exigir muito de
nós mesmos. Devemos exigir até mais do que pensamos, porque ainda não nos
expressamo s por inteiro na nossa história, porque ainda não cumprimos a grande
missão planetária que nos espera.
O Brasil, nesta nova empreitada histórica, social, cultural e econômica, terá de
contar, sobretudo, consigo mesmo; terá de pensar com a sua cabeça; andar com as
suas próprias pernas; ouvir o que diz o seu coração. E todos vamos ter de aprender
a amar com intensidade ainda maior o nosso País, amar a nossa bandeira, amar a
nossa luta, amar o nosso povo.
Cada um de nós, brasileiros, sabe que o que fizemos até hoje não foi pouco, mas
sabe também que podemos fazer muito mais. Quando olho a minha própria vida de
retirante nordestino, de menino que vendia amendoim e laranja no cais de Santos,
que se tornou torneiro mecânico e líder sindical, que um dia fundou o Partido dos
Trabalhadores e acreditou no que estava fazendo, que agora assume o posto de
supremo mandatário da nação, vejo e sei, com toda a clareza e com toda a
convicção, que nós podemos muito mais.
E, para isso, basta acreditar e m nós mesmos, em nossa força, em nossa capacidade
de criar e em nossa disposição para fazer.
Estamos começando hoje um novo capítulo na história do Brasil, não como nação
submissa, abrindo mão de sua soberania, não como nação injusta, assistindo
passivamente ao sofrimento dos mais pobres, mas como nação altiva, nobre,
afirmando-se corajosamente no mundo como nação de todos, sem distinção de classe,
etnia, sexo e crença.
Este é um país que pode dar, e vai dar, um verdadeiro salto de qualidade. Este é o
país do novo milênio, pela sua potência agrícola, pela sua estrutura urbana e
industrial, por sua fantástica biodiversidade, por sua riqueza cultural, por seu
amor à natureza, pela sua criatividade, por sua competência intelectual e
científica, por seu calor humano, pelo seu amor ao novo e à invenção, mas
sobretudo pelos dons e poderes do seu povo. O que nós estamos vivendo hoje neste
momento, meus companheiro s e minhas companheiras, meus irmãos e minhas irmãs de
todo o Brasil, pode ser resumido em poucas palavras: hoje é o dia do reencontro do
Brasil consigo mesmo.
Agradeço a Deus por chegar até aonde cheguei. Sou agora o servidor público número
um do meu país.
Peço a Deus sabedoria para governar, discernimento para julgar, serenidade para
administrar, coragem para decidir e um coração do tamanho do Brasil para me sentir
unido a cada cidadão e cidadã deste país no dia a dia dos próximos quatro anos.
Viva o povo brasileiro!"
https://www.alainet.org/es/node/106812?language=es