Pão & Beleza

13/12/2002
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Quando Platão em sua República diz que os filósofos devem estar à frente do Estado não o diz porque eles são melhores administradores que os demais, coisa que comprovadamente não o são. Mas coloca-os lá porque possuem as virtudes indispensáveis àquele que tem a seu cuidado o bem comum. E elas são: uma visão de conjunto dos problemas, a perspectiva a longo prazo, fundada no essencial e não no conjuntural, a transparência como a ética da política e a justa medida na solução dos problemas. Ocorre que no Brasil não fomos governados por presidentes-filósofos mas por presidentes-crentes, por homens de fé. Especialmente o atual Presidente e seu mordomo maior Pedro Malan são homens de fé no neoliberalismo, nos preceitos salvadores do consenso de Washington, no mercado como operador dos sonhos sociais da humanidade. Como essa fé não é fé mas superstição se deram mal e estão nos legando um dilúvio. Dizemos tudo isso a propósito do programa de combate à fome. As análises tiraram a limpo que a fome não é um problema econômico, resultante da insuficiente produção de alimentos. É um problema político. Se nos sistemas sociais a competição predominar sobre a cooperação, logo minguam as políticas sociais e em seu lugar surgem as políticas pobres para os pobres. O resultado é o crescimento da miséria e da fome. A fome é o indicador mais seguro para verificar o grau de inumanidade e pervesidade de uma sociedade e o nível de cooperação e com-paixão (no sentido budista) nela existente ou inexistente. Como a fome é um flagelo mundial, compreende-se que vivemos sob barbárie mais atroz. E no Brasil é um clamor vergonhoso porque estamos entre os maiores exportadores de grãos do mundo. Um presidente ou governador-filósofo jamais faria simplesmente um restaurante popular a preço de um real, por mais humanitário que seja saciar famintos. Um presidente-filósofo não reduz o ser humano a um mero animal faminto. Pois ele não só tem fome de pão que é saciável. Tem fome também de beleza que é insaciável, como já o disse um poeta cubano e o cantaram os Titãs:"A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte". O ser humano é um projeto infinto. Por isso, um presidente-filósofo acrescenta ao pão todo o universo da beleza que se traduz por cidadania, consciência dos direitos, conexão entre bolsa de alimentos com bolsa de educação, inserção comunitária e espaço à cultura. O curioso desta história é que tivemos que eleger a um sobrevivente da grande tribulação brasileira para termos um presidente-filósofo, Luiz Inácio Lula da Silva. Com seu programa "fome zero" ele está educando a toda sociedade brasileira para ser mais humana, compassiva, ética e espiritual. O que há de mais espiritual que dar pão a quem tem fome e ofecer-lhe simultaneamente beleza, respeito, auto-estima e cuidado? Pois é essa espiritualidade que o presidente-filósofo Lula quer realizar com seu programa "fome-zero". É o que o Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis está inaugurando com seu projeto "Pão&Beleza". Além da refeição de qualidade por um real, as pessoas terão acesso à alfabetização, à saúde, à cultura e à possibilidade de trabalho. A meta é: fome zero, beleza dez.
https://www.alainet.org/es/node/106731?language=en
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