Segundo turno - um discernimento?
19/10/2002
- Opinión
E foi tarde e foi manhã... e foi segundo turno. O povo brasileiro esperava talvez ver resolvida sua ansiedade sobre quem iria governar o país pelos próximos quatro anos e... descobriu na manhã do dia seguinte que teria que esperar mais três semanas. Mais três semanas de inquietação, de espera, de nervosismo, de luta, de trabalho... mas também mais três semanas que permitirão uma preparação melhor vivida Se o primeiro turno oferecia várias opções de candidatos, devendo o eleitor estudar várias plataformas, comparar diversas propostas, etc., agora a questão se resolverá entre dois. Os dois que o povo eleitoral considerou os melhores, os mais aptos, os mais desejados. Se o primeiro turno, portanto, nos situava em meio a uma escolha complexa e diversificada, o segundo, certamente, nos coloca de cheio dentro daquilo que em termos espirituais cristãos chamamos discernimento O discernimento é um dom dado por Deus aos seres humanos mencionado já desde as cartas de São Paulo (v. 1 Cor 12) e consiste na sensibilidade inspirada pela graça para perceber -, entre opções à primeira vista igualmente boas, - qual a melhor e mais de acordo com a vontade de Deus Depois de São Paulo, no século XVI, certamente quem melhor tematizou o discernimento espiritual foi Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus A pedagogia de Santo Inácio pode bem ajudar-nos na preparação para este segundo turno de eleições para presidente. Vejamos os passos que nos aconselha quando, entre duas coisas boas, há que escolher a melhor: O primeiro passo é ficar livre interiormente. Nunca poderemos escolher bem se estamos apegados a sentimentos epidérmicos que sentimos por este ou aquele candidato. Se nos deixamos levar por um detalhe físico que nos desagrada, um cacoete de fala que nos irrita, ou coisa parecida. Menos ainda se o que é determinante para nós é a vantagem pessoal que este ou aquele candidato pode trazer-nos, pela posição que ocupa, pelos relacionamentos que temos em comum com ele, pela classe social a que pertencemos e que acreditamos poder ser por um e não pelo outro favorecida Portanto, abertura de mente e coração, objetividade de avaliação serão os melhores aliados para começar a discernir Depois disso, tranqüilamente, ir vendo os prós e os contras de um e de outro. Mas isso com toda objetividade e sem nos deixarmos levar por impulsos emocionais. Vejamos o que um e outro candidato podem trazer como contribuição ao nosso país e ao nosso povo, sobretudo aos mais pobres. O que pode e o que quer um e outro fazer para que certas situações absurdas e injustas que ainda vigem no Brasil sejam erradicadas A seguir, vejamos os contras. Quais os pontos negativos que encontramos em cada um dos candidatos? Por que confiamos mais em um e menos no outro? Que dados objetivos temos para não sentir no mais íntimo de nós a confiança necessária para entregar-lhe o cargo de primeiro mandatário da nação? Uma vez vistos, livre e objetivamente, os pontos positivos e negativos de um e outro, ponderá-los. Ou seja, pesá-los. Ver para onde pende a balança da nossa escolha. E por fim escolher. Com muita paz, mas também muita seriedade. Trata-se de quatro anos da vida do nosso povo. É sério. Aliás, é muito sério. Tanto é assim que Santo Inácio recomenda que no último momento, antes de tomar a decisão propriamente dita, pensemos em nós mesmos na hora de nossa morte. E nos coloquemos a pergunta: qual a decisão que, diante da morte, eu gostaria de ter tomado? Sem tragédias ou exageros, quero crer que isso nos dará uma correta dimensão da importância do que vamos fazer neste segundo turno. Uma vez tendo encontrado a decisão que nos deixa em paz e tranqüilidade interior, então, iremos votar. Com a bênção de Deus e a intercessão de Santo Inácio de Loyola. Certamente, se tivermos feito um bom discernimento, os fatos mostrarão que fomos conduzidos pelo Espírito de Deus pelo caminho certo Bons votos! * Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga
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