Querida dona Lindu
29/09/2002
- Opinión
Seu filho Lula toma posse, dia 1º de janeiro de 2003, como presidente do
Brasil. Eu me lembro da senhora, na casinha em que morava em São Bernardo
do Campo. Fiz o seu enterro em 1980. Seu filho compareceu algemado,
cercado de policiais do DOPS, preso pela ditadura militar por liderar as
greves do ABC. Temi pelo pior quando vi os metalúrgicos discutindo se
convinha resgatá-lo das mãos da polícia.
Dona Lindu, a senhora era analfabeta, pobre, retirante e de uma dignidade
reverencial. Seu marido largou-a em Garanhuns e veio para São Paulo
procurar trabalho. Mais tarde, a senhora juntou os sete filhos e, num pau-
de-arara, seguiu o mesmo caminho atrás dele. Lula tinha sete anos.
Encontrou o pai com outra família. Diante do desamparo em que se depararam
a mãe e os irmãos, Lula trabalhou de engraxate, vendedor ambulante e
tintureiro.
Agora, dona Lindu, ele faz jus à herança que a senhora lhe deixou: a
coragem diante dos desafios da vida. Apesar do dedo perdido no trabalho,
não desanimou e seguiu a profissão de torneiro-mecânico; nem ficou
desesperado quando, por falta de atendimento de saúde aos pobres, morreram
sua mulher e o bebê que ela trazia no ventre; não temeu também a ditadura
ao denunciar a fraude nos índices salariais e ao levar os metalúrgicos do
ABC a greves históricas.
Seu filho venceu, dona Lindu. Não porque tirou diploma, ficou rico e
famoso. Mas porque construiu o mais combativo e ético partido político do
Brasil; foi o deputado constituinte mais votado do país; fundou a CUT;
disputou quatro eleições presidenciais e levou esperança a milhões de
brasileiros. Lula ensinou à nação que é possível fazer política com
decência, vergonha na cara, tolerância nas relações pessoais e
intransigência nos princípios.
Obrigado, dona Lindu, por ter dado ao Brasil um presidente com capacidade
de liderança, transparência ética e profundo amor ao povo, sobretudo
àqueles que, como a sua família, conhecem na carne e no espírito o
sofrimento e a pobreza.
O Brasil merece um futuro melhor. O Brasil merece este fruto de seu
ventre: Luiz Inácio Lula da Silva.
Frei Betto é escritor, autor de "Entre todos os homens" (Ática), entre
outros livros.
https://www.alainet.org/es/node/106530?language=en
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