Bons votos, Brasil!

23/10/2002
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No próximo domingo, mais de 115 milhões de eleitores retornam às urnas para escolher o futuro presidente da República. Em vários estados, haverá também segundo turno para eleger os novos governadores. O resultado de 6 de outubro comprovou que os eleitores querem mudanças. Setenta e seis por cento deram seus votos aos candidatos que criticavam o governo FHC: Lula, Garotinho e Ciro. Com o apoio desses dois candidatos a Lula, este chega às urnas de domingo contando com a preferência de quase 70% dos votos válidos. Esta eleição retrata a nova cara do Brasil. Nos anos 80, a questão social ficava restrita à esquerda e a movimentos assistencialistas. O próprio dom Helder Camara, que tanto batalhou para erradicar a miséria no Brasil, costumava dizer: "Quando falo dos pobres, todos me chamam de cristão. Quando falo das causas da pobreza, me chamam de comunista." Hoje, não há quem, em sã consciência, pense que combater a miséria é coisa de comunista. Ninguém mais suporta a pobreza que inferniza a vida de 53 milhões de brasileiros, nem a violência urbana, que produz cerca de 40 mil assassinatos por ano. Aos poucos, o tema da fome saiu das páginas de Josué de Castro para mobilizar toda a nação em torno da figura carismática de Betinho. Agora, as empresas falam em responsabilidade social; o trabalho de crianças é repudiado e condenado; o trabalho voluntario, valorizado. Obras de arte, como o filme "Cidade de Deus" e a minissérie "Cidade dos Homens", trazem a pobreza brasileira aos nossos lares, questionando-nos a respeito do futuro dessa nação. Agora, muitos sabem que pouco vale o Brasil honrar sua lei de responsabilidade fiscal se a nação não honrar sua ética de responsabilidade social. A inclusão social de milhões de brasileiros: eis o desafio número 1 do próximo presidente da República. Não é pedir muito numa terra tão fértil e com tantos recursos naturais. O que não é mais suportável é remeter, como neste ano de 2002, R$ 90 bilhões de reais aos credores internacionais, e aplicar apenas R$ 13 bilhões na educação. No proximo domingo, as urnas dirão quem presidirá o Brasil nos próximos 4 anos. Seja quem for o eleito, Lula ou Serra, não poderá fugir da exigência de um pacto social. Um grande mutirão nacional deverá congregar os brasileiros de boa vontade no combate à fome, ao analfabetismo, ao desemprego e às doenças endêmicas. O Brasil tem jeito. Basta que cada um de nós se pergunte, não o que fará por mim o próximo governo, mas sim o que posso fazer para ajudá-lo a tornar esta nação feliz. Bons votos, Brasil! * Frei Betto é escritor, autor de "Alfabetto ­ Autobiografia escolar" (Ática), entre outros livros.
https://www.alainet.org/es/node/106528?language=en
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