Regente Feijó

24/09/2002
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No contexto eleitoral que vivemos, tiramos do baú da história a figura do Padre Feijó, Regente do Império. Mesmo efêmero, o episódio pode lançar algumas luzes sobre a gravidade do momento político que o país vive, às vésperas de eleições que vão indicar os responsáveis para conduzir o país no enfrentamento dos difíceis desafios que a realidade apresenta hoje. Era o tempo da infância do imperador D. Pedro Segundo. Alguém deveria fazer as vezes dele nas responsabilidades públicas. Num dado momento, o consenso se voltou para um padre, simples, autêntico, abnegado, eficiente. Ao menos para as necessidades mais evidentes de um governo. Era o Padre Feijó, que acabou ficando na história como o "Regente Feijó". Governou pouco. Porque os desafios eram muitos, e superaram suas capacidades. Mas podemos dizer que procurou dar conta do recado. E além de tudo, entrou pobre, e saiu pobre. Depois foi continuar sua vida de padre, devolvido à sua instituição, que o tinha emprestado para o serviço do Estado. Aí está o lance. Bom seria se todas as instituições, todas as instâncias da sociedade organizada, todas as categorias profissionais, pudessem colocar a serviço do Estado o melhor que possuem em seus quadros, e se dispusessem a colaborar em tudo que fosse possível com a administração daí resultante. O exemplo do Padre Feijó elucida de maneira especial a abertura de espírito e a superação de preconceitos, como postura indispensável para estes momentos que apelam para a grandeza de ânimo, requerida como condição prévia das opções a serem assumidas. Em momentos de emergência, se deixam de lado aspectos secundários e relativos, para se garantir com firmeza o essencial. Vale hoje a pergunta sobre o que é mesmo a urgência do momento, e em decorrência da evidência de respostas, quem deveria assumir a condução da política em nosso país. Por isto, a situação se apresenta não só como um momento de delegar responsabilidades aos eleitos, mas de prontidão em colaborar com eles. Talvez aí encontremos um critério que pode iluminar as diversas opções de voto que precisaremos fazer no dia 06 de outubro. Escolher entre os candidatos a diferentes níveis de cargos públicos as pessoas que mais estão aptas a articular a adesão da cidadania para a difícil empreitada de superar os muitos condicionamentos que hoje cerceiam a vida do povo brasileiro. Exemplificando. Como recolher uma proposta educacional, que otimize os poucos recursos de que dispomos, e valorize as boas experiências existentes, a potencialidade dos agentes do sistema, e a fome de formação experimentada pelo povo. Como mobilizar a nação para abraçar a causa da saúde pública, sacudindo ambigüidades, e garantindo um mínimo de atendimento decente à população. Como valorizar os agricultores, integrando os avanços da tecnologia e garantindo alimentos para a superação da fome em nosso país e colaborando com a obtenção de recursos pela exportação de excedentes. E assim em todos os setores do complexo conjunto da administração federal. A figura do Padre Feijó nos diz, com clareza, que não se trata de buscar o poder para colocá-lo a serviço de causas menores ou de interesses particulares. Mas o contrário. Trata-se de colocar a serviço da causa pública o que está a nosso alcance, e escolher as pessoas que estrategicamente podem valorizar melhor o esforço comum de todos. Com este objetivo, vale a pena votar com discernimento e esperança no dia 06 de outubro. * D. Demétrio Valentini. Bispo de Jales (SP).
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