Suicídio de jovens

14/08/2002
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O dado é estarrecedor: segundo o IBGE, no Brasil o número de suicídio de jovens aumentou 30% entre 1991 e 2000. Os jornais, por princípio, não registram este tipo de notícia. Um colégio de elite, em Belo Horizonte, perdeu, este ano, cinco alunos do ensino médio. O que leva um adolescente a pôr fim à própria vida? São muitos os fatores que, somados, se resumem à frustração. Frente a tamanho desencanto, não vale a pena viver. De cima de um prédio (modo freqüente) o jovem se atira rumo à morte. O gesto encerra, sem dúvida, uma forma de protesto. É como se exclamasse: Parem o mundo porque quero descer. Frustração frente a quê? Às ambições desmedidas. Ninguém se desespera por perder algo a que não dá valor. Onde está o teu coração, aí está o teu tesouro, disse Jesus. Nessa sociedade consumista, na qual estamos permanentemente cercados pela parafernália publicitária, é difícil escapar do (falso) paradigma de que o nosso valor enraíza-se naquilo que possuímos; no que temos, e não no que somos. Sem recursos para saciar suas ambições de consumo, o jovem prefere dar cabo à própria vida. Ou enfia a cara nas drogas, que o fazem alienar-se da realidade e, por vezes, sentir-se como um super-homem. A química imprime na ilusão o que a auto-estima deveria gravar no coração. O processo de sentir-se deserdado se inicia na infância, quando os pais não cobrem o filho de afeto e atenção, e julgam poder trocar o dom de si pelo presente: a bicicleta, a moto, o carro. É a omissão tentando terceirizar, via consumo, o que a afeição deveria assumir. Ainda que a família cubra o filho de afeto, é insuficiente se não lhe são transmitidos valores éticos. Se para o jovem a escala de valores coincide com a do mercado - competição, sucesso, enriquecimento -, nada a estranhar quando, náufrago desse alpinismo social, ele se sente um fracassado. Então, joga no lixo a vida da qual não se orgulha e na qual não se sente feliz. A morte é um tabu em nossa sociedade. Quase ninguém quer encará-la de frente. Embora todos haveremos de ser consumidos e consumados por ela, vivemos como se ela não existisse. Ora, educar é abordar tudo que diz respeito à vida, sobretudo as situações-limite, como ruptura afetiva, fracasso, desespero, enfermidade, sexualidade, experiência de Deus e morte. No dia em que as famílias e as escolas tratarem o sentido da vida como valor subjetivo, e a morte como algo inerente à vida, findo o tabu estará aberta a porta proibida. Os infelizes não mais tentarão derrubá-la para que todos ouçam o tremendo ruído nesse teatro em que o único ator chama a atenção da platéia exatamente ao se ausentar de cena. É dando sentido à vida que a morte ganha razão de ser. Não como evasão. Mas como travessia. * Frei Betto é escritor, autor do romance "O Vencedor" (Atica), entre outros livros.
https://www.alainet.org/es/node/106233?language=es
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