Religiões se unem pela Paz
12/08/2002
- Opinión
No final de agosto, A ONU completou mais um ano de existência. Há 54 anos, ela foi
formada para aproximar as nações em um diálogo de paz. Até aqui, as religiões não
conseguiram formar um fórum representativo para debater os problemas da sua vocação
comum. No entanto, há três anos uma semente foi lançada e, neste mês, no Rio de
Janeiro, aconteceu o Congresso Internacional da United Religions Initiative - URI, em
português: Iniciativa das Religiões Unidas . Esta entidade reúne pessoas religiosas de
todo o mundo, ligadas às mais diversas tradições para, juntas, orar, dialogar e dar
testemunho de que todos os caminhos para Deus passam pela Paz, Justiça e Cuidado com o
universo.
A diversidade entre as religiões é um bem. No século III, Cipriano, pastor da Igreja
na África, dizia: A unidade abole a divisão, mas respeita as diferenças . Cada
tradição espiritual dá uma contribuição própria à cultura. Não queremos uniformidade,
ou criar uma espécie de esperanto religioso, artificial e pretensioso. O necessário é
dialogar para vencer fundamentalismos e intolerâncias que negam ao outro o direito de
ser diferente e, hoje, servem de pretexto para guerras e conflitos. O teólogo Hans
Küng ressalta: A humanidade não sobreviverá sem uma ética mundial. No mundo, não
haverá paz sem diálogo entre as religiões . Em um mundo muito diversificado, o diálogo
inter-religioso é um dever. Traz enriquecimento a todas as religiões envolvidas que,
abrindo-se umas às outras, abrem-se ao mundo e testemunham que Deus não se restringe
às religiões. O seu projeto é a renovação do universo.
O caminho do diálogo e da busca da paz não pode ficar restrito a grandes conferências.
É preciso praticá-lo cada dia, em casa, na relação familiar e no convívio com os
vizinhos. Deus é Amor e nos faz irmãos e irmãs de todos os seres humanos.
Para ajudar na prática do diálogo
- Reconheça o direito que o outro tem de ser diferente de você, no modo de pensar e
agir. Dom Hélder Câmara dizia: Se você concorda comigo, me confirma no caminho, mas,
se discorda, colabora mais ainda comigo porque me obriga a aprofundar o que penso . A
discordância de pensamento não me ameaça; me enriquece.
- Comece por procurar compreender a outra pessoa ou grupo no seu modo de ser mais
profundo. A primeira atitude do diálogo é a escuta interior. Deixe que o outro se
defina. Se eu não sou de tal religião ou comunidade, não sou eu que devo defini-la.
- Assuma a própria identidade. Se eu não sei quem sou, não poderei dialogar com
ninguém. Eu, Marcelo Barros dialogo com toda pessoa de qualquer religião ou caminho
espiritual e a acolho como irmã na busca de Deus, mas à medida que me defino como
cristão e de tradição católico-romana. Para quem crê em Deus como discípulo/a de
Jesus, o Concílio Vaticano II ensinou que as verdades da fé têm uma hierarquia. Todas
não têm o mesmo peso e valor. Para nós, é mais importante crer que Deus é Amor e nos
salva por sua graça do que crer, por exemplo, nos dogmas marianos. O papa João XXIII
exortou-nos a aprendermos a expressar nossa fé de forma amorosa e acessível e não de
modo que afaste o outro.
- Olhe a outra pessoa como igual. Sem igualdade entre parceiros não há diálogo.
Elimine em você qualquer resquício de auto-suficiência e arrogância. Em 1968, em uma
assembléia de monges cristãos, budistas e hindus, em Calcutá, Thomas Merton, místico e
monge beneditino, afirmou: O nível mais profundo da comunicação não é a comunicação,
mas a comunhão.
- Ela é sem palavras. Ela está além das palavras, dos discursos e conceitos. Nós não
estamos descobrindo aqui uma unidade nova. Descobrimos uma unidade antiga. Mesmo
pertencendo a religiões diferentes, nós já somos Um. Mas, às vezes, imaginamos não
ser. O que temos de reencontrar é nossa unidade original. O que temos de ser é o que
nós já somos .
* Marcelo Barros, monge beneditino, autor de 26 livros, dos quais o mais recente é "O
Espírito vem pelas Águas" (A crise mundial da Água e a Espiritualidade Ecumênica) Ed.
CEBI- Rede.
https://www.alainet.org/es/node/106229?language=es
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