A seleção do social

12/07/2002
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A Seleção brasileira de futebol não deu show apenas nos gramados do oriente. A conduta dos jogadores, após a vitória sobre a Alemanha, e a conquista do pentacampeonato também tiveram seus momentos memoráveis fora de campo. Atitudes como a do craque Ronaldinho, que doou para o Inca (Instituto Nacional do Câncer) o "bicho" recebido com a vitória, têm tanto valor quanto os gols que foram, um a um, derrubando nossos adversários no campeonato. Ronaldinho soube aproveitar com excelência seu papel de ídolo. O garoto de sorriso cativante, o maestro da bola, o goleador da Copa mostrou ao país que temos a obrigação moral de abraçar a solidariedade. Os US$ 150 mil doados por ele vão, certamente, ajudar muita gente a driblar o sofrimento. O gesto com certeza também contribuirá para ampliar a reflexão sobre a importância de todos nós na construção de um país melhor. Uma atitude como essa coloca as coisas no lugar e nos faz pensar que, se todos os que têm condições agissem como o Ronaldinho, o país teria motivos de sobra para comemorar. Estaríamos conquistando uma Copa por dia. O capitão Cafu também deu o exemplo. Subiu ao pódio, no dia 30, no auge da comemoração, estampando o Jardim Irene na camisa mais fotograda do planeta. Cafu colocou, como disse Gilberto Dimenstein, o Jardim Irene no mapa mundial. Mostrou que não abandona suas raízes, é solidário com o sofrimento de milhares de excluídos que vivem nas periferias das grandes cidades do país e que sonha e age para que eles tenham um futuro melhor. Cafu não se deixou iludir pela glória e expôs nossa fratura social para que não esquecêssemos o difícil jogo que temos pela frente. O bravo capitão sabe que há, entre as milhares de crianças brasileiras, talentos que nunca terão a chance de se revelar ao mundo. Cafu é um vitorioso no esporte e na vida. Escapou da exclusão para brilhar e alegrar torcedores de todas as origens com o seu futebol-arte. Nem todos os garotos terão a sua sorte, se não agirmos coletivamente para resgatar a cidadania e prover os recursos necessários para que o nosso capital humano tenha acesso às condições mínimas de desenvolvimento. Aquela camiseta que homenageia o sofrido Jardim Irene e o gesto de Ronaldinho deram um recado claro para todos nós. Os pentacampeões, que acompanhamos incansavelmente ao longo do último mês de junho, em madrugadas sofridas na frente da TV, fizeram uma convocação pública para que o brasileiro faça a sua parte e não dê as costas à dura realidade que marca o nosso país. A vitória brasileira, como já assinalou a imprensa, fez com que as empresas retomassem os investimentos publicitários, dando um pouco mais de ânimo à economia. O comércio também ganhou um novo fôlego e o otimismo deu o ar da graça. Poderíamos aproveitar o momento para também nos inspirarmos na solidariedade dos nossos guerreiros da bola. Precisamos aumentar os investimentos das empresas em projetos sociais, precisamos doar mais tempo e talento para transformar o país com ações voluntárias e ações estruturadas de responsabilidade social. O momento é oportuno também, já que estamos em plena corrida eleitoral, para discutirmos o futuro que queremos dar ao país. Vamos fazer como Ronaldinho e Cafu. Vamos colocar o individualismo e a desesperança na marca do pênalti. Milú Villela é presidente do Faça Parte ­ Instituto Brasil Voluntário (Ibravo) e do Instituto Itaú Cultural
https://www.alainet.org/es/node/106143?language=es
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