Resulatdo do julgamento de Eldorado do Carajás confirma a farsa anunciada
13/06/2002
- Opinión
Dois dias após o encerramento da última sessão do julgamento de Eldorado
do Carajás, os meios de comunicação local, nacional e internacional apresentaram as
idéias centrais de algumas entidades de Direitos Humanos ao nível Nacional e
Internacional indicando que o resultado do julgamento foi “a crônica de uma
frustração anunciada”, como declarou o Paulo Sérgio Pinheiro, da Secretaria Nacional
de Direitos Humanos. A Anistia Internacional incisivamente também mostrou indignação
e preocupação com o Judiciário Paraense – “O maior julgamento da história do Brasil,
totalizando 120 horas, em cinco sessões, mais uma vez expõe as profundas falhas no
sistema de justiça do Estado do Pará”, informou o comunicado da Anistia
Internacional.
Na verdade o pronunciamento da Secretaria Nacional de Direitos Humanos e
a nota da Anistia Internacional confirmaram o que o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Rede Nacional de
Advogados Populares (Renap) e Pastorais Sociais da CNBB Norte 2 já haviam anunciado
antes mesmo do início da primeira sessão do Julgamento de Eldorado. “A justiça
brasileira nunca pune as autoridades que mandam e os executam crimes que violam os
direitos humanos. A condenação quando ocorre é apenas um arranjo feito para
disfarçar a impunidade que é assegurada pelo próprio estado, através do judiciário”.
Dos 142 policiais, entre soldados e oficiais, apenas duas condenações que evidenciam
uma ação simbólica e incoerente como afirmou a Anistia Internacional: “As
condenações agora parecem ser pouco mais que um gesto simbólico, dada a inabilidade
da investigação policial e do processo judicial em identificar individualmente os
responsáveis criminais pelas mortes a tiros e golpes de facão de 19 ativistas
rurais”. Mesmo a Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos do Pará que manteve a
esperança de um julgamento isento e imparcial teve que se retirar as vésperas da
última sessão, por somente neste momento se convencer da farsa anunciada.
Durante todas as sessões do julgamento ficou evidente a total ausência da
sociedade civil organizada. Mesmo quando foi aberto ao público em geral, por ocasião
da 4a. Sessão, a sociedade se manteve distante da sala do júri. Membros de entidades
de Direitos Humanos passaram pelo salão do júri apenas para confirmar, in loco, de
um lado a nítida insegurança do juiz Roberto Moura na condução do julgamento e de
outro o vazio do plenário, ocupado apenas pela imprensa local, que registrou o
quanto a intolerância e a opulência do Tribunal de Justiça do Estado (TJE)
demonstrou a fragilidade do judiciário paraense para julgar crimes que violam os
direitos humanos.
Pedimos a todas as entidades de Direitos Humanos e de apoio à organização
e a luta dos trabalhadores rurais, enviarem carta de protesto ao Ministro da Justiça
e a Presidente do Tribunal de Justiça do Pará pedindo A ANULAÇÃO DO JULGAMENTO E A
IMEDIATA TRANSFERÊNCIA DOS CRIMES DE DIREITOS HUMANOS PARA A ESFERA FEDERAL. Este
julgamento desnudou definitivamente a necessidade e a urgência da aprovação da Lei
que julgará os crimes de Direitos Humanos.
É preciso continuar firme na luta pela justiça no campo e contra a
impunidade reinante no Estado do Pará e no Brasil e, a FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES DE
DIREITOS HUMANOS.
Belém, 14 de junho de 2002.
CPT Pará, MST Pará, CJP da CNBB e Cáritas.
Tribunal de Justiça do Estado - TJE
Presidente: Climenie Bernadette de Araújo Pontes
Largo de São João s/n - Cidade Velha - 66015-260 - Belém-PA
Fax 91 212 2922 E-mail: cpontes@tje.pa.gov.br Ministério da Justiça
Dr. José Gregori, Ministro da Justiça
Esplanada dos Ministérios, T, 4o. Andar 70.064-9000 - Brasília
Fax 61 321 1565/ 226-7980/ 322 6817
E-mail: acs@mj.gov.br
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