Terra, corpo de Deus
04/06/2002
- Opinión
Hoje, no dia internacional do meio ambiente, sozinho num canto do
jardim onde posso ver tudo sem ser visto por ninguém, fui tomado de
comoção pela majestade das montanhas que guardam, quais guardiães,
minha casa e pelo azul profundo do céu matinal. E então celebrei como
outrora. O horizonte era o altar, o pão sagrado, a Terra inteira, e o
cálice, o espaço formado por duas montanhas que se abrem em forma de
v. Li textos sagrados. Meditei salmos de louvor pela grandiosidade da
criação. Sobre a patena do horizonte ofereci o inteiro universo com
suas galáxias, miríades de estrelas e incontáveis planetas. E eis que
chegou o momento mágico e místico da consagração. E então, com as
mãos trêmulas pelas energias cósmicas que entranham a realidade e com
os lábios incandecentes pelo fogo das palavras sagradas, pronunciei
com reverência:
"Terra minha querida, Grande Mãe e Casa Comum! Finalmente chegou tua
hora de unir-te à Fonte de todo ser e de toda vida. Vieste nascendo
para isto, lentamente, há milhões e milhões de anos, grávida de
energiais criadoras.
Teu corpo, feito de pó cósmico, era uma semente no ventre das grandes
estrelas vermelhas que depois explodiram, te lançando pelo espaço
ilimitado. Vieste aninhar-te, como embrião, no seio de uma estrela
ancestral, no interior da Via-Láctea, transformada depois em Super
Nova. Ela também sucumbiu de tanto esplendor. E vieste então parar no
seio acolhedor de uma Nebulosa, onde já, menina crescida,
perambulavas em busca de um lar. E a Nebulosa se adensou virando um
Sol esplêndido de luz e de calor. Ele se enamorou de ti, te atraiu e
te quis em sua casa, junto com Marte, Mercúrio, Venus e outros
planetas. E celebrou o esponsal contigo. De teu matrimônio com o Sol,
nasceram filhos e filhas, frutos de tua ilimitada fecundidade, desde
os mais pequenininhos, bactérias, virus e fungos até os maiores e mais
complexos seres vivos. E como expressão nobre da história da vida, nos
geraste a nós, homens e mulheres.
Através de nós, tu, Terra querida, sentes, pensas, amas, falas e
veneras. E continuas crescendo, embora adulta, para dentro do
universo rumo ao Seio do Deus-Pai-e-Mãe de infinita ternura. Dele
viemos e para ele retornamos com uma implenitude que só Ele pode
preencher. Queremos, ó Deus mergulhar em Ti e ser um contigo para
sempre junto com a Terra.
E agora, Terra querida, realizo o gesto de Jesus na força de seu
Espírito. Como ele, cheio de unção, te tomo em minhas mãos impuras,
para pronunciar sobre ti a Palavra sagrada que o universo escondia e
tu ansiavas por ouvir:
"Hoc est corpus meum: Isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue" E
então senti: o que era Terra se transformou em Paraiso e o que era
vida humana se transfigrou em vida divina. O que era pão se fez corpo
de Deus e o que era vinho se fez sangue sagrado.
Finalmente, Tierra, com teus filhos e filhas chegaste em Deus. Te
fizeste Deus por participação. Enfim em casa.
"Fazei isso em minha memória". Por isso, de tempos em tempos, cumpro o
mandato do Senhor. Pronuncio a palavra essencial sobre ti, Terra
querida, e sobre todo o universo. E junto com ele e contigo nos
sentimos o Corpo de Deus, no pleno esplendor de sua glória".
* Leonardo Boff, Teólogo.
https://www.alainet.org/es/node/105948
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