McDonaldização

18/05/2002
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A globalização funciona como uma lente de aumento que permite à população mundial, não apenas enxergar as implicações internacionais dos problemas locais, mas também seus efeitos colaterais em nossas vidas. Para muitos, a globalização, entendida como mundialização do mercado, é um avanço, cujos efeitos negativos podem ser corrigidos. Para outros, representa, de fato, a ocidentalização do mundo, com o objetivo de atender aos interesses do capitalismo em sua fase mais avançada: a da transnacionalidade dos oligopólios empresariais. Concordo com aqueles que consideram que o atual modelo de globalização não passa de um clichê demagógico de quem busca impor ao planeta um pensamento único - o de uma parcela privilegiada do hemisfério Norte, onde 20% da população mundial consomem 80% da produção industrial do planeta - com caráter de universalidade incontestável. Não é a economia que se mundializa, é o mundo que se economiciza, convertendo todos os valores, materiais e simbólicos, ao preço de mercado. Tal fenômeno submete a cultura e a política à lei da oferta e da procura. Como a teoria econômica não fixa nenhum limite ao império do mercado, tudo que é objeto do desejo humano é reduzido às relações de troca, segundo as regras do sistema: um dos parceiros leva mais vantagem do que o outro. No plano político, a Itália exibe um exemplo óbvio, com a eleição de Berlusconi. A agenda política dos países passa a ser ditada, cada vez mais, pelos interesses das transnacionais e, cada vez menos, pelas reais necessidades nacionais. A política abandona progressivamente sua função de administrar o processo econômico e social interno, para gerir estratégias econômicas impostas aos países de fora para dentro. No plano cultural, a criatividade tende a abandonar as ousadias do espírito humano para adequar-se à fôrma do mero entretenimento, como os enlatados que entopem nossos canais de TV. Toda a comunicação de massa torna-se mero apêndice publicitário, voltada mais a formar consumidores que cidadãos. A Internet, embora represente uma revolução estrutural apresentada como um veículo de informação global, é um produto cujos conteúdos e tecnologia são monopólios ocidentais. Depara-se, hoje, com um grande paradoxo: quanto mais se fala de liberdade de informação, mais os meios são enfeixados em mãos dos grandes atores econômicos, que impõem a todos os habitantes do planeta um mesmo modo de pensar e de viver, tudo em função desta soberana senhora: a mercadoria. É a mcdonaldização do mundo, reduzido também a um só paladar. * Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Emir Sader, de "Contraversões - civilização ou barbárie na virada do século" (Boitempo), entre outros livros.
https://www.alainet.org/es/node/105938?language=es
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