Porto Alegre x Davos

10/01/2001
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O Brasil entra no novo século como sede de um evento inédito, que reunirá a sociedade civil organizada em nível internacional. Trata-se do Fórum Social Mundial, um novo espaço de reflexão, de articulação e principalmente de apresentação de alternativas à globalização neoliberal. Representantes de mais de 900 organizações de mais de 120 países já confirmaram presença em Porto Alegre de 25 a 30 deste mês de janeiro. As datas e o local do Fórum Social não foram escolhidos por acaso. Ele será realizado em Porto Alegre, simultaneamente ao Fórum Econômico Mundial, que ocorre desde 1971 em Davos, na Suíça. Este Fórum Econômico é financiado por mais de 1.000 empresas multinacionais e cumpre papel estratégico na formulação do pensamento dos que promovem e defendem as políticas neoliberais em todo o mundo. A proposta de criar o Fórum Social Mundial surgiu em conseqüência das mobilizações ocorridas na Europa contra o Acordo Multilateral de Investimentos - AMI em 1998, das grandes manifestações de Seattle, durante o encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC) em novembro de 1999, e das realizadas em Washington e em Praga contra as políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Essas mobilizações - e muitas outras - colocaram definitivamente em evidência a emergência de um movimento cívico além das fronteiras nacionais. Há décadas habituadas a tomar decisões que afetam a vida de centenas de milhões de pessoas, fora de qualquer controle democrático, as grandes instituições internacionais estão verificando que isso não vai continuar assim. Segundo os organizadores, o Fórum Social Mundial estará voltado para a formulação de alternativas, para a troca de experiências e para a construção de articulações orgânicas, táticas e estratégicas, entre ONGs (Organizações Não Governamentais), movimentos sociais, sindicatos, associações e entidades religiosas, em cada país e em nível continental e mundial. São essas organizações que enfrentaram o desafio de promover e financiar o Fórum Social Mundial, com o apoio dos anfitriões oficiais, o governo do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Porto Alegre. Penso que é importante para o Brasil, para o Rio Grande do Sul e em especial para Porto Alegre que esse primeiro Fórum Social Mundial seja realizado em nosso país. A indicação foi feita por organizações da Europa, em reconhecimento à importância do Brasil, ao significado das forças progressistas brasileiras e às conquistas democráticas obtidas pela sociedade gaúcha nas gestões do Partido dos Trabalhadores na Prefeitura de Porto Alegre e no governo do Rio Grande do Sul. E isso, sem dúvida, é algo importante também para a auto-estima do nosso povo. A edição deste mês do Le Monde Diplomatique, por exemplo, um dos jornais de maior prestígio intelectual do mundo, dedica editorial e artigos de peso para analisar o significado e conseqüências do Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Tenho conhecimento também que mais de 300 órgãos da imprensa nacional e internacional já se cadastraram para cobrir o evento. A troca de experiências, articulações e construção de alternativas entre organizações da sociedade civil de todo o mundo ocorrerão a partir de uma programação muito intensa. Personalidades, acadêmicos e lideranças de movimentos sociais de diversos países, entre os quais ganhadores de Prêmio Nobel, já confirmaram participação em grandes conferências que serão realizadas na parte da manhã. Durante as tardes, centenas de oficinas, propostas pelas próprias organizações, formarão a agenda, além de testemunhos e depoimentos especiais de personalidades convidadas. Dois Fóruns Internacionais, um de Parlamentares e outro de Prefeitos, também estão sendo organizados dentro da programação do evento. Tenho boas expectativas em relação ao Fórum Social Mundial de Porto Alegre e sinto-me honrado por estar entre os convidados já confirmados. Espero que os representantes de sindicatos, associações, ONGs, entidades religiosas e outros movimentos populares, que travam lutas em seu país, sua região, sua cidade ou em seu meio rural, passem a se conhecer melhor, troquem regularmente informações, unam-se em ações comuns ou convergentes e comecem a concretizar a vocação que têm para se tornar um contra-poder democrático da cidadania mundial. * Luiz Inácio Lula da Silva, presidente de honra do Partido dos Trabalhadores e conselheiro do Instituto Cidadania. Forum Social Mundial
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