No primeiro debate entre presidenciáveis
Marina Silva parte para o ataque
26/08/2014
- Opinión
Filipe Redondo/BAND
Debate é o primeiro desde divulgação de pesquisa que mostra Marina subindo e Aécio caindo
Longe da imagem pacifista e apaziguadora que mantinha na campanha de 2010, a presidenciável Marina Silva (PSB) decidiu confrontar seus adversários diretamente. Tanto ao se dirigir a outros candidatos como ao responder perguntas, Marina não poupou palavras duras para desqualificar o discurso de seus rivais no debate do Grupo Bandeirantes, em São Paulo.
Ao ser questionada pelo candidato Levy Fidelix (PRTB) se governará a favor do agronegócio, por manter relações próximas com o empresário Guilherme Leal, candidato a vice em sua chapa no pleito de 2010, e com Neca Setúbal, Marina criticou a visão de mundo de seu rival. “Não tenho preconceito contra a condição social de nenhuma pessoa. Quero combater essa visão de apartar o Brasil, de que temos que combater as elites. O Guilherme faz parte da elite, mas os ianomâmis também. A Neca é parte da elite, mas o Chico Mendes também é parte da elite”, disse. “Essa visão tacanha de ter combater a elite deve ser combatida. Eu quero governar unindo o Brasil, e não apartando o Brasil. Pessoas honestas e competentes temos em todos os lugares.”
Anteriormente, ao se dirigir à presidenta Dilma Rousseff, Marina observou que a série de pactos para atender às demandas da população que saiu às ruas em junho deu errado e perguntou o porquê. Dilma rebatou, lembrando que apenas o projeto de reforma política não foi aprovado no Congresso. “O primeiro pacto foi pela educação, por esse pacto nos comprometemos a aprovar no Congresso uma lei que destinava 75% dos royalties e do fundo social do pré-sal pra educação, nós aprovamos essa lei, que é a base para um grande programa para o Ensino Básico. Nós também dissemos que íamos fazer o Mais Médicos, que hoje é uma realidade. Fizemos o compromisso com a estabilidade econômica, e cumprimos: a inflação está sistematicamente sendo reduzida”, disse ao ressaltar que o governo está investindo 143 bilhões de reais em transporte público.
Marina criticou o modo como Dilma descrevia a realidade brasileira e disse: “Esse Brasil colorido e cinematográfico de que a presidenta fala não existe. Há descrença na política. Não existe mudança política, que virou troca de ministros e de tempo de televisão. Nós vivemos uma situação de penúria na saúde e na educação."
Marina criticou ainda o estilo de governar de Dilma, dizendo que o Brasil não precisa de um “gerente”. “O presidente Lula não é um gerente, teve uma visão estratégica de que deveria reduzir a pobreza. O presidente Fernando Henrique não é um gerente. Viu que era preciso a estabilidade econômica”, afirmou. “Um dos graves problemas da gerência é ver o Estado refém, um toma-la-dá-cá de favores”.
No centro do debate, que ocorre depois da primeira pesquisa que mostra o crescimento de Marina e a queda de Aécio Neves (PSDB), Marina disse não haver problema de incoerência ao ser questionada pelo candidato Aécio Neves (PSDB) sobre o fato de pedir apoio de quadros do PT ou do PSDB em um possível governo. “Me sinto inteiramente ocorrente. Defender a nova política é combater a verdadeira polarização, que há 20 anos é o verdadeiro atraso para o País. Quando me referi ao senador Serra, eu dizia que tenho certeza que se ganho a Presidência, ele não irá pelo caminho mesquinho, de não reconhecer os feitos, como o Bolsa Família que o PSDB tem muita dificuldade em reconhecer”, disse Marina.
No encontro que reuniu, além de Dilma Rousseff, Aécio Neves, Marina Silva e Levy Fidelix, os candidatos Pastor Everaldo (PSC), Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV), Dilma foi pressionada por adversários em relação à política econômica de seu governo. Ao ser acusada por Aécio de ter “surfado" nos frutos do governo Fernando Henrique Cardoso, ela rebateu. "Em três anos e oito meses, nós já criamos 5 milhões e 800 mil empregos, mais do que vocês criaram em oito anos. Os números não podem ser enganosos", retrucou. Aécio criticou a resposta de Dilma ao dizer que ela “perdeu capacidade de inspirar confiança e credibilidade, com intervencionismo absurdo em setores essenciais”. “A verdade é que o governo do PSDB quebrou o Brasil três vezes”, ao se referir à busca pela ajuda do FMI, a proposta do aumento tarifário e a diminuição salarial. “Os números não podem ser enganosos. O fato é que o governo PSDB cortou salários e deu tarifaços”.
O cerco a Dilma em relação à economia continuou no debate com a pergunta do jornalista do grupo Bandeirantes Boris Casoy, que lembrou o baixo crescimento e a inflação alta. “Não se pode negar que o mundo vive uma das mais crises internacionais. E nós recusamos a velha receita de colocar a conta pro trabalhador pagar, desempregar, arroxar salários, aumentar impostos e tarifas. Ao mesmo tempo que mantivemos o nível de empregos, nós mantivemos a inflação sob controle”, retrucou.
Rival pelo PSDB, Aécio Neves questionou Dilma sobre a crise na Petrobras, ao lembrar que investigações da Polícia Federal levaram à prisão de “um colega” de Dilma. “Em três anos, estamos conseguindo tirar 540 mil barris por dia. A Petrobras é uma empresa que aumentou de valor. Nós iremos produzir em 2018 3,8 milhões de barris/dia”, afirmou. “Quem investiga a Petrobras é o órgão do governo federal. Nós nunca escondemos debaixo do tapete os malfeitos, os crimes de corrupção”.
A presidenta foi acusada pelo Pastor Everaldo de favorecer “a ditadura cubana” e criticou o financiamento brasileiro a obras em um porto da ilha caribenha. “É muito mais positivo financiar atividades de empresas brasileiras abrindo portos em Cuba, que serão geridos por empresas holandesas. Nossa política deu um passo à frente. O Brasil, que antes olhava para países desenvolvidos, hoje olha para toda a América Latina, a África, e os BRICS, que permitiu que nós criássemos o banco de desenvolvimento dos BRICS”.
Antes de fazer a primeira intervenção no debate, a candidata pelo PSOL, Luciana Genro, se disse “chateada” por ninguém ter lhe perguntado nada até então. Mais tarde, afirmou enfaticamente que faria a demarcação de terras indígenas de forma imediata, caso fosse eleita. “É preciso fazer uma reforma agrária, o que é também uma ótima maneira de controlar a inflação. A atual política de juros só favorece as 5 mil famílias mais ricas do País", acrescentou.
27/08/2014
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