O Banco do Brics

30/07/2014
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Dentre as inúmeras consequências deixadas pela crise financeira internacional, não se pode deixar de men­cionar a perda de credibilidade e poder das grandes or­ganizações multilaterais que operam com assuntos eco­nômicos. Assim, desde 2008, o seu desgaste só tem au­mentado, de maneira que o Banco Mundial (BM) e o Fun­do Monetário Internacional (FMI) foram perdendo, aos poucos, seu protagonismo em apresentar soluções para os impasses do modelo falido.
 
O Brasil já vinha atuando de forma menos dependente do FMI, do qual passou inclusive da posição de devedor a credor, ainda durante o governo Lula. No entanto, nosso país não conseguia encontrar êxito em sua tentativa de pro­mover mudanças estatutárias no interior da organização, com o objetivo de conferir mais poder aos membros que não fazem parte do seleto clube dos países ricos.
 
Ao longo desse mesmo período, por outro lado, a articu­lação do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) passa a ganhar mais espaço e reconhecimento no cenário da diplomacia transcontinental. Com o vácuo de orienta­ção e de saída articulada que se seguiu à crise iniciada no sistema financeiro norte-americano, as demais instâncias diplomáticas e blocos regionais ganham força e expressão. Face às dificuldades dos países mais desenvolvidos em en­contrar caminhos de consenso para superar as dificuldades do sistema capitalista em escala global, os foros alternati­vos de negociação ganham destaque de forma crescente.
 
Dessa forma, aquilo que havia surgido apenas como mais uma sigla criada por analistas da consultoria Goldman Sa­chs passa a se constituir em um bloco de países cada vez mais institucionalizado. As reuniões entre os membros tor­nam-se mais frequentes e a pauta se amplia com temas de natureza variada. A última reunião, realizada há poucas semanas em Fortaleza (CE), marca um avanço especial: a criação de um banco de ajuda mútua e voltado para o fi­nanciamento do desenvolvimento.
 
A instituição recebeu o nome de Novo Banco do Desen­volvimento (NBD) e terá um capital inicial de 50 bilhões de dólares, a ser integralizado em partes iguais pelos inte­grantes do grupo. Apesar da inegável importância da medi­da, não se pode criar ilusões exageradas a respeito do papel efetivo a ser desempenhado pelo novo banco. Não se trata de uma alternativa – nem radical, nem imediata – aos or­ganismos criados pelo Acordo de Breton Woods, fruto do cenário de reconstrução da ordem capitalista pós II Guer­ra. No entanto, o próprio êxito em concretizar a proposta já aponta para um caminho de mudanças.
 
É inegável que existem muitas diferenças, para além das inúmeras afinidades, entre os 5 integrantes do bloco: Bra­sil, Rússia, Índia, China e África do Sul. São países que atu­am de forma importante em seus próprios espaços regio­nais. São nações que apresentam elementos sociais, his­tóricos e culturais também diversos. Porém, a conjuntu­ra atual se apresenta favorável a uma articulação conjunta – daí a janela de oportunidade imediatamente preenchida por suas respectivas diplomacias.
 
Porém, o entusiasmo precisa ser mediado por uma lei­tura mais realista a respeito dos interesses de cada um dos integrantes a respeito do próprio potencial do grupo. Uma das desproporções mais evidentes diz respeito ao pa­pel da China. Na condição de se converter no mais impor­tante país em termos econômicos nas próximas décadas, o gigante asiático avança pesadamente em todas as frentes que encontra. Assim, seu enorme volume de reservas inter­nacionais e sua capacidade de compra de matérias primas minerais e produtos agropecuários permitem exercer uma pressão considerável sobre o setor externo da maioria dos países do mundo em desenvolvimento.
 
O papel dos chineses no interior do Brics também se fará valer na definição das políticas gerais de emprésti­mo no novo banco. Apesar das decisões serem tomadas de forma colegiada entre os 5 integrantes, não pode ser menosprezada a tendência hegemônica da futura potên­cia econômica global.
 
31/07/2014
 
https://www.alainet.org/es/node/102073
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