A internacional reacionária, ou a onda castanha
- Opinión
Há em gestação uma Internacional Progressista, formada principalmente por partidos de centro esquerda e alguns respeitáveis intelectuais, entre eles Noam Chomsky, Naomi Klein, Yanis Varoufakis e Fernando Haddad, dentre outros, que se declaram defensores da democracia, da solidariedade, da igualdade e da sustentabilidade. Seu principal inspirador é o senador estadunidense pelo Partido Democrata Bernie Sanders. Outros signatários conhecidos são o ex-chanceler brasileiro Celso Amorim, o ex-vice-presidente boliviano Álvaro García Linera, o ator mexicano Gael García Bernal, a escritora Arundhati Roy, o filósofo Srecko Horvat e a alemã Carola Rackete, capitã de embarcação e símbolo do resgate de migrantes no Mediterrâneo. Procuram contrapor-se a uma informal mas nem por isso menos coesa internacional reacionária, liderada por Donald Trump e cujos expoentes internacionais são Jair Bolsonaro, do Brasil; os ditadores do Golfo Mohammed bin Salman, da Arábia Saudita, Hamad bin Isa Al Khalifa, rei do Barhein, Khalifa Bin Zayed Al Nahyan, dos Emirados Árabes Unidos; Abdel Fatah al Sisie do Egito e Benjamin Netanyahu de Israel, no Oriente Médio; Narendra Modi na India e Viktor Orbán na Europa. Na América do Sul, a direita governa além do Brasil na Colômbia, Bolívia, Paraguai, Peru e Uruguai.
Apenas três países europeus continuam sem a presença da extrema direita em seus parlamentos, que são Malta, Irlanda e Luxemburgo. Na Espanha, o fascista Vox é a quinta força política do país. Em alguns países a direita com tonalidades fascistas governa ou está próxima do poder na Polónia, Hungria, República Checa, Áustria, Letónia, Eslováquia, Bulgária, Itália e Finlândia. Na Alemanha, o neonazista Alternativa para a Alemanha (Alternative für Deutschland) é a terceira maior força política no parlamento. Sem contar a França, onde o Rassamblement National chegou em segundo lugar nas eleições presidenciais.
A idade dos monstros
“Há vinte e sete anos, disse Viktor Orbán em um discurso, aqui, na Europa Central, nós pensávamos que a Europa era o nosso futuro; agora, sentimos que nós representamos o futuro da Europa”. Nestes tempos sombrios, Orbán se transformou em guia de muitos outros movimentos extremistas de direita em outros países europeus. O lema desses partidos é sempre “Deus, Pátria e Família”, não por acaso o slogan dos integralistas brasileiros nos anos 1930 agora ressuscitados.
Há um ditado popular argentino que diz “Deus os cria e o diabo os reúne”. O momento também parece dar razão a Gramsci: estamos vivendo na idade dos monstros, quando o novo mundo ainda não emergiu.
É de considerar como resistência na Europa o Partido da Esquerda Europeia (em inglês: Party of the European Left (PEL), ou European Left ), do qual faz parte a maioria dos partidos comunistas europeus e seus sucessores, além de outras forças de esquerda anticapitalista, inclusive socialistas democráticos.
Estão muito bem delimitados os campos. A direita com as suas teses de ódio aos imigrantes, nacionalismo exacerbado, contra a União Européia, negacionismo, antivacina e anticomunismo. E a esquerda com o seu ideário humanista que está permanentemente a veicular: solidariedade entre os povos, defesa do meio ambiente, direitos humanos, anticapitalismo, defesa dos trabalhadores.
Um partido robot
A internacional reacionária é liderada por Trump, Bolsonaro e Orbán e pretende polarizar o apoio do extremismo radical conservador. É de se prever que esse tipo de líder vai acabar por levar frustração aos seus correligionários mas o estilo que inauguraram, construído por ameaças, insultos, mensagens racistas, mentiras deliberadas e complôs deve permanecer como estratégia política. Seus ideólogos, formuladores e estrategistas são figuras sinistras do tipo Steve Bannon, que no momento encontra-se na prisão por desvio de dinheiro, Olavo de Carvalho, Arthur Filkestein e o diabólico Gianroberto Casaleggio, que imaginou, criou e gerenciou nas sombras o partido robot Movimento 5 Estrelas, que tem vencido eleições na Itália e está saindo mais forte de cada eleição que disputa com a candidatura dos seus avatares. Seu rosto público e principal agitador é o palhaço Beppe Grillo, personagem política criada pelo próprio Casaleggio, que morreu em 2016 mas não antes de deixar o partido como herança ao filho Davide Casaleggio. Davide gerencia o partido como se fora uma empresa privada e pretende instituir na Itália uma democracia direta via internet, abolindo a representação política, principalmente o parlamento e os outros partidos políticos.
A onda castanha
O site esquerda.net (https://www.esquerda.net/), editado pelo Bloco de Esquerda de Portugal, advertiu que a esquerda, em todos os países - com algumas exceções – não percebeu o perigo. Não viu a onda castanha que estava a se preparar e não achou necessário tomar a iniciativa de uma mobilização antifascista. Para certas correntes da esquerda, a extrema-direita não é mais do que um produto da crise e do desemprego, sendo estas as causas que se deve atacar, e não ao fenómeno do fascismo em si. Estes raciocínios tipicamente economicistas, diz esquerda.net, desarmaram a esquerda perante a ofensiva ideológica racista, xenófoba e nacionalista da extrema-direita.
Esta onda internacional da extrema direita, a onda castanha, não possui um programa ideológico único. Existe uma certa diversidade de ideias. Conta com partidos que se declaram neonazistas, a exemplo do grego Aurora Dourada. E também com forças políticas tradicionais como a UDC da Suíça, autêntica representante da política como sempre tem sido praticada. O que é comum a todos é o nacionalismo chauvinista, a xenofobia, o racismo, o ódio aos imigrantes - sobretudo os não europeus - e aos ciganos (o mais antigo povo da Europa), a islamofobia, o anticomunismo. Na maioria deles estão presentes também o antissemitismo, a homofobia, a misoginia, o autoritarismo, o desprezo pela democracia, a eurofobia.
Nas raízes históricas desses partidos encontra-se o colaboracionismo com o Terceiro Reich alemão.
29/09/2020
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