Tempos de resistência ética
Nessa linha destaca a presença do Papa Francisco no cenário internacional, pela sua trajetória e seu vocabulário.
- Opinión
Artigo publicado em espanhol na Revista América Latina en Movimiento No. 505: Francisco e os movimentos sociais: Terra, Teto e Trabalho 11/09/2015 |
Alguns dias atrás, foi revelado um segredo bem conhecido por todos: a corrupção na FIFA. O processo aberto nos EUA contra dirigentes dessa entidade que supostamente estavam relacionados com inúmeras irregularidades e delitos, segundo investigações feitas pelo FBI. De modo paradoxal, com golpes de arrependimento e discursos moralistas, este fato foi capitalizado, direta ou indiretamente, pelas corporações comprometidas com tais jogadas, como a grande mídia e as instituições relacionadas. As mesmas que condenaram grandes figuras do futebol quando, antes, formulavam denúncias desse mesmo tipo.
O eco deste acontecimento, é claro, se relaciona com o fato que se trata de uma das expressões mais significativas da globalização em termos de mercado: o futebol, um dos esportes mais populares na terra, tem na FIFA a máxima instância, a qual tem status de ONG sem fins lucrativos mas quem, de fato, conta ganhos econômicos tão grandes quanto os das empresas transnacionais, só que com mais influência política do que a maioria delas.
Não é um exceção. Para nos limitarmos aos últimos acontecimentos, há uns dias atrás foi revelada a participação de políticos e empresários de vários países em fraudes financeiras operadas pelo banco HSBC. E, se passamos ao plano das organizações internacionais, olhando apenas para o cerne do Fundo Monetário Internacional (FMI) cujos últimos três dirigentes têm sido investigados por atos de corrupção.
Estas situações não são fortuitas. Como afirma o sociólogo francês Alain Touraine, autor da obra “o fim das sociedades”, são a expressão mais clara do domínio do capitalismo financeiro que está acabando com as construções sociais do passado. O sociólogo afirma que o que resta é confiar na resistência ética. Nessa linha ele destaca a presença do Papa Francisco no cenário internacional, pela sua trajetória e seu vocabulário.
Diferentemente dos que o antecederam, desde o início da sua missão Francisco claramente assumiu o papel de estadista, quando colocou na sua agenda os problemas do mundo e da sociedade a partir de uma postura de autocrítica a respeito da própria igreja (a reforma dos organismos do Vaticano, correções na administração econômica, punição da pedofilia, etc.) para que a mesma tenha as portas abertas.
Ao resgatar a concordância entre as palavras e os fatos, seu compromisso com a paz e a resolução de conflitos internacionais tem tido múltiplas expressões: da denúncia da possibilidade de que "uma guerra pode ter começado aos poucos, com crimes, massacres e destruições" até ações específicas de mediação (Israel e Palestina, EUA e Cuba, Síria etc.).
O Papa vem de publicar a encíclica "Laudato si, sobre o cuidado da casa comum", onde convoca à conversão ecológica. No ano passado, na exortação Apostólica Evangelii Gaudium expôs seu pensamento social e deixou claras as suas questões sobre o neoliberalismo. Assim reivindicou a primazia do ser humano sobre o capital e a necessidade de recuperar pautas éticas na vida pessoal e coletiva. Nessa linha, animou a organização do encontro mundial de movimentos populares (Roma-Vaticano, 27 a 29 de outubro de 2014) para ver conjuntamente novos caminhos para a inclusão social. Desde então, tem ficado em aberto um espaço de diálogo, sob a premissa das palavras de Francisco nesse item: "queridos irmãos e irmãs, sigam com sua luta, ela faz bem para todos".
Tradução: Diana Paola Gómez Mateus (El Eje: CC/Coletivo Chasqui)
Revisão: Erika Nascimento (UFF)
Artigo publicado em espanhol na edição 505 (junho 2015) da revista América Latina en Movimiento: “Francisco y los movimientos populares: Tierra, Techo y Trabajo”. http://www.alainet.org/es/revistas/170627 - See more at: http://www.alainet.org/pt/articulo/170915#sthash.44luufZe.dpuf
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