A guerra da mídia e o ódio ao PT
- Opinión
Marcos Coimbra publicou uma análise interessante [[1] sobre os resultados de recente pesquisa do Instituto Vox Populi. O articulista frisou os achados que considera mais importantes:
1. a distribuição da preferência do eleitorado brasileiro repete a tendência histórica, com um terço dos eleitores a favor do PT, outro contra e o terceiro terço sem definição, em disputa;
2. 12% das pessoas detestam o PT. Não é mencionada, entretanto, a porcentagem dos que “não gostam do PT, mas sem detestá-lo”, extrato que amplia o sentimento hostil ao Partido; e
3. a maior parcela de pessoas que nutrem o sentimento de ódio ao PT pertence aos segmentos de maior renda e reside nas regiões mais ricas do país [sul e sudeste].
A partir destes resultados, ele propõe algumas conclusões, resumidas nos dois pontos:
1. considerando-se a intensidade e longevidade da guerra sistemática perpetrada contra o PT há pelo menos 10 anos, com terríveis danos ao seu patrimônio simbólico, o percentual de 12% de pessoas que detestam o Partido é menor do que aparenta ser, e menos material que a atmosfera de terra arrasada que é produzida pela e na mídia;
2. um partido ser detestado [odiado] por 12% das pessoas não é, em absoluto, nada desprezível. Porém, está longe de decretar a sentença de morte do PT – 88% das pessoas não compartilham o mesmo sentimento odioso.
A metodologia empregada na pesquisa procurou constituir uma base analítica sobre o fenômeno do ódio e da intolerância na política. A pesquisa não avaliou a popularidade da presidente Dilma e a aprovação do governo, porque buscou aferir a extensão do sentimento de ódio ao PT.
A pesquisa é, neste sentido, uma referência empírica importante – talvez inédita nas sondagens de opinião disponíveis –, que ajuda a desanuviar a paisagem política intoxicada com doses justificáveis de intimismo e dramaticidade.
Pode-se constatar, por exemplo, que o poder da mídia conservadora e oposicionista não é total; não tem o efeito avassalador que sua guerra nada santa contra o PT intenciona produzir. Em tese, a pesquisa revela que a mídia tem uma eficiência apenas relativa na fabricação de uma consciência popular oposicionista. O que poderia explicar, então, esta realidade? Algumas hipóteses:
1. atuando de maneira militante e tendenciosa e tomando parte orgânica do debate público – partidarizando-se, portanto – a mídia perdeu credibilidade e confiança, e não é reconhecida como isenta e imparcial, mas sim como ator político e partidário com forte ativismo na arena pública;
2. o acesso da maioria da população a fontes alternativas de informação, como blógues, saites, redes sociais etc, liberta da dependência exclusiva das fontes dominantes que pasteurizam o noticiário de maneira tendenciosa;
3. o maior acesso das pessoas aos espaços públicos e a uma inserção comunitária no ensino, no lazer, na cultura, no trabalho, beneficia o intercâmbio social, cultural e político independente dos mantras ideológicos e modismos preconceituosos do noticiário.
Finalmente, uma hipótese sobre a resistência do PT, enquanto instituição, à campanha abrumadora de destruição que lhe é dirigida: com sua obra de construção democrática e modernizadora do Brasil, o PT revela-se com a dureza duma fortaleza granítica.
O Partido exibe uma vitalidade surpreendente ante a evisceração sofrida não somente pelos seus erros, mas também pelos seus acertos. Dificilmente outra agremiação partidária, em qualquer parte do mundo, sobreviveria e continuaria existindo depois de enfrentar a prisão de ex-dirigentes e sendo alvo sistemático da torpeza político-midiática por 10 anos a fio.
A revelação da pesquisa do Vox Populi não é a salvação da lavoura, mas apenas um elemento racional de análise. As perspectivas de futuro do PT continuam complicadas, mas longe de ser a condição terminal comemorada pela classe dominante e sua mídia conservadora, que já no ano de 2005 decretou “o fim da raça” dos petistas.
O PT continua devendo as respostas políticas que esta complexa conjuntura exige, sob pena de, com sua catatonia, confirmar a profecia do seu fim. O Congresso do PT, ainda que revele o crescimento de posições internas críticas à maioria dirigente, foi uma circunstância desaproveitada para o esforço de mudança do PT.
A generosidade do povo tem de ser correspondida com gestos concretos de parte do PT que, por enquanto, tem tido mais sorte que juízo. A história cobrará uma fatura caríssima se o PT persistir com suas ausências, insuficiências e falências políticas.
Agência Carta Maior
][1]] “O tamanho do ódio”, coluna publicada na edição número 854 da Carta Capital, 14/06/2015.
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