Dezembro: Distrito Federal, a décima segunda estela (Primeira imagem: a cidade entre a miragem e a realidade).

01/03/2003
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É de novo madrugada quando a mão e o olhar tocam o calendário. Em cima se lê "Dezembro" e em baixo "México, Distrito Federal". Não sem dificuldade, nuvem e pedra sobem da terra de Zapata até os limites do Distrito Federal. O frio da madrugada saúda-as quando chegam em Malacachtepec Momozco, que é como os antigos chamaram Milpa Alta. A resistência rebelde dos moradores destas terras fez com que, em 1529, a Real Audiência reconhecesse suas propriedades comunais e o seu direito de escolher os governantes. A história de luta se ampliou até 1914, quando os zapatistas ratificam o Plano de Ayala no quartel de Oztotepec, e continua. Cobiçadas pelos poderosos, estas terras têm sido defendidas por seus habitantes ao longo de todo o século XX. E o amanhecer do século XXI ilumina os milpaltenses fazendo a mesma coisa de há 500 anos atrás: resistindo. Organizados ao redor da Representação de Bens Comunais de Milpa Alta e Povos Adjacentes, os moradores desta região criaram a Frente Contra a Imposição e a Expropriação das Terras. Com a mão e a palavra do representante comunal de mais de 80 anos, don Julian, caminha a sabedoria dos mais antigos que reiteram duas bandeiras: resistência e rebeldia. Assim, os milpaltenses repetem a história de resistência diante da coroa espanhola e lembram, sem nomeá-lo, o recém-falecido Ramiro Taboada e a Aliança dos Povos de Anáhuac. A expropriação das terras é o que une Milpa Alta a boa parte da periferia da Cidade do México. Aqui, e em toda a região oeste da cidade, se sofre pela voracidade dos que são Poder. O governo da cidade insiste em sobrepor seus conselhos vicinais (de lógica urbana) às estruturas comunais (de lógica camponesa indígena). O alheio à cidade é sempre estrangeiro, ainda que sua certidão de nascimento diga o contrário. Seguindo a serra de Chichinautzin e o trecho da rodovia que golpeia e divide os povoados de San Mateo Tlaltenango, Santa Rosa Xochiac, San Bartolo Ameyalco, San Nicolas Totolapan, Ajusco e Contreras, para unir o colégio militar a Cuajimalpa, a pedra chega a esta última. Cuauximalpan ou Cuajimalpa abriga o chamado Deserto dos Leões e o Bosque dos Cedros. Este bosque conta com 331 mil 443 metros quadrados e foi comprado em 1982 por Emilio Azcárraga Milmo, Guillermo Cañedo de la Bárcena e Guillermo Barroso Chavez, entre outros, pela quantia de 16 milhões e meio de Pesos. Apesar da lei proibir as construções com fins lucrativos, aqueles que são governo a distorcem para favorecer os empresários. Nos planos do dinheiro, um setor do Distrito Federal será a sede do seu sonho: viver numa cidade norte-americana. O seu nome? Santa Fé. Desta forma, os espaços próximos a esta metrópole do futuro valem ouro... Bom, melhor, dólares, porque em Cuajimalpa os terrenos não são vendidos em Pesos, mas sim em dólares. A nuvem se detém diante de um letreiro que anuncia um loteamento a preço de banana: vale só 400 mil dólares. A estratégia da expropriação envolve o Distrito Federal. É a lógica do dinheiro a destruir e reconstruir o entorno, como numa guerra. Cuajimalpa, Huixquilucan, La Marquesa, Toluca, Atizapán, San Salvador Atenco. Estes nomes lhe dizem alguma coisa? Têm como denominador comum a guerra do capital para conquistar estes territórios, mas também a resistência e a rebeldia dos que se opõem à destruição. Ao norte, na colônia Progreso, projetos de urbanização e eixos viários expulsam os moradores. Em Azcapotzalco, a delegada chamada Saldaña e integrante do PAN (ela declara, sem nenhum constrangimento, que "tratar com índios selvagens lhe dá enxaqueca") sacrifica as obras sociais para poder gastar mais nas campanhas eleitorais e faz do nepotismo o seu programa de governo. Demonstrando poder imitar os priistas, a delegada condiciona a regularização do comércio informal à filiação ao Partido da Ação Nacional. Além disso, toda a delegação está sendo reordenada para que as indústrias (e não os habitantes) contem com todas as facilidades. O antigo mercado Ferrería se tornará um parque industrial para as maquiladoras; as vias de acesso são remodeladas para favorecer estas plantas industriais; a empresa Metrogas ameaça de morte as vizinhas da colônia Nueva Santa Marta que expressavam dúvidas sobre a segurança e a eficiência do serviço que pretende impor-lhes; os ejidatários de San Juan Tlilhuaca resistem ao roubo de suas terras; na unidade Cuitláhuac e na unidade Pantaco, os ex- ferroviários se organizam para evitar o desalojamento. A nuvem voa alto para ver melhor a Cidade do México, chamada agora de "a cidade da esperança". Sim, mas a esperança de Andrés López Obrador, a esperança de chegar à Presidência da República em 2006. Ainda que se supõe faltarem três anos para as eleições presidenciais, as campanhas para 2006 iniciaram no dia em que Jorge Castañeda G. renunciou ao Ministério das Relações Exteriores e se mandou "para a sociedade civil". O senhor Castañeda apostou em obter do governo estadunidense a aprovação de sua candidatura. A "prova de amor" foi a virada radical na política externa, particularmente no que se refere a Cuba. Depois do "Affaire Monterrey", os gringos se mostraram mais que satisfeitos e Castañeda recebeu a recomendação de sair do gabinete para não se submeter ao desgaste. Do lado de fora, pode repetir o caminho de Fox: chegar em Los Pinos sem um partido político, mas com amigos como Elba Esther Gordillo e, naturalmente, o senhor Garla, embaixador dos Estados Unidos no México. Quase paralelamente a isso, arrancou de Fox Marta Sahagún, que se encontra agora numa acirrada disputa... entre sua ambição e sua estupidez, ambas já são parte da baixaria mexicana e, com certeza, farão lenda. Seja lá o que for de cada um deles, a senhora Sahagún já tem, além do mal-gosto para vestir, um programa de governo: transformar 80 milhões de mexicanos em pedintes agradecidos. Quem ainda está fazendo contas é La Coyota, Diego Fernández de Cevallos. Mesmo tendo vivido em Los Pinos desde Salinas de Gortari, La Coyota faz cálculos monetários sobre a rentabilidade de estar no Poder ou por trás dele. Enquanto isso, com a mesma indecisão com a qual enfrenta o seu guarda-roupa a cada manhã, o "psicopata mexicano", Santiago Creel, puxa as pétalas de uma margarida que ninguém lhe ofereceu. Muito longe, e ainda na linha da largada, se encontram: Pablo Salazar M., em Chiapas; Miguel Alemán Velasco em Veracruz (que, marcando bobeira, pensou que o fato de pôr "Valdés" na corte era um erro, quando, na realidade, era uma delicadeza - porque era melhor mencionar o pai e não a mãe); Murat, em Oaxaca e Monreal em Zacatecas. Madrazo Pintado? Talvez está se dando conta somente de que preside um partido que não existe mais (pelo menos, não como antes, por isso, em seus discursos, recorre seguidamente à saudade), e, além do mais, não tem tempo para ocupar-se de seus adversários, pois deve vigiar as descaradas demonstrações de carinho que sua secretária geral doa com profusão à primeira dama. O que? Você acha que "a cavalada está fraca"? Não se surpreenda. A grande lição do processo eleitoral de 1994 (quando Zedillo chegou à Presidência) é que qualquer imbecil pode ser titular do Executivo federal. À diferença de todos os seus adversários atuais, López Obrador tem a seu favor o futuro de um movimento social. Conhecedor de como surgem estes movimentos, o que os alimenta e ao que aspiram seus dirigentes, López Obrador conhece também os mecanismos para cooptá-los e controlá- los. Homem extraordinariamente hábil e pragmático, López Obrador concebeu (do mesmo modo que Cárdenas Solorzano há seu tempo) a chefia do governo do Distrito Federal como um trampolim para a cadeira presidencial. Mas há uma diferença fundamental a respeito de Cárdenas: López Obrador governa, e governando constrói alianças e pactos, coopta e destrói críticas e oposições, agrada pensamentos que poderiam questioná-lo e, sobretudo, faz boas ações para convencer o grande eleitor: o poder do dinheiro. À frente do governo da Cidade do México, López Obrador está demonstrando que uma das artes da política moderna, a arte da simulação, ainda pode ser eficaz. Sobretudo quando se tem cúmplices tão eficientes como seus rivais: Fox e o PAN. Se ninguém lembra a oferta falaz de López Obrador ("pelo bem do todos, primeiro os pobres"), é porque as mentiras de Fox não deixam espaço para mais nada. Velho zorro, López Obrador contempla à distância a carnificina que se dá no interior do PRD. Sabe que um partido político fraco é um partido político que não pode fazer exigências. E não só isso, abrigados na imagem de López Obrador, os candidatos perredistas têm mais dívidas do que créditos nas contas do futuro. O PAN? Bom, só o PRI se iguala a ele na nula capacidade de mobilização e resistência. Incapaz de opor-se a partir de baixo (os chefes panistas das delegações acabam de descobrir que não podem fazer "panelaços" de massa, porque suas "bases" usam fornos de micro-ondas), o PAN tem recorrido aos escândalos na imprensa (que já lhe deram bons resultados diante de Rosário Robles, quando esta sucedeu a Cárdenas no governo do Distrito Federal). Contudo, capaz de aprender de todos os lados - inclusive de seus críticos e opositores -, López Obrador tem resistido aos embates da mídia e dosa suas palavras e seus silêncios. Além disso, tem descoberto algo que escapou a todos os "analistas políticos", a saber, que as campanhas de desqualificação na mídia chegam a um ponto máximo, passado o qual se tornam, sem querer, campanhas de promoção involuntária. Enquanto seus difamadores concentravam seus esforços na imprensa, López Obrador lançou mão da antiga estrutura corporativa do PRI no Distrito Federal, e a "reorientou" com um valor a mais: a incorporação de um Movimento Urbano Popular, aquele que em algum momento fez tremer os senhores do dinheiro e que hoje, docilmente, faz fila para uma candidatura que, basta vê-lo, não chegará. Em paciente espera, na sede do Poder do Dinheiro há uma balança romana. Num dos pratos está a Presidência do México. O outro está vazio. Aqueles que quiserem comprar o posto do Executivo federal devem colocar no prato vazio algo que iguale o peso no outro prato. Se Jorge Castañeda G. colocou e a inteira política externa mexicana, Marta Sahagún de Fox a força do clero reacionário e La Coyota Fernández de Cevallos o poder do narcotráfico, López Obrador colocou no prato a maior cidade do mundo. O poder que realmente conta na política moderna, o poder do dinheiro, ainda não decidiu. Mas não porque esteja em dúvida. É porque está ainda fazendo contas... A nuvem continua o seu vôo. Lá em baixo, se vê a colônia Guerrero. Aí, em 3 de agosto de 1911 nasceu o maestro Manuel Esperón, que não criou só a canção Não voltarei, mas que compôs sim muitas das melhores músicas de Pedro Infante (e Jorge Negrete), entre elas Amorzinho coração, que ainda se cantarola nas carpintarias da Cidade do México. Com Enrique Gramados, Ernesto Cortazar e Octávio Paz, o maestro Manuel Esperón, em 1943, compôs a trilha sonora de um filme, produzido por Aguila Film e Oscar Dancigers, dirigido por Jaime Salvador, e com Jorge Negrete, Maria Elena Márquez, Julio Villarreal, Federico Piñeiro, Migue Angel Freis e Felipe Montoya como atores principais. O título? O rebelde. Com este título, e paga uma dívida de honra, nuvem e pedra ganham altura para aproximar-se de outras partes da Cidade do México. Esta cidade oferece uma miragem. Parece habitada só por carros enojados, centros comerciais assépticos, noticiários que se debatem entre a mentira e o escândalo fácil (apesar de que alguns fazem uma síntese), programas de televisão que premiam o ridículo em horário nobre, rápidos comboios repletos de guarda-costas transportando funcionários ou magnatas que não vão a lugar algum, mas se movimentam porque acham necessário lembrar à cidade que eles existem. A Cidade do México. Uma multidão de cidades em trânsito para outras cidades (às vezes próprias, mas sempre alheias). Uma cidade que perdeu a sua capacidade de se assustar diante do cinismo e da corrupção. Uma cidade que, contudo, a madrugada continua surpreendendo despida. Uma cidade que todos quiseram domar, matar. Mas que, contudo, continua rebelde, indômita e imprevisível. Porque esta cidade tem a virtude de ter o sono leve. E acorda logo quando a própria desgraça ou a alheia turvam os dias e as noites que as miragens escamoteiam. Mas agora, a esta hora da madrugada, parece vazia... Onde estão aqueles que a fazem andar? Onde estão aqueles que a alimentam, lhe dão luz, cor, ritmo, vida? Onde estão os irmãos e irmãs que, generosos e sem impor condições, dirigiram seu olhar para aqueles que, como eles e elas, são a cor da terra? Onde estão aqueles que naquele Zócalo de Março de 2001 ouviram aquele "não permita que volte a amanhecer sem que esta bandeira tenha um lugar para nós que somos a cor da terra"? Onde ficou a cidade rebelde e solidária? Onde estão os movimentos sociais que davam corpo e abrigavam as resistências e rebeldias que surgiam em todos os lugares do México de baixo. Onde está a gente humilde que, tendo pouco, dá tudo a quem precisa dele? Pedra e nuvem se põem à procura. Procuram, e procurando, encontram. Dispersas e fragmentadas, não porque seja este o seu destino, mas sim porque crescem desta forma, a rebeldia e a resistência se abrigam naqueles que, sendo de baixo, não contam para os que são de cima. È difícil orientar-se, mas, olhando para cima e para baixo, pedra e nuvem aprendem a distinguir entre as luzes e os simples reflexos oferecidos por uma poça de água suja. Por exemplo, esta luz ainda pálida se esforça em construir uma alternativa cultural que, por definição, é crítica e constrói suas perguntas com engenho e imaginação. E suas cores são muitas. Desde o arco-íris que, às vezes com a roupagem do Hábito, reivindica não só a livre opção sexual, mas também o direito de ser sem máscaras e sem closet; até aqueles que usam o Facão e a Arte para dar voz e ouvido aos marginalizados; passando pelos grupos e espaços culturais que, fora dos espaços oficiais exercem o velho e esquecido direito de aprender e ensinar divertindo e convivendo, como naquele auditório onde Alicia nos olha através do espelho. Já é noite na cidade. Uma voz anônima declama numa esquina: "No início era a palavra e a palavra se fez verbo e, para melhor andar pelo mundo, o verbo se fez... rock and roll" e então, na falta do violão, o declamador sem maestro e sem público arruma com capricho o chiclete com os dentes e agora se distingue perfeitamente a "tonelada" que diz "Papa was a rolling stone". E gingando num ritmo já solicitado em qualquer table-dance, "like a rolling stone", nuvem e pedra continuam procurando e encontram mais luzes. Lá, fugindo seguidamente de esquemas e pressupostos, os jovens fazem do seu visual, de seu baile e seu falar uma contínua performance que reitera a rebeldia. E aí estão os darketos, os bandas, os punks, os skins, os metaleiros, os skaiteiros, os tecnos, os roqueiros, os muitos nomes com os quais os jovens se vestem. E assim, defendem uma identidade que lhe é arrebatada por uma sociedade que criminaliza a idade, mais do que a roupa o corte ou a cor do cabelo. E, falando de jovens e de rebeldias, lá estão as luzes da UNAM, UAM, ENAH, POLI e UPN. Parecem estar doloridas, como se estivessem feridas. Como se estivessem esquecidas sim, mas não derrotadas. Apenas um "espere aí cara, não vou xingar porque são apenas laranjas podres e dá um tempo se você conseguiu uma moeda pegue um sanduíche e uma bebida e ofereça aos companheiros e é que eu gostaria de falar, mas acontece que a mesa, só para foder, a concede sem moção alguma e é incrível mas todos parecem estar escutando, então, um jovem sem rebeldia é, como vou te dizer mesmo?... mmh... como um baile sem música?... como uma torta sem presunto?... como uma mesa sem assembléia?... como um panfleto sem uma causa que lhe dê vida?... como um protesto sem bandeiras?... ou, melhor ainda, como um livro sem ninguém que o leia, o sublinhe, faça o resumo-e-a-crítica-pessoal-no-máximo-de-duas- laudas-em-cima-se u-nome-e-número-de-matrícula-e-agora- nós-vamos-ou-voltamos-à-p ágina-69-porque-cada-um-a-seu- modo-ou-que...? Os jovens que para o sistema são lixo reciclável a cada período eleitoral. Os jovens que carregam, como crachá de identificação, sua desconfiança. Os jovens que se negam a comprar a vida com a falsa moeda do cinismo. Os jovens, carne de presídio, de blitz, de surras, de estupros, de desprezo, de humilhação, de mentira, de morte. Os jovens, irreverentes, irredutíveis... invencíveis enquanto não esquecerem que um jovem sem rebeldia é... como vou te dizer mano?... A madrugada avança e a cidade despida começa a se vestir com a roupa modesta das barracas dos ambulantes. Agarrados ao desejo de construir uma vida honesta, nas ruas e nos mercados, os pequenos comerciantes não devem resistir só à polícia e aos fiscais. Também aos grandes centros comerciais que, sabendo que a mercadoria dos ambulantes e de melhor qualidade e preço, usam todos os seus recursos para eliminá-los e marginalizá-los ou para a indigência ou para o crime. Aí se vê Viana que, obviamente, não vende mais barato. Mais pra lá está o Wal-Mart cúmplice da senhora Sahagún na enganação dos consumidores. Além de roubar nos preços e na qualidade dos produtos, o Wal-Mart tira uns centavos daqueles que caem em suas redes. A propaganda diz que estes centavos (que se transformam em milhões com o passar dos dias e dos clientes), são para a educação, mas, na realidade, são para a Fundação Vamos México, este superministério de Estado dirigido por Marta Sahagún de Fox. Entre os grandes centros comerciais e as barraquinhas de esquina, são melhores e muito mais baratas (e muito mais honestas) as miscelâneas e as lojas onde se acha de tudo. Se a nuvem e a pedra têm alguma lembrança do que é solidariedade com o desconhecido com a desgraça, está entre o povo mais pobre e mais perseguido desta cidade. Vendedores, taxistas, motoristas, prostitutas, aprendizes, lutadores (de luta livre e da vida), jornaleiros e boxeadores, comedores de fogo, palhaços, lavadores de pára-brisa de esquina, homossexuais, travestis, transexuais, vendedores de sorvete, de tortas, de hot dog, de vitaminas uma-de-nozes-por-favor-hoje-não- se-vende-fiado-quem-sabe-amanh ã-dama-cavalheiro-por- esta-ocasião-única-venho-lhe-oferecer-es ta-oportunidade- leve-10-Penas-10-qualidade-de-importação-só-10 -Pesos- próxima-parada-estação-indígenas-verdes-tirui... Por que na hora de ajudar dá mais quem tem menos? Quando furacões, secas e terremotos pintam de miséria a terra dos humildes de qualquer parte do México, é o povo mais pobre a fazer fila para entregar, nos postos de coleta, o arroz, o feijão, o óleo e o sal que, com certeza vão fazer falta em sua própria mesa. Enquanto nos teletons da esmola, os poderosos distribuem cheques com muitos zeros e nenhuma dignidade. O humilde dá o que tem, refletem a pedra e a nuvem, e o poderoso dá o que lhe sobra, o que estorva, o já usado, o inservível. A pedra caminha. A nuvem voa. Quantas cidades esconde esta cidade! Quantas têm a dignidade que falta ao poderoso! E quantas cidades dentro desta cidade tramam e festejam o crime! Mas estas nós vamos visitá-las amanhã. Com certeza elas escondem mais do que mostram... Das montanhas do sudeste mexicano. Subcomandante Insurgente Marcos. México, janeiro de 2003.
https://www.alainet.org/en/node/108122
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