Terroristas, criminosos de guerra

03/04/2003
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Duas semanas depois de iniciada a guerra norte-americana ao Iraque, com um inominável cortejo de horrores, revela-se com nitidez a falácia dos argumentos dos agressores e o mundo se confronta com o caráter terrorista do imperialismo estadunidense. A "guerra cirúrgica", as "bombas inteligentes", os "bombardeios humanitários" anunciados pelo Secretário da Defesa Donald Rumsfeld estão resultando num até ontem impensado holocausto para o povo iraquiano. Áreas residenciais, hospitais, maternidades, mercados, prédios administrativos, palácios são alvos que se misturam nas lentes dos agressores às instalações militares. Os números oficiais do governo iraquiano falam da morte de mais de 600 civis e da existência de quase cinco mil feridos. A Cruz Vermelha Internacional, através do porta-voz do seu Comitê Internacional, classificou de "horror" os bombardeios realizados pela coalizão agressora anglo-americana e pôs em dúvida o tipo de arma utilizada no ataque à cidade de Hilla, a 80 km ao sul de Bagdá. Seriam químicas? Seja o que for, a Cruz Vermelha quedou estarrecida com a mutilação dos corpos. Os bombardeios são acompanhados por operações em terra em que as tropas anglo-americanas se desmandam em atos que lembram as crueldades dos SS nazistas. Uma equipe de TV portuguesa foi duramente castigada por fazer cobertura em área proibida. Interpelado, um oficial envergando uniforme do exército dos Estados Unidos pediu aos repórteres que relevassem a brutalidade sofrida, pois "meus homens são adestrados como cães". Um carro com civis foi metralhado, com todos os seus tripulantes chacinados. Sedes do Partido Baath e residências de militantes e dirigentes são invadidas, como eram pela Gestapo as sedes dos partidos antinazistas, as casas dos militantes comunistas, as residências dos judeus. Os métodos fascistas do governo de Bush converteram-se também em armas domésticas. Milhares de pessoas têm sido detidas, algemadas, submetidas a vexames por participar de manifestações pacifistas. Ressurge contra intelectuais e artistas a ameaça de um novo macarthismo. A histeria da propaganda oficial procura identificar como antipatriotas aqueles que se opõem à guerra. Agitam a bandeira do antiamericanismo em crescimento no mundo. Mais do que no momento em que foi proclamada depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, a tese de que há uma conspiração terrorista internacional contra os Estados Unidos e de que ou o mundo se alinha à superpotência, ou a superpotência ataca o mundo, impregna a política e as ações do governo estadunidense. O desenrolar da guerra vai mostrando a verdadeira face do imperialismo norte-americano sob o governo ultraconservador de Bush. Na verdade, surgiu um novo tipo de terrorismo e este de fato ameaça o mundo, protagonizado pela superpotência militarista que atropelou o sistema multilateral e decretou a irrelevância das Nações Unidas. Terrorismo como método do expansionismo e da estratégia de dominação do mundo do imperialismo estadunidense, em cuja aplicação os mandatários do país mais poderoso do mundo se converteram também em criminosos de guerra. * José Reinaldo Carvalho. Jornalista. Vice-presidente, responsável pelas Relações Internacionais.
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