Teologias da guerra

31/12/2001
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Para Santo Agostinho, a paz é o maior bem da cidade terrestre. Para defendê-lo, justifica-se a guerra. É o princípio da guerra justa. Para declará-la, requer-se que a causa seja justa, a autoridade legítima, a intenção reta e os danos limitados. Tomás de Aquino retomou a questão no século 13, afirmando que a guerra e o amor cristão se contradizem. Assim, todas as guerras são injustas, exceto quando se trata de legítima defesa, resguardada a limitação de danos. Isso significa evitar a morte de civis. Na I Guerra Mundial (1914-1918), as vítimas civis corresponderam a 5%. Na II Guerra (1940-1944), a 50%. No Vietnã, a 85%. Hoje, as guerras de limpeza étnica, como a da Bósnia, sacrificam quase 90% da população civil, sem que os militares, que atiram bombas do alto de seus aviões, sofram qualquer arranhão. Na I Guerra, o papa Bento XV assumiu posição pacifista, condenando-a, sem dar razão a franceses ou alemães. Na II Guerra, Pio XII considerou-a injusta, embora reconhecendo o direito de autodefesa dos inocentes agredidos. Na encíclica Pacem in Terris (1963), o papa João XXIII reafirmou que a guerra não é justificável em nenhuma hipótese, pois consiste sempre num ato contra a humanidade. E propôs o desarmamento como exigência de paz. O Concílio Vaticano II atenuou tal posição, influenciado pelo cardeal Spelmann, capelão das Forças Armadas dos EUA que, naquele momento, bombardeavam o Vietnã. O cardeal justificou a fabricação de armas, alegando que a única maneira de assegurar a paz era pelo equilíbrio do terror nuclear. Porém, o Concílio repudiou qualquer ação bélica que tem em vista a destruição indiscriminada de cidades inteiras ou de vastas regiões, com seus habitantes (Gaudium et spes 80,4). O Catecismo, aprovado por João Paulo II em 1997, admite que não se poderá negar aos governos o direito de legítima defesa (2308), retomando o princípio da guerra justa. Condena, no entanto, como pecado mortal, o extermínio de um povo, de uma nação ou de uma minoria étnica (2313). No Sínodo dos Bispos, reunido em outubro, em Roma, a condenação ao terrorismo e ao ataque dos EUA à população civil do Afeganistão veio da boca de dom Cláudio Hummes, cardeal de São Paulo. Devido à pressão dos bispos dos EUA, que apóiam o presidente Bush, o documento final não assumiu uma posição mais contundente a favor da paz como fruto da justiça. Segundo o profeta Isaías, a paz não deriva do equilíbrio de forças, mas é fruto da justiça (32, 17). Hoje, ele faria eco ao papa João Paulo II e clamaria que não haverá paz enquanto não for reduzida a desigualdade entre o Norte e o Sul do mundo, cancelada a dívida externa dos países mais pobres, reduzido o arsenal bélico e a acumulação de riqueza em mãos de poucos, protegido o meio ambiente e reconhecidos os direitos do próximo. Porque a paz precisa ter sabor de pão. Sem o pão nosso, a paz e o Pai não virão até nós.
https://www.alainet.org/en/node/105528?language=es
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