Opción os deuses não salvaram a América
09/11/2001
- Opinión
Nossa estrutura psíquica é alimentada também por mitos, como bem o
demonstra Campbell em suas obras. Dos deuses do Olimpo grego aos
heróis de histórias em quadrinhos fabricadas nos EUA, os mitos servem
de projeções às nossas insuficiências e de compensações às nossas
fraquezas.
Criança, tentei erguer um saco de cimento após comer uma pratada de
espinafre... E se a minha mãe não tivesse sido levada ao quarto por
meu anjo da guarda, naquele exato momento, eu teria saltado da janela
vestido com a capa do Super-Homem.
O Olimpo dos deuses americanos desabou com as torres do WTC. A nação
que se julgava invulnerável viu-se, de repente, ferida de morte por
terroristas que teriam burlado até o escudo antimísseis se ele já
funcionasse.
Fica a pergunta no ar: onde estavam eles? Onde estavam o Capitão
América, o Batman, o Mandrake e a Mulher Maravilha? Eles que sempre
ofereceram proteção no momento da ameaça, socorro no perigo, punição
imediata aos criminosos. O silêncio dos deuses impregna a nação
americana, agora, de um profundo sentimento de orfandade. E medo,
muito medo, comparável ao que experimentou Jesus, no Horto das
Oliveiras, ao sentir-se abandonado pelo próprio Deus.
Hollywood encantou o mundo com suas imagens bem produzidas. A ponto
de as imagens passarem a ter mais importância do que a realidade nua
e crua. Instaurou-se a glamourização da notícia. Como nos enlatados
de TV, há mortos, mas não se vê cadáveres; há bandidos e terroristas,
mas jamais vence a impunidade; há invasões alienígenas, mas no final
a América escapa incólume.
Agora, tenta-se mascarar o real com a maquiagem hollywoodiana. Os
cadáveres do WTC são jogados para baixo do tapete. Ninguém viu um
deles ser retirado dos escombros, como não se viu um enterro de
vítimas do Pentágono. E o dedo em riste do velho tio Sam, com sua
cartola raiada de estrelas, enfia-se na cara de quem se atreve a
mostrar que Bin Laden está vivo, enquanto centenas de civis, entre os
quais crianças, são sacrificados. O ataque ao Afeganistão é algo
muito mais grave do que um videogame de fundo verde repleto de pontos
luminosos.
O virtual substitui o real, exceto para quem está sob a chuva de
bombas pagando por um crime que não cometeu. A Casa Branca,
entretanto, não cogitou bombardear Oklahoma para caçar o jovem
McVeigh, que fez explodir um prédio público, matando 169 pessoas.
Quem sabe Popeye andou comendo espinafre transgênica ou o Homem-
Aranha tenha ficado enroscado em sua própria teia, como a lógica da
CIA, que tantos atos terroristas promoveu pelo mundo afora. O fato é
que, agora, a nação americana terá de olhar a si mesma, e ao mundo,
de modo muito diferente.
https://www.alainet.org/en/node/105405
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