O rebanho americano em vias de perder uma ovelha

05/08/2019
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Foto: taringa.net
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Há muitos anos os Emirados Árabes Unidos integram o rebanho americano. Os EUA contam sempre com o apoio automático deles no Oriente Médio. Venha o que vier.

 

Mas agora, Trump está preocupado: a dócil ovelha parece a fim de sair do aprisco.

 

O republicano começou a ficar apreensivo quando o governo de Abu Dhabi ordenou uma retirada das suas tropas na guerra do Iêmen, parcial, mas substancial.

 

Entre os países que apoiavam a Arábia Saudita nesse conflito contra os rebeldes iemenitas, os houthis, a UEA era quem participava, de longe, com o maior contingente militar e equipamentos bélicos.

 

Os EUA estavam ao lado dessa coalisão, pois lhes interessa, e muito, que eles vençam, pois os houthis são aliados do Irã. Aliás, até agora tal aliança não deve ter rendido muitos armamentos, faltam proas de que sejam de peso.

 

Embora os emires garantissem que continuavam firmes, batalhando ao lado dos sauditas, os EUA não devem ter ficado nada satisfeitos. A inesperada saída poderia comprometer as ações contra os inimigos e, por extensão, beneficiar seus padroeiros iranianos.

 

Pouco tempo depois, mais uma surpresa desagradável para os desígnios yankees relacionada aos atentados em petroleiros nas costas dos emirados.

 

Em vez da UEA, ecoando as prontas denúncias de The Donald, por a culpa no Irã, preferiu atribuir as responsabilidades, de forma extremamente vaga, a “atores estatais” que poderiam ser qualquer dos interessados em criar balbúrdia na região do golfo Pérsico, inclusive os próprios EUA. 

 

E o que é mais inquietante, o ministro do Exterior dos emirados, o sheik Abdula Bin Sayid al-Nahyan criticou os EUA por acusar o Irã do atentado, sem apresentar provas concretas (TRT, 30-07-2019).

 

Revela-se agora que, desde junho, diversos enviados dos emires tem visitado o Irã onde mantém conversações com autoridades locais para discutir questões regionais, como as guerras do Iêmen e da Síria, a segurança nas fronteiras marítimas e no espaço aéreos e o comércio entre os dois países.

 

Que não é desprezível. A União dos Emirados Árabes é o segundo maior importador do aço iraniano, um dos principais produtos de exportação de Teerã.

 

Em julho, foi dado um passo mais expressivo quando Hassein Dehghan, conselheiro de Khamenei, o Supremo Líder, anunciou que representantes do governo dos emirados, viriam ao Irã para conversações de paz , focado as contínuas tensões na região do Golfo Pérsico (Al Monitor, 26-07-2019)

 

Se não é um casamento, pelo menos pode ser considerar um noivado.

 

Tudo indica que, de fato, a UEA está pronta para fazer um movimento estratégico, retirando-se do grupo de nações que apoiam os EUA no esforço para destruir o regime iraniano.

 

Algo que parece ser real diante de informações da agência de notícias turcas, Anadolu, de que o sheik Mohamed al-Maktoum, primeiro ministro da União dos Emirados Árabes, propôs uma mudança da política de seu Estado em relação ao Irã.

 

Há motivos para essa reviravolta.

 

A escalada na região pode evoluir para uma guerra contra a república islâmica, na qual os emirados, persistindo na aliança com Trump, teriam muito a perder.

 

Numa situação assim, os emirados, vizinhos próximos do Irã, seriam alvos certos dos mísseis iranianos. Seria fácil atacarem suas grandes cidades, como Dubai e Abu Dhabi, além de suas enormes instalações petrolíferas e portuárias, ainda mais porque estão concentradas no pequeno território do seu país.

 

Se a aproximação Emirados Unidos -Irã de fato se concretizar, será um abalo na campanha americana contra a República Islâmica.

 

A união dos países do Golfo Pérsico contra Teerã, já desfalcada do Qatar e de Omã (atualmente, neutros), poderá se circunscrever à Arábia Saudita e a seu satélite, o Bahrain.

 

Aí, deixa de ter razão de ser.

 

Agora, se os sauditas aceitarem o convite de Rouhani e de Zarif (ministro do Exterior) para uma reunião em busca de entendimento entre a duas potências rivais, a paz no Oriente Médio ganharia um robusto impulso.

 

Há, é claro, o risco dessa ideia não passar de wishful thinking. Lembrando o grande poeta Calderon de la Barca, “a vida é um sonho e os sonhos, sonhos são.”

 

- Luiz Eça formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo.

 

05 / 08 / 19

http://www.olharomundo.com.br/o-rebanho-americano-em-vias-de-perder-uma-ovelha/

 

https://www.alainet.org/de/node/201399

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