Venezuela e as guerras híbridas na América Latina
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Venezuela no centro da ofensiva imperial
Em 29 de abril, a tentativa de gerar um levantamento militar para dar um golpe contra o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, fracassou. Quase dois meses antes, sob a justificativa da entrada de ajuda humanitária, já havia falhado a tentativa de forçar a travessia da fronteira venezuelana a partir da cidade colombiana de Cúcuta, que poderia permitir uma intervenção militar estrangeira. Entre um fato e outro, o governo estadunidense de Donald Trump aprofundou o cerco econômico, financeiro e militar, acentuando inclusive o bloqueio a Cuba, a apropriação de ativos venezuelanos no exterior e as ameaças de uso da força. Protestos e mobilizações foram promovidos pela oposição, embora sem o significado de outros momentos.
A Venezuela e o processo bolivariano tornaram-se, hoje, o terreno privilegiado de uma batalha central da ofensiva neoliberal e imperial que se iniciou na América Latina em 2015, ou ainda, em uma perspectiva mais ampla, desde o golpe em Honduras em 2009. Um renovado intervencionismo americano, que transformou a disputa em torno do presente e do futuro da Venezuela em um ponto central do confronto geopolítico global, ameaça abrir na região um cenário de guerra e destruição que já devastou outros povos da Ásia e da África nas últimas décadas. Essas ameaças mostram a variedade de repertórios de intervenção utilizados pelo governo dos EUA, por seus aliados e pelo poder econômico sobre o povo venezuelano nos últimos anos e, em uma perspectiva maior, desde o fracassado golpe de 2002 (Stedile, 2019).
Formas de ingerência imperial que alguns autores caracterizaram como “guerras híbridas”, uma combinação de guerra não convencional com a insurgência de atores da sociedade civil, tais como as chamadas “revoluções coloridas”, que abarcam assim forças estatais e uma variedade de atores não estatais (Korybko, 2018). Essas formas de ingerência também foram analisadas como a aplicação de uma “doutrina de dominação de espectro total”, ou seja, opera sobre todas as esferas da vida social e, particularmente, no domínio dos corpos, corações e mentes da população. Consideradas como “guerras assimétricas” ou “guerras difusas”, o que implica em intervenção e controle de todas as esferas de reprodução e a organização da vida em uma guerra não declarada, que não reconhece fronteiras e se difunde por todo o corpo social (Ceceña, 2013); também são chamadas de “guerras de quinta geração” (Borón, 2019).
Este dossiê do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, com o objetivo de contribuir para o debate sobre as formas de dominação que acompanham a ofensiva neoliberal e imperialista atualmente na América Latina, faz uma reflexão sobre as diferentes dimensões dessa guerra híbrida que recai sobre a Venezuela e as razões que a motivam, e também sobre outras experiências latino-americanas recentes onde estão sendo ou foram aplicadas táticas similares.
Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
Dossiê no17, Junho de 2019
https://www.thetricontinental.org/pt-pt/dossie-17-venezuela-e-as-guerras-hibridas-na-america-latina
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