Quando moinhos se tornam dragões!

23/10/2015
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Mas nós, os verdadeiros cavaleiros andantes, ao sol, ao frio, de noite ou de dia, não somente conhecemos os inimigos em pinturas, mas em suas próprias pessoas, e em todo o transe e ocasião os combatemos”.

 

Dom Quixote, Miguel de Cervantes

 

Não é preciso dizer que o título deste texto está baseado na maravilhosa obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, na qual o mestre espanhol utilizou um personagem romântico e sonhador como uma metáfora para criticar a sociedade na qual vivia.

 

Infelizmente, alguns conservadores literários, avessos à diferença e às mudanças criaram uma palavra inadequada para criticar aqueles que buscam transformar sonhos em realidades, “quixotesco”, como se fosse o personagem de Cervantes o errado. Mas afinal de contas, Dom Quixote era louco ou o único lúcido no seu mundo? Se observarmos os seus ensinamentos ao final escudeiro, Sancho, veremos a grandeza de suas frases, a profundidade dos seus sonhos, e que aquele triste cavaleiro, para muitos, patético, tinha o poder de enxergar a verdade por trás dos seus devaneios.

 

Quixote, como muitos sonhadores, queria mudar o mundo. Empunhava a sua lança com honra, cavalgava em seu cavalo com brioso orgulho, e era fiel aos seus princípios, companheiros e amores…

 

Relembrar Dom Quixote, num momento em que sonhos e utopias são apagados por uma sociedade cada vez mais materialista e distante de desejos de transformação, mesmo quando a violência das mudanças climáticas e uma severa tragédia da agenda econômica neoliberal batem à nossa porta todos os dias, é uma busca de aprendizado, de crescimento, de valorização daquilo que a humanidade apresenta de melhor, que é a sua capacidade de sonhar. Afinal, “mudar o mundo, meu amigo Sancho, não é loucura, não é utopia, é justiça”, como diria o cavaleiro de Cervantes.

 

Quando o pragmatismo doentio substitui a nossa capacidade de indignação contra a injustiça, perdemos a nossa essência de humanidade! Quando deixamos de valorizar o amor, e passamos a semear o ódio, destruímos todos os laços sociais que nos vinculam à possibilidade de um mundo melhor! Quando a solidariedade perde espaço para a competição, semeamos a discórdia e nossa destruição!

 

É por isso, que somente “encontro repouso na batalha”, e não vejo sentido em viver num mundo sem princípios, sem sonhos, de utopias… prefiro a magia que inebria a alma dos românticos à dureza dos corações esvaziados de emoções. Vejo o poder apenas como instrumento útil à transformação igualitária, jamais como um fim em si mesmo!

 

Pois como diria Dom Quixote: “quem perde seus bens perde muito; quem perde um amigo perde mais; mas quem perde a coragem perde tudo”!

 

- Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais.

 

Fuente: https://sustentabilidadeedemocracia.wordpress.com/2015/10/20/quando-moinhos-se-tornam-dragoes/

https://www.alainet.org/de/node/173192
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