Parábolas sobre pensamentos

31/08/2015
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Se queres paz, prepara-te para a guerra”, dizem os amantes da força. Eu diria o contrário, “se queres paz, prepara-te para a paz”. Nós devemos sempre focar nossos pensamentos e nossos sentimentos naquilo que realmente desejamos, e não construir “células de sofrimento para a nossa mente”.

 

A sociedade contemporânea nos impõe a ideia de que o sofrimento é pedagógico. É um instrumento de evolução, condição obrigatória de aceitação, mas é, na verdade, um mecanismo de destruição de mentes e da autoestima.

 

Penso, analisando os processos, a vida e os acontecimentos, que devemos estar sempre preparados para a felicidade. Podemos encontrar obstáculos, enfrentar dificuldades que parecem instransponíveis, mas a força para a superação das dificuldades está dentro de cada um de nós, especialmente quando reconhecemos que o mundo não é um espaço destinado apenas ao indivíduo, mas para uma coletividade.

 

Evidentemente, existem grandes limites para nossos desejos, nossos anseios e nossas vontades. Devemos respeitar o limite do outro, devemos respeitar o limite da natureza, o do tempo e o da vida. Apenas estes são limites reais e, mesmo assim, podem ser trabalhados por meio de diálogos.

 

O reconhecimento dos limites do outro passa obrigatoriamente por uma discussão aberta e franca sobre a verdade. Esconder a verdade, na maior parte das vezes, acaba gerando controvérsias, interpretações errôneas e, até, desrespeito. Mas a verdade é construída com coragem e com certeza. Jamais com dúvida, esta pode alimentar as nossas reflexões, ser dividida com os demais companheiros e amigos, mas os limites que dúvida e impõe são sempre tênues e pálidos.

 

Talvez por isso as relações humanas sejam tão complexas, pois o nosso reino de incertezas e maior do que as certezas. Apenas seres unilaterais e limitados sabem exatamente o que querem da vida e em definitivo, motivo pelo qual, muitas vezes, apelam para a arrogância e a intolerância. E a intolerância é a primeira ponte para o preconceito.

 

Desta forma, antes de dialogar com outros, também devemos dialogar com o “eu”, e esse já é um passo corajoso e gigante, pois tais diálogos podem derrubar paradigmas…

 

O limite imposto pela natureza também é real e, diferentemente do que ocorre com o limite social, é absoluto. Não podemos, de forma alguma, sobreviver se destruirmos o ambiente onde vivemos. A natureza também aceita dialogar com os seres humanos, mas quando tem os seus limites confrontados, reage com a sua força suprema, por meio de furacões, enchentes, secas severas, e todo o arsenal conhecido da “crise climática”.

 

O grande problema da confrontação dos limites da natureza são os desejos impostos, comportamentos egoísticos, e o desconhecimento de que vivemos num mundo onde existem outros indivíduos, humanos e não humanos, que também possuem o direito mais nobre e supremo, que é o direito à vida.

 

Enquanto os seres humanos não estiverem preparados para conviver com a natureza, continuarem de costas para a vida, com certeza a crise ecológica vai continuar batendo à nossa porta de forma cada vez mais constante e violenta.

 

Os limites do tempo, por mais incrível que possa parecer, também são mutáveis. A física quântica já reconhece a possibilidade de pequenas partículas viajarem no tempo. Por razão óbvias, não podemos mudar o passado, mas temos plenas condições de aperfeiçoar o futuro.

 

A conquista do tempo foi um dos sonhos que dominavam o mundo pré-revolução industrial pois acredita-se no seu potencial libertador. As máquinas vieram, a produção aumentou, até avançamos dramaticamente na qualidade da nossa tecnologia, mas a liberdade foi substituída por dominação. Por uma forma de dominação racional. Nos tornamos escravos do tempo!

 

Contudo, o tempo também permite diálogo franco e aberto, para tanto precisamos romper paradigmas e aceitar que é possível construir novas agendas. Assim, o tempo pode se tornar um limite transponível, superável e, ao contrário de inimigo silencioso, em verdadeiro instrumento de libertação!

 

E o limite da vida, é absoluto? Se pensarmos exclusivamente de forma egoística, talvez. Mas se observamos que as nossas obras podem contribuir para um diálogo permanente com as futuras gerações, com inequívoca certeza o tempo da vida passa a ser relativo. O que diriam os pássaros que lançam sementes se pensassem apenas no tempo da sua vida e, na maior parte das vezes, não podem saciar-se dos frutos que plantam? Ou das abelhas, que vivem menos de 1 semana, mas que permitem a reprodução de todas as espécies de plantas e ecossistemas, e ainda adoçam a nossa vida com o mel…

 

A vida, portanto, é um limite relativo. É um limite dialogável. Não acredite naquela frase “viva cada dia como se fosse o último”. O correto é “viver cada dia como se fosse o primeiro”. Desta forma, poderemos dialogar com o outro, com a natureza, com o tempo, e com a vida. Devemos estar permanentemente abertos ao aprendizado, e a pressa nos acontecimentos pode ser a nossa maior inimiga.

 

É por esta razão que devemos ser corajosos, acreditar que é possível transformar o nosso mundo em algo melhor. Então, “se queres ser forte, prepara-te para ter coragem”! “Se queres ser amado, prepara-te para amar”! “Se queres ser sábio, prepara-te para aprender e ensinar”! “Se queres ser feliz, sempre, e em todos os momentos, prepara-te para viver”…

 

- Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais.

 

Fuente: https://sustentabilidadeedemocracia.wordpress.com/2015/08/30/parabolas-sobre-pensamentos/

https://www.alainet.org/de/node/172054
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