A crise econômica Greco-Europeia: Quando o OXI fortalece a democracia

Assistimos pela primeira vez na história do parlamento europeu um grande debate político, demonstrativo que a economia não pode ser um simples instrumento monetário.

09/07/2015
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Os efeitos das medidas de austeridade afeta uma grande parcela da população bandera grecia
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O grande evento político hoje no parlamento europeu de Strasbourg foi a presença do Primeiro-Ministro Grego Alexis Tsipras. Nesta quarta-feira assistimos pela primeira vez na história do parlamento europeu um grande debate político, demonstrativo que a economia não pode ser um simples instrumento monetário, e, que a governança mundial não pode substituir uma governabilidade democrática em países soberanos. Nesta ocasião, o “agora” estava presente simbolicamente fazendo a junção das palavras gregas dêmos (o povo) et kratos (o poder). O que estava em jogo era o futuro da democracia na Europa. Por isso, a presença do Primeiro Ministro grego teve um sentido de forte simbolismo. Estaria ele trazendo para o Parlamento Europeu o resultado da voz do povo até então calado e humilhado? Estaria ele, com sua presença reforçando a legitimidade da governabilidade democrática ofuscada e fragilizada pela governança tecnocrática mundial? Na certa o debate revelou certas ambiguidades políticas na velha Europa.

 

De todo modo, o Primeiro-Ministro com muita habilidade traz a politica para o centro de decisões da União Europeia e, quem sabe provocará um debate sobre a falta de democratização de suas instâncias. Pode-se dizer que a crise econômica europeia é acima de tudo uma crise política, tendo em vista, que as políticas nacionais e da União europeia estão desconectadas do sentido da democracia. Estão completamente fora do ar e parecem que são autistas às demandas do povo. As instituições inventadas no século XIX parecem deste modo caducas. Hoje o conceito de democracia representativa é uma sequência de mal-entendidos, uma vez que o princípio deste sistema legitima somente a voz dos eleitos que em nome do povo, impõem-lhes ao silêncio. O pior, os governos eleitos pelo povo delegaram os poderes que lhes foram outorgados para uma governança mundial sem legitimidade democrática alguma, e, que vai se tornar a instância máxima do poder econômico que dominará sobre o político. Esta governança passa a decidir sobre o destino de um país e de seu povo. Por estas razões, o plebiscito grego tem um forte valor simbólico, ele deu voz aos povos europeus, despertou uma solidariedade entre os povos, reabilita Poder Politico. Uma boa lição para os governos europeus, hoje de maioria conservadora, e também, para as instâncias da governança mundial que queria lhes impor medidas de austeridade. Tais medidas visavam acima de tudo salvar o capitalismo financeiro, a falência dos bancos e não propor uma politica alternativa de desenvolvimento para a Grécia.

 

O que assistimos nesses últimos dias foi o retorno da comédia antiga que se caracterizava por intrigas na vida da Polis. Os adeptos do neoliberalismo europeu tentaram criar uma tragédia grega com péssimos atores e Atenas desta vez não lhes serviu de palco! Os tecnocratas da união europeia e chefs de governos europeus passaram a semana a prevenir Alexis Tsipras que uma vitória do “não” seria expô-lo a sérias consequências. Sem exagero, a maioria conservadora fez de tudo para que o povo grego rejeitasse o Referendo, e terminasse enfraquecendo e retirando o governo de Alexis Tsipras do poder. Os adeptos do plano de austeridade organizaram uma rede de mentiras com a colaboração da grande mídia europeia, pregaram a falência da Grécia em caso da resposta negativa. Obrigaram os bancos a fecharem, humilharam a classe média e os pobres, que diante de um calor infernal faziam filas diante dos bancos para retirar suas parcas economias. Ameaçaram a Grécia de expulsão da União europeia. Todavia, o efeito da pressão não surtiu efeito, o povo grego votou OIX, Não a mais de 61%!

 

Alexis Tsipras chegou ao parlamento europeu de Strasbourg com um imenso sorriso e foi aplaudido longamente. Primeiro falaram o presidente do Conselho europeu Donald Tusk, e Jean-Claude Juncker, o Presidente da Comissão europeia. Em seguida foi dada a palavra ao Primeiro Ministro Alexis Tsipras. No seu discurso perante o Parlamento Europeu ele diz que seu povo não votou para sair da União Europeia, os gregos votaram contra a austeridade imposta que vem causando pobreza e desemprego. Os efeitos das medidas de austeridade afeta uma grande parcela da população. Ele recorda que “10% dos gregos administra 56% da riqueza nacional. Ressalta que estes 10% foram os protegidos pelas medidas de austeridade”. Ele aponta para a responsabilidade dos governos anteriores, que deram “autorização” à fraude fiscal, nepotismo e corrupção. Assim, ele explica que as reformas de seu governo pretende realizar uma “justa repartição dos encargos”. Diz ainda que seu país não pode continuar servindo de cobaia aos experimentos da austeridade europeia. O plano de ajuda para a Grécia foi de 7,2 bilhões de Euros e esta soma não foi destinada ao seu governo que apenas está no poder depois de cinco meses, uma grande parte foi destinada para salvar os bancos gregos e europeus! Ele expõe o problema da insustentabilidade da dívida pública grega. E, diz ele, “estas soluções não pesam sobre os contribuintes europeus”. “Nós não queremos o ônus da dívida grega seja arcada pelos contribuintes europeus. Queremos um acordo que nos mostra um caminho para sair desta crise, com reformas e uma melhor repartição dos encargos”.

 

Vale ressaltar que diante da enorme pressão mediática a escolha do povo grego foi corajosa, ao contrario, o referendo não significava uma ruptura com a Europa, o que quer o governo de Alexis Tsipras é a volta aos princípios fundadores da Europa: a democracia, a solidariedade, o respeito mútuo e igualdade. Ou seja, nada mais que o respeito ao pleno direito de escolha de seu povo.

Paris, 8/7/2015
 

 

- Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil em Paris.

https://www.alainet.org/de/node/170970

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