As mudanças na conjuntura internacional

28/01/2015
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Desde 2008, vem se aprofundando a crise do modo capitalista de produção que emergiu na quebradeira provocada pelo sistema financeiro nos Estados Unidos. De lá para cá, os governos mais poderosos (G-2, G-8, G-12, G-20) realizaram diversas reuniões. Todos os anos os capitalistas se encontram em Davos (Suíça), para debater as saídas. Mas os problemas econômicos só se agravam. E agora, complementados com uma crise ambiental e de mudanças climáticas, que afeta a todos.
 
Nunca tivemos uma instabilidade tão grande no sistema econômico, agora internacionalizado. Nunca os governos foram tão incapazes de encontrar saídas. Porque o poder econômico das grandes empresas transnacionais e dos bancos é superior ao poder político dos governos, e a lógica do capital se impõe sobre a hipócrita democracia burguesa, que não consegue ter legitimidade sobre o povo.
 
Os Estados Unidos continuam mantendo suas altas taxas de lucro, através da manipulação do dólar como moeda internacional, que emitem sem nenhum controle e das agressões bélicas em diversas regiões do mundo, que representam novas encomendas à industrial americana.
 
Nos últimos meses, assistimos a mais uma jogada do império, articulado com a Arábia Saudita, forçando a queda do preço do petróleo, que antes beirava aos 120 dólares o barril, e agora, encontra-se estabilizado ao redor dos 50 dólares. Há muitos fatores em jogo e muitas análises tentando justificar, mas o certo é que os três países mais prejudicados pela queda do preço do petróleo são o Irã, a Rússia e a Venezuela. Todosadversários das políticas dos Estados Unidos.
 
A direita europeia, decadente e ambígua, usa sua OTAN para estimular os conflitos no Oriente Médio e criar mercado para seu armamento. Assim, conseguiu transformar o atentado ocorrido na sede do jornal satírico Charlie Hebdo, dia 7 de janeiro em Paris, numa grande mobilização da direita europeia. Uma esquizofrenia total, porque os que cometeram o atentado estariam vinculados e motivados com as forças do Estado islâmico, criado e financiados pela OTAN, pela política da França, da Arábia Saudita e da Turquia.
 
Porém, novos ventos começam a soprar por lá. No domingo passado, 25 de janeiro, finalmente o povo grego – cansado das enrolações do Banco Central Europeu e sua direita, deu um basta e elegeu, majoritariamente, o partido Syriza para governar o país, dando-lhe, inclusive, mais da metade de todos os deputados no parlamento.
 
 Esse resultado pode significar uma mudança de comportamento eleitoral europeu, sobretudo nos países da periferia da Europa, como Grécia, Espanha, Portugal, Itália e Turquia. Oxalá o partido do Syriza consiga organizar um governo progressista para aplicar um programa de mudanças populares, conforme prometeu na campanha. Toda a Europa está de olho neles!
 
Certamente essas eleições vão influenciar no comportamento do eleitorado espanhol nas eleições marcadas para novembro, onde o partido podemos, que representa o desejo de  mudanças sociais, está na frente nas pesquisas eleitorais.
 
Já na América Latina, enfrentamos uma conjuntura de maior equilibro. Os chamados governos progressistas enfrentam cada vez mais dificuldades econômicas e políticas para levar adiante seus programas neodesenvolvimentistas. Essas dificuldades advêm das imposições da dependência da economia latino-americana ao capital internacional. E os efeitos negativos podem ser percebidos mais nitidamente mesmo no processo bolivariano, com a queda do preço do petróleo e a crise de abastecimento, inflação e taxa de câmbio venezuelano.
 
Na maioria dos nossos países, apesar dos limites pífios das mudanças propostas e positivas realizadas pelos governos progressistas, a direita enclausurada em seus privilégios, se rearticula e tenta impedir qualquer mudança real. Para isso, se entrincheirou nos espaços onde tem hegemonia absoluta, como os meios de comunicação de massa, o Congresso e o Poder Judiciário. Assim, vemos todos os dias um comportamento até fascista das elites brasileiras, paraguaias, argentinas, mexicanas, para impedir qualquer processo de mudanças.
 
Os tempos anunciam um longo período de agudização da luta de classes em todo o continente e de retomada da ofensiva política por parte da direita, em cada país.
 
Em meio a tudo isso, um enigma a ser compreendido: depois de tantos anos de bloqueio econômico e político, o acordo EUA-Cuba poderá trazer benefícios ao povo cubano, porém, poderá também colocar maiores desafios ao processo de construção de uma sociedade igualitária na ilha. As opiniões e preocupações se dividem. Só a história nos dirá qual será o seu alcance social e consequências políticas.
 
Portanto, para a esquerda em geral, só há um caminho: colocar suas energias na conscientização e organização da classe trabalhadora, para enfrentar essa conjuntura tão complexa.
 
- Editorial da edição 620 do jornal Brasil de Fato
 
28/01/2015
https://www.alainet.org/de/node/167154

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