A luta de classes na América Latina

17/09/2012
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Os movimentos sociais articulados em diferentes redes continentais têm feito uma leitura analítica de que se enfrentam na América Latina três projetos de sociedade. Esses projetos não estão escritos, nem são propagados, mas são explicitados de forma tácita pelos interesses econômicos e pelas classes sociais que articulam ao seu entorno.            
 
Há um primeiro projeto, que é defendido pelo capital estadunidense, de caráter imperialista, que pretende seguir subordinando nosso continente a seus interesses de acumulação de riquezas, através do controle dos recursos naturais, mercados e governos. Isso ficava mais explícito quando articularam o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), mas foram derrotados em 2005. Por isso, agora, reaparecem em outras frentes.                 
 
Há um segundo projeto, que aglutina as burguesias locais que possuem contradições pontuais com o capital estrangeiro e que gostariam de ter uma margem maior no botim da mais-valia da riqueza continental. É um projeto de integração econômica capitalista. E, na maior parte dos casos são empresas latino-americanas que usam os recursos públicos dos governos e/ou bancos como o BNDES para financiar sua expansão pelo continente.   
 
E há um terceiro projeto, que é a proposta de uma integração popular, que garantisse os interesses do povo e sua soberania sobre os recursos naturais e buscasse saídas conjuntas para os problemas socioeconômicos, similares que enfrentamos em todos os países. Esse projeto, de natureza anti-imperialista e antineoliberal, se traduz na expressão da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), e aglutina por hora, alguns governos mais progressistas, mas também forças populares e da esquerda de todo continente. Aparece nas propostas de integração econômica e políticas governamentais como o Banco do sul, a moeda do sucre, a Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac), a Telesur, a Rádio Sur. Também aparece em programas sociais como a Escola Latinoamericana de Medicina (Elam), o programa de erradicação do analfabetismo e mil e uma formas de integração popular e cultural.  
 
A luta de classes no campo econômico, político e ideológico se dá então, ao redor desses três projetos, que se enfrentam a todo o momento e tratam de acumular forças e ir derrotando as outras alternativas. Às vezes se unem um com outro, o que deixa o quadro mais complexo. Em geral, nas eleições presidenciais essas disputas ficam mais claras. Recentemente viu-se como os Estados Unidos moveram suas pedras para garantir a vitória de seu candidato no México. Em junho, impuseram um golpe institucional no Paraguai, para implodir o Mercosul e garantir os interesses de suas empresas (Monsanto, mineradora Rio Tinto).  
 
Já a entrada da Venezuela no Mercosul, ampliando sua abrangência, foi uma vitória da soma de interesses dos projeto dois e da Alba. A concessão de asilo político a Julian Assange no Equador foi uma derrota para os interesses dos Estados Unidos.     
 
Nas próximas semanas estaremos enfrentando também duas batalhas importantes em torno desses projetos. A primeira será o processo das eleições na Venezuela. A provável e necessária vitória de Chávez consolida o projeto da Alba e representa uma derrota histórica para os interesses dos Estados Unidos. Manterá uma aliança da Venezuela e dos países da Alba com o projeto dois, ao redor do Mercosul, Unasul e Celac. Por isso, é muito importante a mobilização das forças populares brasileiras que apoiam a reeleição de Chávez para que participem, se mobilizem e expliquem para o povo brasileiro o que está acontecendo e suas consequências para o Brasil e para o continente.  
 
A burguesia brasileira e seus meios de comunicação, como a Globo, Estadão, Veja e Folha, já estão enfileirados com os interesses dos Estados Unidos apoiando descaradamente o direitista Capriles. Todos os dias fazem – de forma articulada com a direita de todo o continente – campanha contra Chávez.    
 
A segunda batalha importante é o processo de diálogo de paz que se inicia na Colômbia, entre o governo Santos e a insurgência armada. Esse processo, quando consolidado, será uma derrota para os Estados Unidos e uma vitória do projeto Alba e das forças progressistas de todo o continente, para que se encontrem soluções políticas para os problemas sociais estruturais da sociedade colombiana, que são semelhantes em todo continente.    
 
Os Estados Unidos sempre alimentaram o conflito, a guerra, vendiam armas e patrocinavam a violência policial (juntamente com o governo de Israel) que dizimou milhares de lutadores sociais colombianos, em nome de uma guerra suja, injustificável. Eles sempre usaram o narcotráfico como desculpa, mas são os maiores consumidores mundiais de cocaína e dão as garantias em seus bancos para os depósitos de todos os cartéis que dominam o comércio da droga.            
 
Com a derrota de Uribe, que é o legitimo representante do narcotráfico e dos Estados Unidos, o novo governo Santos, representando uma burguesia de Bogotá, mais lúcida, espera criar um clima político mais propício para que a acumulação de capital se dê em torno da produção e do comércio e não de negócios escusos.           
 
A paz na Colômbia geraria um clima político favorável para o avanço das forças populares e para recolocar a luta política em bases civilizatórias.          
 
Esperamos que todas as forças sociais e populares do continente se manifestem e se engajem no apoio a esse processo de diálogo pela paz, que recém se inicia em Havana e Oslo, mas que certamente trará consequências positivas para todo o povo da Colômbia e da região. 
 
Editorial ed. 498
 
https://www.alainet.org/de/node/161069?language=es
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