A última cruzada civilizatória
05/11/2011
- Opinión
Quando os desbravadores europeus, particularmente os portugueses, espanhóis e ingleses chegaram a essa terra desconhecida, que hoje chamamos de América, estavam em procura de novas terras, umas vez que a velha Europa, não conseguia mais abrigar seus descendentes. Por sua vez, o solo europeu estava esgotado, por milênios de exploração de forma irresponsável, cultura esta, que se pratica hoje na América. A grande surpresa foi quando deram de cara com outros seres humanos, numa completa paz civilizatória, com apenas desavenças e intriguinhas de vizinhança, que muitas vezes, quando se chegava a isto, era disputada com pequenas lanças ou flechinhas. É claro prevalecia a voz do mais forte.
Os europeus (portugueses, espanhóis, depois ingleses e holandeses) que chegaram, tiveram que fundear seus navios fora da costa, por não haverem portos, tudo era virgem. Os navios eram menores dos que os de hoje que fazem pequenos passeios lúdicos de turismo, para deleite da criançada com simulações de piratas. Desta forma desciam em pequenas canoas para chegarem até as margens. De certa maneira foram bem recebidos pelos autóctones, pelas diferenças culturais que os visitantes, visível e fascinantemente ofereciam.
Para época, estes povos estrangeiros que se auto-intitulavam de civilizados e os outros selvagem no sentido pejorativo, realmente traziam junto na bagagem, os frutos de sua alta tecnologia, espelhinhos, facões, tesouras, pratos, talheres, pentes, bacias, sabões e outros pequenos utensílios domésticos, e o mais fantástico, o uso da roda como meio de transporte, totalmente desconhecidos pelos índios anfitriões. Claro que essas novidades fascinavam, deslumbrava e rendia qualquer um, não só os homens pelas novidades e utilidades, como também as mulheres na pureza de suas vaidades.
Como estavam desembarcando em terras desconhecidas, iam com todo seu aparato de defesa que eram suas armas de fogo e como retaguarda os canhões dentro dos navios apontados para costa. Tudo isto para intimidá-los num eventual confronto. Não se ia para um encontro de paz, mas sim de conquistas.
Infelizmente, nossos índios americanos, não sabiam que os presentes doados teriam um preço alto a ser pago pela nova escravidão que viria depois, através da mão invisível e poderosa criado por Adam Smith, o “deus mercado”. Os desbravadores estavam mais interessados no ouro e na prata, onde na velha Europa eram moedas/mercadorias de trocas. Este maná econômico, nossos indiozinhos usavam apenas como ornamentos, ostentação de poder e na manifestação de suas visões de transcendência, pela beleza e brilho que esses metais ofereciam. E era só. A abundância de terras virgens para os novos exploradores eram também um excelente manancial de plantio para atender as necessidades européias, onde nisto se destacava a cana de açúcar.
Quinhentos anos depois a história se repete, chegamos ao terceiro milênio e novamente os “civilizados ocidentais”, estão em apuros com seus espaços, agora não mais físicos, mas econômicos. Há necessidade de conquistar novos mercados.
Os navios que eram atracados na costa da América com seus canhõesinhos, estão atracando agora nos mares que rodeiam a África e a Ásia, verdadeiros cavalos de Tróia com o nome de porta aviões, recheados no seu ventre, com aviões, mísseis e canhões de alto poder destrutivo e intimidatório. Os atrativos, que na época se oferecia aos autóctones, para conquistar sua simpatia, e depois subjugá-los, hoje são celulares, DVD, vídeo games, computadores, cosméticos para as jovens que sempre foram vaidosas e toda uma indústria de consumo e entretenimento que está por trás. O ouro que se estava interessado no passado, hoje ele é preto, viscoso, tem um novo nome, petróleo, moeda de troca da atual civilização.
Assim, essa civilização avançada pela sua tecnologia, toda ela desenvolvida pelo peso do seu espírito de agressividade imperialista, deixa demonstrar que nós (povos americanos) somos no fundo, descendentes de povos bárbaros dos tempos grego/romanos. Com toda a oratória cristã, este DNA está longe de ser extirpado.
Os organismos internacionais de todos os matizes políticos, econômicos, financeiros, militares criados e, até muitas ONG´s com a cruz da paz, não são mais que fachadas diplomáticas, para justificarem a última cruzada da chamada civilização ocidental.
Sergio Sebold – Economista e Professor Independente
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