Na beira do colapso econômico

14/08/2011
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Quando se fala em colapso no caso econômico, não se quer dizer que ele terá o aspecto apocalíptico do Armageddon. Apenas que serão atingidos diretamente e indiretamente todas as pessoas neste planeta terra, dado o nível de globalização que hoje experimentamos. Os efeitos se sentirão na sociedade inteira, mas afetará as circunstâncias econômicas de cada um. As pessoas, que tiverem uma vida austera, de economia, reservas, não endividadas, ou não dependam diretamente do setor secundário e terciário da economia, se sairão melhor neste momento. Neste último caso serão aqueles que lidam diretamente, com a economia agrícola. É simples a lógica, a terra é generosa, dela tira-se tudo o que se necessita.
 
Feito estas considerações, adentrando no cenário da crise atual, estamos vivenciando uma crise de acomodação, ajustamento de comportamentos culturais ultrapassados, para uma nova era. Toda a mudança é uma crise de sofrimentos. Os efeitos financeiros e econômicos serão em cascata e ninguém sairá ileso. A medida da redução da atividade econômica, pela falência de muitas empresas, desemprego em massa, cairá a arrecadação, sem arrecadação, não haverá novos investimentos, sucateamento dos serviços públicos e o pior e mais dramático, redução, atrasos e até cancelamento das aposentadorias. Nestas circunstâncias, cada país em função de sua situação adotará medidas para sua salvaguarda. Este é o preço da globalização. Para o bem ou para o mal ela se faz sentir dentro da nossa própria casa. Exemplificando, minha esposa comprou via Internet, um jogo de faqueiro, onde todos os dados eram na nossa língua pátria a um preço convidativo. Ao receber a encomenda, num canto bem discreto da embalagem lá estava a origem real do produto: Made in China. Na nossa santa ingenuidade estávamos pensando num produto nosso, com contribuição aos salários de nossos irmãos brasileiros. Ledo engano. Assim começa a desindustrialização.
 
A política de manipulação cambial chinesa é do tipo fixo, frente ao dólar. Isto é, fixado pelas autoridades monetárias, que ao longo do tempo vão sendo ajustada a medida da necessidade de equilíbrio de seu Balanço de Pagamentos, quando a cartilha neoliberal do jogo do mercado livre, diz que o câmbio deve ser flutuante, como o fazem obediente e praticamente todos os países do mundo, inclusive o Brasil.
 
Diante deste quadro, a cada mês as coisas estão se agravando para dezenas de países, enquanto a China lucra com seu câmbio peculiar, custos baixos de mão de obra e outros incentivos para suas exportações, inundando o mundo. Pelo seu lado, os americanos, como não mais podem competir, a melhor estratégia é unir-se ao inimigo. A China ganhou de vez um aliado que finge reclamar contra Yuan, mas que aplaude por baixo da mesa e começa colecionar ganhos comerciais e especulativos. 
 
A deterioração dos preços dos produtos industrializados, mais particularmente os eletrônicos, pelos preços aviltados oriundos do leste da Ásia, está levando um lendo estrangulamento da cadeia industrial do mundo ocidental. Por outro lado a política, pela terceirização ou mesmo montagem dos produtos originários daquela região, mudando apenas o nome, tendo por trás uma publicidade massiva, está desviando toda a indústria, para aqueles países, estrangulando as economias  emergentes. Em outros termos, existem empreendimentos de grandes corporações ocidentais, que se aproveitam da mão de obra barata oferecida particularmente pela China, rotulam com nova roupagem e vendem para o resto do mundo, fazendo uma concorrência impossível de se vencer, e por efeito acumulando lucros estratosféricos.     
 
Nesta dificuldade de competição o Brasil se acomoda nas comodities (minérios, produtos agrícolas in natura: soja, café, milho etc.), que por enquanto os preços estão em alta, permitindo um saldo favorável. Mas quando este ciclo fechar, com recessão a nossa porta, e a um câmbio hipervalorizado pela invasão de dólares, não nos permitirá mais exportar produtos industrializados de alto valor agregado. Neste momento nossa fragilidade será exposta pela dependência de um único setor. Assim nosso crescimento exportador vai se tornando mais e mais dependente das comodities, levando a nossa total desindustrialização. Pelo espelho da história, não teremos a Invasão Holandesa, mas sim a Doença Holandesa, a longo prazo fatal.
 
Sergio Sebold – Economista e Professor de Pós-Graduação da UNIASSELVI – Blumenau – SC
https://www.alainet.org/de/node/151859?language=es

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